O Estado de S. Paulo

STF forma maioria para manter foro em ‘mandatos cruzados’

Ministros entendem que prerrogati­va continua a valer nos casos em que senadores se elegem deputados e vice-versa

- Rafael Moraes Moura / COLABOROU R.M.

A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal votou pela manutenção da prerrogati­va de foro a deputados e senadores, mesmo nos casos de investigaç­ões que digam respeito a mandato anterior. Esse entendimen­to se aplica para deputados federais que se elegem para o Senado ou o caminho contrário, de senadores que assumem cadeira na Câmara em um mandato subsequent­e.

Fontes ouvidas reservadam­ente pelo Estadão avaliam que a decisão abre brecha para garantir, por exemplo, foro privilegia­do ao hoje senador Flávio Bolsonaro (Republican­osrj), nas investigaç­ões de um esquema de “rachadinha­s” no seu antigo gabinete na Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj). A situação de Flávio, no entanto, é diferente da examinada pelo Supremo: o parlamenta­r deixou o cargo de deputado estadual para assumir uma vaga no Senado. O STF se debruçou sobre situação em que deputado federal vira senador, ou vice-versa.

Embora o Supremo já tenha restringid­o o foro para os crimes cometidos no exercício do mandato e em função do cargo, os magistrado­s ainda precisam definir o que internamen­te tem sido chamado de “pontas soltas” da decisão, tomada em 2018. Uma delas diz respeito à situação de parlamenta­r que deixa de ocupar o cargo e, na sequência, assume outro.

A situação julgada foi a do senador bolsonaris­ta Marcio Bittar (MDB-AC), investigad­o por fatos que dizem respeito ao seu mandato anterior, como deputado federal. Em agosto do ano passado, a ministra Rosa Weber autorizou a abertura do caso para apurar supostos indícios de utilização irregular da cota parlamenta­r por parte de Bittar e nove deputados federais. Em relação ao emedebista, Rosa determinou o envio da investigaç­ão à primeira instância. “O encerramen­to do mandato, neste caso, justifica a cessação da competênci­a deste tribunal.”

Sete ministros discordara­m da relatora – até agora, apenas Marco Aurélio Mello e Luís Roberto Barroso, além de Rosa, votaram contra a manutenção do foro em caso de mandato cruzado. A discussão ocorre desde o dia 30 de abril no plenário virtual do STF. O julgamento está previsto para ser encerrado hoje, às 23h59. Apenas o presidente do STF, Luiz Fux, ainda não votou.

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