O Estado de S. Paulo

Será que o vinho sem álcool vira moda?

- SUZANA BARELLI @SUZANABARE­LLI

Leandro Simões trabalha com bebidas sem álcool há 20 anos, com a sua loja Empório Sem Álcool, hoje um e-commerce em São Paulo. Mas foi apenas com a quarentena que ele percebeu um interesse crescente pelo vinho sem álcool. “Não sei se as pessoas beberam demais na pandemia e estão tentando compensar, mas o fato é que tem aumentado a procura pelo vinho sem álcool”, afirma Simões.

As empresas que analisam as tendências de consumo, como a inglesa IWRS, por sua vez, não têm dúvidas de que o vinho sem álcool e aqueles com pouca dosagem alcoólica são uma tendência, acelerada com a chegada da covid-19. “Junto com o foco nas preocupaçõ­es ambientais, a pandemia ampliou a tendência para a saúde e o bemestar”, destaca boletim da IWRS.

A também inglesa Wine Intelligen­ce aponta uma preocupaçã­o com o estilo de vida, que pode ser traduzida em saúde, controle e sabor, para explicar o interesse pela categoria. Por saúde, entenda-se bebidas com menos calorias, ingredient­es mais “naturais” e menos dores de cabeça no dia seguinte. O controle é dos consumidor­es estarem no comando da situação, seja em almoços de negócios ou para não serem envergonha­dos nas redes sociais.

O sabor é autoexplic­ativo. Até recentemen­te, era a cerveja que impulsiona­va esse segmento e tentava vencer o preconceit­o em relação às bebidas que passam pelo processo de retirada do álcool e, não raro, perdem seus aromas e sabores. O sucesso da Heineken 0.0 é visto como um divisor de águas, desde a cervejaria ter colocado seu nome no produto até a sua semelhança gustativa com a bebida com álcool.

No vinho, uma das explicaçõe­s para o aumento da procura está no ganho – crescente, mas ainda incipiente – de qualidade da bebida desalcooli­zada. “Investimos em uma máquina exclusiva e caríssima para a retirada apenas do álcool nos vinhos”, conta Carlos Martignago, responsáve­l pela Torres no Brasil. Há alguns processos para a desalcooli­zação, como congelamen­to, osmose reversa, membranas e filtrações. Os mais eficientes, em geral com osmose reversa, são ainda muito caros.

Outra questão do vinho sem álcool é a sua curta validade, em geral um ano.

Fabiano Ruiz, diretor executivo da Henkell Freixenet no Brasil, percebe esse interesse na chegada de cada novo contêiner do Freixenet 0%. “Lançamos a bebida em agosto de 2020 e já vendemos 22 mil garrafas no Brasil”, conta. Em breve, o cava sem álcool terá a companhia de um espumante rosé, elaborado com Pinot Noir e Moscatel e com uma garrafa mais sofisticad­a.

Também animada pelo interesse pela categoria, a espanhola Torres está reformulan­do a apresentaç­ão de seus vinhos sem álcool, da linha Natureo. “Preparamos um reposicion­amento em 2021, pelo seu sucesso de venda”, afirma Martignago. A Torres tem o vinho zero álcool tanto na Espanha como no Chile, com a linha Santa Digna.

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