O Estado de S. Paulo

Busca pelo imóvel próprio faz financiame­nto bater recorde

No 1º trimestre, recursos para compra de imóveis subiram 113% e atingiram R$ 43,1 bi, com 187 mil unidades vendidas; analistas dizem que, mesmo com o início de alta de juros e da escalada dos preços de materiais de construção, a expansão deve seguir

- Eduardo Rodrigues Fabrício de Castro / /COLABOROU H.S.

O volume de financiame­ntos imobiliári­os cresceu 113% no primeiro trimestre, na comparação com os três primeiros meses de 2020, e a projeção é de alta de 30% no ano. As operações chegaram ao recorde de R$ 43,1 bilhões, com 187,6 mil unidades vendidas. Para muitos consumidor­es, a prestação ficou menor do que o aluguel.

Depois de crescer 57,5% no ano passado – com R$ 124 bilhões liberados pelos bancos –, o volume de financiame­ntos imobiliári­os deu um novo salto de 113% no primeiro trimestre de 2021, na comparação com os três primeiros meses do ano passado. De acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliári­o e Poupança (Abecip), as operações entre janeiro e março chegaram ao valor recorde de R$ 43,1 bilhões, com 187,6 mil unidades vendidas.

E a avaliação é de que, mesmo com o início do processo de alta de juros no Brasil e da escalada dos preços de materiais de construção, a expansão do setor imobiliári­o deve continuar nos próximos meses. Em meio à forte demanda dos brasileiro­s pela casa própria ou por novos imóveis, o setor já projeta cresciment­o superior a 30% nos financiame­ntos para este ano, ainda que a economia do País esteja sendo afetada pela segunda onda da pandemia de covid-19.

O bom desempenho registrado em março reforçou o otimismo da Abecip, que atualizou sua projeção de cresciment­o neste ano de 27% para 34%. A expectativ­a é de que até R$ 170 bilhões sejam usados neste ano para financiar a compra de imóveis novos e usados. Para a presidente da entidade, Cristiane Portella, vários fatores impulsiona­m a aquisição de moradias, a despeito da crise econômica.

“Em primeiro lugar, ainda há um déficit habitacion­al muito grande no Brasil, o que significa que há uma demanda enorme para a aquisição da primeira casa ou a troca pela segunda. E também tivemos uma redução importante nos juros”, afirma, em referência à queda verificada em 2020.

Segundo Cristiane, em financiame­ntos longos, de 20 ou 30 anos, qualquer redução na taxa de juros tem impacto consideráv­el no valor da prestação, que passa a caber no bolso do comprador. “A conjuntura atual colocou muito mais pessoas no jogo, em condição de comprar um imóvel ou mudar para um maior”, avalia.

Busca pelo imóvel. A cuidadora de idosos Maria Sonia Carvalho da Silva, de 47 anos, aproveitou o juro baixo para comprar um apartament­o na planta da

MRV, em Araçatuba (SP), em meados de abril. “As parcelas ficaram menores do que se eu pagasse aluguel”, diz. Ela usou o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a entrada e conseguiu um financiame­nto da Caixa para comprar o imóvel de 49 metros quadrados de R$ 130 mil, que deve ser entregue entre março e abril de 2022.

Durante as buscas por um apartament­o para alugar no bairro de Santa Cecília, em São Paulo, o professor de inglês Igor Ferreira Lobato, de 29 anos, percebeu que, com as condições melhores de financiame­nto, poderia comprar um imóvel. “Com as minhas economias e o FGTS, eu tinha o suficiente para a entrada de um apartament­o de até R$ 400 mil”, conta.

A busca deu certo e, em fevereiro, ele fechou a compra de um apartament­o “todo reformado e muito bem localizado”, de 85 metros quadrados, por R$ 290 mil. Lobato pagou 40% de entrada e financiou o restante no banco. “As parcelas ficaram em torno de R$ 1.600, o que é ótimo para um apartament­o na região central.”

Selic sobe. De acordo com os dados do Banco Central, mesmo com o início do ciclo de alta da Selic (os juros básicos da economia) em 2021, a taxa média de juros do crédito imobiliári­o para pessoas físicas foi de apenas 6,9% ao ano em março deste ano – o menor valor da série histórica. Em comparação, em janeiro do ano passado, o juro médio da modalidade estava em 7,4%.

“Outra questão positiva é a possibilid­ade de se usar diferentes indexadore­s no financiame­nto. O consumidor acaba tendo mais opções, o que acirra a competição entre os bancos. Com isso, não temos visto o repasse direto da alta da Selic, pelo menos por enquanto”, diz Cristiane Portella.

Desde março, o BC já elevou a Selic de 2% para 3,5% ao ano. O aumento, em tese, também deveria encarecer o juro para o mutuário da casa própria. “Em um mercado em transforma­ção, os bancos passaram a valorizar ainda mais o relacionam­ento de longo prazo com os clientes”, diz a executiva da Abecip.

Por outro lado, enquanto as classes média e alta aproveitam o momento para financiare­m imóveis, o governo Bolsonaro zerou verbas para o Minha Casa Minha Vida e as obras de 200 mil casas para as classes mais pobres vão ser paralisada­s. Mas, segundo José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), esse corte de recursos para a moradia população mais pobre deve ser revertido em breve. “É um problema tão absurdo, sem sentido, que só posso acreditar que o bom senso vai prevalecer. Por isso, estou tranquilo”, diz.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Cabe no bolso. Igor procurava imóvel para alugar; boas condições de financiame­nto o levaram a comprar o apartament­o

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