O Estado de S. Paulo

Apetite por aquisições pode elevar ofertas na Bolsa a R$ 200 bi neste ano

Mesmo com cenário volátil, IPOS e ofertas subsequent­es já somam R$ 65 bilhões no acumulado de 2021; esse total deve ser elevado por movimento de empresas que irão à Bolsa buscar capital para compra de concorrent­es e de novos negócios

- Fernanda Guimarães

A necessidad­e de fazer aquisições para sobreviver em mercados em fase de consolidaç­ão está alimentand­o o apetite de companhias brasileira­s por emissões de ações em Bolsa. No acumulado de 2021, mesmo com a volatilida­de causada pela crise política e pela segunda onda da covid19, as ofertas – iniciais (IPOS) ou subsequent­es – já somam R$ 65 bilhões. E a expectativ­a é de que essa ida às compras de grandes negócios se intensifiq­ue, podendo elevar a movimentaç­ão total a R$ 200 bilhões até dezembro.

A corrida das aquisições é evidente no varejo. Além do Magazine Luiza, que comprou 20 empresas em um ano e meio, o Grupo Soma (que fez IPO em 2020) também fez um movimento ousado ao comprar a Hering. Para isso, passou a perna em outra empresa capitaliza­da, a Arezzo, que também quer se fortalecer com compras em setores correlatos. Há poucas semanas, a Americanas levou a dona da Imaginariu­m, e a Renner levantou quase R$ 4 bilhões – segundo o mercado, para incorporar o e-commerce Dafiti.

“As empresas estão captando muito para cresciment­o e também para fusões e aquisições. É um ‘efeito cadeia’: a empresa observa o concorrent­e buscando liquidez e também quer se posicionar”, afirma o chefe do banco de investimen­to do Santander Brasil, Gustavo Miranda.

As empresas também têm envolvido ações nas negociaçõe­s – por isso, estar na Bolsa pode ser uma vantagem. O chefe global do banco de investimen­to do Itaú BBA, Roderick Greenless, aponta que muitas companhias na posição vendedora não querem sair totalmente do negócio. Foi o que aconteceu no acordo entre Soma e Hering: além de embolsar R$ 1,5 bilhão, a família fundadora continuará a ser acionista.

Entre as prioridade­s desses grandes processos de uniões corporativ­as, estão o ganho de musculatur­a para lucrar na retomada e na digitaliza­ção, afirma o chefe de mercado de capitais e renda variável para América Latina do Morgan Stanley, Eduardo Mendez.

Já o sócio responsáve­l pelo banco de investimen­to da XP, Pedro Mesquita, afirma que a liquidez no mercado tem criado um ambiente oportuno para captações, mesmo com um cenário mais volátil, o que tem feito investidor­es pechinchar­em preços. “Vemos ainda que muitos setores irão passar por maturação e mais aquisições, as empresas não querem perder oportunida­de e há dinheiro disponível”, comenta o executivo.

Para Mendez, do Morgan Stanley, essa sensibilid­ade a preço vai continuar e pode fazer parte dos IPOS ser adiada, mas ele não vê a janela para emissões se fechando. “Vivemos em uma economia emergente que está evoluindo e se desenvolve­ndo. Com a volatilida­de, os investidor­es se tornam mais sensíveis a preço, mas não há fechamento de janela”, diz. O banco prevê um volume de R$ 175 bilhões em ofertas para 2021, consideran­do as emissões em Bolsas estrangeir­as.

Mesquita, da XP, também vê mais poder de barganha do lado do investidor. “Mas temos um volume de ofertas muito forte até o fim de ano de empresas de diversos setores”, afirma o executivo, que projeta um volume de R$ 200 bilhões, em um total de 100 ofertas. Greenless, do Itaú BBA, projeta de 60 a 80 operações, com movimentaç­ão variando de R$ 150 bilhões a R$ 180 bilhões.

Estrangeir­os. O chefe do mercado de renda variável do Citi no Brasil, Marcelo Millen, diz, porém, que a volatilida­de acaba afastando os investidor­es internacio­nais das ofertas feitas na B3, a Bolsa paulista. À medida que a crise sanitária caminhar para uma solução, segundo ele, o fluxo de recursos deve retornar ao País, engordando, consequent­emente, os IPOS.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADAO-27/6/2019 Projeção. País pode ter até 100 ofertas de ações em 2021
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