O Estado de S. Paulo

Religião, política e frustração popular marcam os conflitos

- Miriam Berger /

Oprimeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, luta por sua sobrevivên­cia política após quatro impasses eleitorais que deixaram Israel de pernas para o ar. Ele está à frente de um governo provisório e responde a acusações de corrupção, enquanto os partidos da oposição negociam a formação de um novo governo. O premiê aliouse a políticos de extrema direita. Entre eles, Itamar Ben-gvir, líder do partido extremista Poder Judaico, que tem participad­o dos confrontos no bairro de Sheikh Jarrah e em torno do Monte do Templo, em Jerusalém. Os críticos do premiê dizem que a tensão, em parte, escalou livremente porque ele estava distraído com outros assuntos.

Para os palestinos, vários acontecime­ntos alimentara­m as frustraçõe­s. Em abril, o presidente, Mahmoud Abbas, líder da Autoridade Palestina (AP), que controla algumas partes da Cisjordâni­a, adiou o que deveria ser a primeira eleição palestina em 15 anos. Em teoria, a votação aconteceri­a na Cisjordâni­a, ocupada por Israel, na Faixa de Gaza e em Jerusalém Oriental.

No entanto, Abbas está rompido com o Hamas, que governa Gaza, e Israel proibiu a Autoridade Palestina de operar em Jerusalém Oriental, onde a maioria dos palestinos não são cidadãos israelense­s. Abbas, que vem perdendo apoio popular, culpou Israel pelo cancelamen­to das eleições, dizendo que não havia acordo para criar um mecanismo para que os habitantes de Jerusalém Oriental votassem. Nesse cenário, as restrições israelense­s ao movimento de pessoas no Portão de Damasco e na mesquita de Alaqsa, terceiro local mais sagrado do Islã, tornaram-se pontos de atrito, pois muitos palestinos se reúnem nesses locais durante o mês sagrado do islamismo, o Ramadã.

O odor de “água podre”, espalhado pelas forças de segurança israelense­s, tomou conta de partes de Jerusalém Oriental. Conflitos em torno da mesquita de Al-aqsa sempre ocorreram com frequência, provocando tensões no Oriente Médio. Mas, nos últimos dias, a apreensão também aumentou em razão da batalha legal em Sheikh Jarrah, onde um grupo de judeus pretende despejar famílias palestinas das casas em que elas viveram por décadas.

A decisão final da Suprema Corte estava marcada para ontem, mas foi adiada pelo procurador-geral de Israel, em um esforço para diminuir as tensões. Neste cenário entra também o Hamas, que travou três guerras com Israel e vem procurando preencher o vácuo político. O grupo enfrenta seus próprios problemas em Gaza, que é assolada por crises após 14 anos de isolamento imposto por israelense­s e egípcios. Na região, tudo pode mudar muito rapidament­e. Embora muitos temam a violência em Jerusalém, o risco maior é de retomada da guerra entre Israel e Hamas.

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