Será que o vinho sem álcool vira moda?
Leandro Simões trabalha com bebidas sem álcool há 20 anos, com a sua loja Empório Sem Álcool, hoje um e-commerce em São Paulo. Mas foi apenas com a quarentena que ele percebeu um interesse crescente pelo vinho sem álcool. “Não sei se as pessoas beberam demais na pandemia e estão tentando compensar, mas o fato é que tem aumentado a procura pelo vinho sem álcool”, afirma Simões.
As empresas que analisam as tendências de consumo, como a inglesa IWRS, por sua vez, não têm dúvidas de que o vinho sem álcool e aqueles com pouca dosagem alcoólica são uma tendência, acelerada com a chegada da covid-19. “Junto com o foco nas preocupações ambientais, a pandemia ampliou a tendência para a saúde e o bemestar”, destaca boletim da IWRS.
A também inglesa Wine Intelligence aponta uma preocupação com o estilo de vida, que pode ser traduzida em saúde, controle e sabor, para explicar o interesse pela categoria. Por saúde, entenda-se bebidas com menos calorias, ingredientes mais “naturais” e menos dores de cabeça no dia seguinte. O controle é dos consumidores estarem no comando da situação, seja em almoços de negócios ou para não serem envergonhados nas redes sociais.
O sabor é autoexplicativo. Até recentemente, era a cerveja que impulsionava esse segmento e tentava vencer o preconceito em relação às bebidas que passam pelo processo de retirada do álcool e, não raro, perdem seus aromas e sabores. O sucesso da Heineken 0.0 é visto como um divisor de águas, desde a cervejaria ter colocado seu nome no produto até a sua semelhança gustativa com a bebida com álcool.
No vinho, uma das explicações para o aumento da procura está no ganho – crescente, mas ainda incipiente – de qualidade da bebida desalcoolizada. “Investimos em uma máquina exclusiva e caríssima para a retirada apenas do álcool nos vinhos”, conta Carlos Martignago, responsável pela Torres no Brasil. Há alguns processos para a desalcoolização, como congelamento, osmose reversa, membranas e filtrações. Os mais eficientes, em geral com osmose reversa, são ainda muito caros.
Outra questão do vinho sem álcool é a sua curta validade, em geral um ano.
Fabiano Ruiz, diretor executivo da Henkell Freixenet no Brasil, percebe esse interesse na chegada de cada novo contêiner do Freixenet 0%. “Lançamos a bebida em agosto de 2020 e já vendemos 22 mil garrafas no Brasil”, conta. Em breve, o cava sem álcool terá a companhia de um espumante rosé, elaborado com Pinot Noir e Moscatel e com uma garrafa mais sofisticada.
Também animada pelo interesse pela categoria, a espanhola Torres está reformulando a apresentação de seus vinhos sem álcool, da linha Natureo. “Preparamos um reposicionamento em 2021, pelo seu sucesso de venda”, afirma Martignago. A Torres tem o vinho zero álcool tanto na Espanha como no Chile, com a linha Santa Digna.