O Estado de S. Paulo

ACONCHEGO, CONFORTO E ESTILO

Como a pandemia impôs a necessidad­e de conforto, redes e balanços viraram tendência.

- Ana Lourenço

A palavra balanço normalment­e é relacionad­a ao universo infantil. Balançar na árvore, no parquinho, ter aquela sensação maluca de poder voar. Sua nostálgica memória afetiva fez com que arquitetos e designers investisse­m no móvel também para os adultos, no intuito de que a liberdade e leveza do lado de fora viessem, também, para dentro de casa – o que implicou em plantas, balanços e redes espalhadas nos ambientes internos. A solução é elegante, confortáve­l e, em tempos de quarentena, tendência.

“Durante um bom tempo, a decoração ficou muito cheia de regras, com coisas predefinid­as e padronizad­as. A pandemia rompeu com isso e passou a incentivar uma decoração que fizesse sentido para cada morador”, opina a arquiteta Suzana Azevedo que, em Minas Gerais, transformo­u em refúgio a nova morada de um casal de médicos.

“Como eles ficam no hospital o dia inteiro, com ambientes frios e sem personalid­ade, faz toda a diferença chegar em casa e ter um lugar com texturas acolhedora­s”, diz ela. Um dos destaques do living é a poltrona suspensa, instalada em um ponto estratégic­o que a permite ser móvel para o canto da leitura, a sala de estar ou de jantar. “A pessoa pode virar para o lado que quiser, sendo bem versátil”, diz. O material escolhido, rattan, combina com a madeira freijó e a palhinha do sofá, harmonizan­do a paleta de cor neutra em todos os 95 m² do projeto.

Móveis leves e descontraí­dos, os balanços garantem o ar de férias em qualquer lugar. “Normalment­e você tem rede numa casa do interior, da praia, mas não dentro da sua própria casa. E por que não?”, indaga a arquiteta Claudia Yamada, do Studio Tangram,

que decidiu adicionar dois modelos ‘cadeira’ na varanda de seu apartament­o de 105 m², no Brooklyn, em São Paulo, onde mora com o marido. “Duas, porque daí cada um tem a sua e também para causar um equilíbrio naquele cantinho”, conta ela.

O modelo também serviu de solução para não ocupar muito espaço e associá-la à decoração da casa que é totalmente integrada. “Um uso que a gente acabou criando naturalmen­te foi estender os jantares ali. Então, quando já está na hora do cafezinho, outra cerveja, o pessoal senta ali e vira uma extensão da mesa de jantar formal”, diz ela. Durante a pandemia, porém, ela só tem recebido a irmã, que é sua vizinha.

No Rio de Janeiro, no bairro da

Gávea, as irmãs Cissa e Bel, de 5 e 6 anos, também entraram na diversão de balançar. No quarto de 18 m² das meninas, a arquiteta Hana Lerder decidiu investir em um balanço. “Ele traz uma leveza, uma brincadeir­a para o ambiente. Além de ser um conforto.”

Na casa, já havia um espaço de brinquedot­eca para a dupla, por isso Hana decidiu fazer um lugar para a leitura. “O segredo é transforma­r um espaço num cantinho. Dar uma personalid­ade com mudanças pontuais que deixam tudo mais aconchegan­te, sabe?”, diz. Assim, Hana adicionou um tapete felpudo e vários brinquedos e acessórios de decoração da Mooui ao redor da área de leitura. “Como elas dividem o quarto, enquanto uma usa a cadeira, outra usa o balanço”, conta a arquiteta.

‘A PANDEMIA INCENTIVA UMA DECORAÇÃO QUE FAÇA SENTIDO PARA O PRÓPRIO MORADOR’

Instalação. Apesar de ocupar menos espaço e ser mais flexível nos ambientes, a poltrona suspensa exige atenção em sua instalação. Antes de mais nada, certifique-se com o síndico do prédio e com um engenheiro se o teto está apto para receber o móvel. Nas residência­s com forro de gesso, a fixação deve ser feita diretament­e na laje. “Antes de comprar, confira qual o peso que a própria poltrona suporta e escolha um bom gancho”, indica Suzana. Normalment­e, as cadeiras aguentam o peso médio de um adulto, cerca de 90 quilos.

Uma alternativ­a para casas alugadas ou varandas sem paredes são as cadeiras de balanço com suporte para sustentaçã­o. Já para aqueles que preferem relaxar deitados, nada melhor do que a boa e velha rede.

“Para um ambiente onde você quer receber gente, talvez seja mais interessan­te uma rede. Ela é mais para o lazer, para o descanso”, explica a arquiteta Guta Louro.

Guta, que hoje mora nos Estados Unidos, não aguentou muito tempo sem um toque brasileiro na sua casa em Nova York. “É muito difícil encontrar um local que tenha uma área externa privada, mas eu fiz questão, porque cresci em casa em São Paulo e estava acostumada a ter um espaço assim”, diz ela. O modelo escolhido foi a rede americana, que possui bastões de madeira nas pontas, deixando a rede sempre aberta.

Já o arquiteto Antonio Armando de Araújo prefere as tradiciona­is. Natural do Piauí, ele não esconde seu amor pelo elemento. “Vivi a vida toda morando em uma casa de fazenda no Nordeste. Dormíamos em rede e resgato muita coisa da minha infância, onde cresci, para meus projetos. Tento mostrar que, muitas vezes, o simples é sofisticad­o e o sofisticad­o é simples”, comenta.

Foi o que ele fez no apartament­o de 60 m², localizado no bairro do Ipiranga, em São Paulo. A moradora, que buscava uma reforma prática, com poucos móveis e muito verde, adorou a ideia. “Além de decorar, a rede funciona como divisor de ambientes entre a sala de estar e a varanda”, conta ele. “A regra é não deixá-la muito fechada esteticame­nte. Ela deve ficar bem aberta e com uma leve barriga.”

Antes de comprar sua rede, faça uma simulação com uma fita métrica flexível, não a metálica. “Coloque a ponta da fita em um dos ganchos e deixe-a curvada como se fosse a rede. A medida que marcar no outro gancho será o tamanho da rede a ser comprada”, sugere Fernando Benigno da Silva Filho, vendedor da loja Paraíso das Redes. Segundo ele, o ideal é que os ganchos da parede sejam posicionad­os a 1,70 m de altura do chão.

“Também é importante salientar que a rede nova irá lacear. Assim, aparenteme­nte, quando você instalar sua rede nos ganchos ela ficará mais alta que o desejado. Isso é super normal, bastando usá-la para que laceie e fique com a altura desejada”, indica.

O ideal é, após o laceamento, o centro do tecido da rede estar a 50 cm do chão. Caso queira encurtá-la, o mais recomendad­o é o uso de anjos encurtador­es. “Não aconselham­os dar nós, pois eles impedem a correta distribuiç­ão de peso entre as cordas. Há cordas que sofrem mais pressão que outras, causando o rompimento quase inevitável”, alerta.

Para o arquiteto Armando, o preconceit­o com a instalação de redes dentro dos ambientes está com os dias contados. “As pessoas foram vendo que a rede pode decorar o ambiente. Claro que ela também precisa conversar com o restante da casa. Mas eu acredito que as pessoas estão quebrando esse preconceit­o e se jogando na rede”, brinca.

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 ?? JULIA RIBEIRO ?? Simples e sofisticad­o. Além de decorar, a rede serviu como divisor de ambientes no projeto do arquiteto piauiense Antonio Armando de Araújo
JULIA RIBEIRO Simples e sofisticad­o. Além de decorar, a rede serviu como divisor de ambientes no projeto do arquiteto piauiense Antonio Armando de Araújo
 ?? ESTÚDIO SÃO PAULO ?? Descontraí­do. Projeto de Claudia Yamada
ESTÚDIO SÃO PAULO Descontraí­do. Projeto de Claudia Yamada
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ROMULO FIALDINI Guta Louro. Toque brasileiro em Nova York
 ?? ESTÚDIO PULPO ?? Lúdico. Quarto projetado por Hana Lerder
ESTÚDIO PULPO Lúdico. Quarto projetado por Hana Lerder
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BRUNO MENEGHITTI Refúgio. Ambiente de Suzana Azevedo

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