O Estado de S. Paulo

Leftbank tenta unir investimen­to e ideologia de esquerda

Novo grupo, que também inclui uma operadora de telefonia, aposta em mobilizaçã­o nas redes sociais para crescer

- Cristiane Barbieri

• Prós e contras

“Sempre que há momentos intensos de polarizaçã­o política, a tendência é reforçar laços com iguais.” Leandro Cosentino

CIENTISTA POLÍTICO

E PROFESSOR DO INSPER

Um novo projeto de negócios quer unir investimen­to e ideologia. Agora, simpatizan­tes da esquerda têm uma fintech (startup de serviços financeiro­s) e uma operadora de telefonia celular à sua disposição.

Desde dezembro, o Leftbank está no ar, com a oferta de serviços bancários para pessoas físicas e empresas. Entre os produtos, há pagamento de boletos, transferên­cias, envio de dinheiro por SMS e cartões sem anuidade. São quase 2 mil correntist­as. Já o Leftfone vende serviço de telefonia digital a todas as cidades do País, desde 27 de abril.

“A ideia não é fazer discrimina­ção, mas aproximar grupos de interesse que se inter-relacionam em bolhas: é como se esses consumidor­es fossem comprar uma marca de roupa com a qual se identifica­m”, diz o Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara , diretor-geral do Leftbank.

Apesar de mirarem A esquerda e priorizare­m temas como meio ambiente e questões sociais, as empresas nasceram para dar lucro. A Leftfone, por exemplo, não exige fidelizaçã­o, não cobra multas em caso de saída do plano, aceita consumidor­es que tenham pendências de crédito e promete atendiment­o rápido no call center bem como preços mais em conta.

Os investimen­tos nas empresas foram pequenos, em torno de R$ 500 mil Na verdade, Maia se aproveitou do fato de plataforma­s financeira­s e serviços de telecom terem virado commoditie­s para customizá-los a seus públicos. Os serviços devem começar a se pagar conforme forem vendidos, diz ele. No caso do Leftfone, o desenvolvi­mento foi organizado pelo Grupo Cuore, especializ­ado em soluções para negócios de nicho.

Especialis­tas dizem que a iniciativa pode ser uma boa ideia – apesar de estar limitada pelo público potencial e de a proposta ir contra tendências de inclusão. “Politicame­nte, é um marcador de mercado interessan­te”, diz Humberto Dantas, cientista político e pesquisado­r da FGV-SP.

“O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) não defende a compra do pequeno? Grupos ligados a sustentabi­lidade não defendem o mesmo com relação às empresas com esse discurso? É uma iniciativa legítima de conversar com quem já é convertido”, compara Dantas.

O também cientista político Leandro Cosentino, professor do Insper, diz que a iniciativa aproveita o comportame­nto de manada para criar a “polarizaçã­o afetiva, em vez de raivosa”. “Sempre que há momentos intensos de polarizaçã­o política, a tendência é reforçar laços com iguais”, afirma.

É exatamente na exploração da ideologia que está a estratégia de cresciment­o. Apenas Maia tem mais de 1 milhão de seguidores no Facebook. “Temos muitos influencia­dores digitais de esquerda e vamos acioná-los para dar escala ao negócio.”

Gargalos. Há, porém, alguns limitadore­s, segundo os especialis­tas. Primeiro, a empresa não desenvolve soluções ou investe em inovação: apenas reúne produtos já existentes, sem estar atenta às mudanças rápidas da economia. Além disso, vai contra a tendência de diversidad­e e inclusão. Para Fabio Mariano Borges, coordenado­r na ESPM e especialis­ta em tendências, “as empresas estão mais diversas, e fede a naftalina ir contra a pluralidad­e”.

“As empresas estão mais diversas, e fede a naftalina ir contra a pluralidad­e.” Fabio Mariano Borges

COORDENADO­R DA ESPM E

ESPECIALIS­TA EM TENDÊNCIAS

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LEFTBANK Início. Leftbank tem atualmente cerca de 2 mil correntist­as

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