Saúde suspende vacina de Oxford em grávidas
Medida é tomada após morte de gestante no Rio que havia recebido uma dose, mas elo entre óbito e produto é investigado. Coronavac e Pfizer seguem liberadas para grávidas com comorbidades. Saúde diz que eventos adversos foram raros entre 22,3 mil vacinadas
Por “precaução”, o Ministério da Saúde suspendeu a aplicação da vacina de Oxford/astrazeneca em gestantes e mulheres que deram à luz há até 45 dias, após a morte de uma grávida.
O Ministério da Saúde decidiu ontem suspender o uso da vacina de Oxford/astrazeneca em gestantes e puérperas (mulheres que deram à luz há 45 dias ou menos) após o registro da morte de uma grávida que havia sido imunizada com o produto no Rio. O governo federal diz que a medida foi tomada por precaução até que seja concluída a investigação para determinar se o óbito tem ligação com o imunizante, o que deve ocorrer nos próximos dias.
O ministério determinou ainda que a campanha de imunização com qualquer vacina contra a covid fique restrita a gestantes com comorbidades, que são as que têm o maior risco de agravamento da doença e para quem os benefícios da vacina superam eventuais riscos. Neste novo cenário, portanto, só gestantes com alguma doença crônica – como hipertensão, diabete, entre outras – poderão ser vacinadas e apenas com os imunizantes Coronavac ou da Pfizer/biontech.
Sobre as gestantes que já tomaram a 1ª dose da Astrazeneca, a orientação do ministério é esperar a conclusão da investigação do caso e novas recomendações federais antes de tomar a segunda dose. Essas mulheres também não devem receber dose de reforço de outro fabricante já que não há estudos sobre eficácia e segurança do uso de imunizantes diferentes.
A orientação para suspender o uso do imunizante Oxford/astrazeneca em gestantes havia sido dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na noite de anteontem após a notificação do óbito no Rio. Por isso, ontem ao menos 17 Estados e o Distrito Federal já suspenderam a vacinação de gestantes e estavam à espera de novas orientações do ministério. Em alguns locais, como Porto Alegre e Manaus, a imunização de gestantes continuou com o produto da Pfizer.
Segundo o ministério, a gestante morta tinha 35 anos e morava no Rio. Teve um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico que resultou no óbito dela e do feto. Segundo informaram fontes da Secretaria de Saúde ao Estadão, ela não tinha histórico de doença circulatória nem sofria de doença viral.
Registros. De acordo com o ministério, os eventos adversos das vacinas da covid-19 são extremamente raros. Até agora, das 22.295 gestantes imunizadas no País (somadas as aplicações das vacinas da Astrazeneca, Pfizer e Coronavac), foram registrados 408 eventos adversos, dos quais 11 foram considerados
graves. Oito deles já tiveram a relação com a vacina descartada. Os demais estão em investigação.
Obstetra e secretário de Atenção Primária à Saúde do ministério, Raphael Parente disse que a própria gravidez eleva o risco de problemas de coagulação, como tromboses, e que, por isso, é preciso finalizar a investigação para dizer se a vacina causou o óbito. Por ano, são esperados 3
mil casos de trombose entre gestantes no País, segundo ele.
A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato, disse que os eventos adversos são extremamente raros e que o risco de uma gestante morrer de covid é muito maior do que qualquer risco da vacina. “O número médio de internações de gestantes por covid é de 200 por 100 mil gestantes. Óbitos são aproximadamente 20 por 100 mil. E a trombose por plaquetopenia (redução do nível de plaquetas) pós-vacinação é 1 caso por 100 mil. Um evento bastante raro.”
Segundo Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, não há indícios de que gestantes tenham mais reações do que a população em geral. “Só que as grávidas não foram estudadas, essa é a questão”, disse ela, em referência aos ensaios clínicos da vacina.
Especialistas destacam que a decisão de receber uma vacina contra a covid deve ser discutida entre gestante e médico.
Em nota, a Astrazeneca afirmou que gestantes não foram incluídas nos estudos clínicos da vacina por precaução, mas que os testes em animais não indicam “efeitos prejudiciais diretos ou indiretos no que diz respeito à gravidez ou ao desenvolvimento fetal”.
Já a Fiocruz, responsável pela produção da vacina no Brasil, lamentou a morte e informou que está acompanhando a investigação. Reafirmou ainda que os benefícios do imunizante têm superado os riscos.
• ’Evento raro’
“O número médio de internações de gestantes por covid é de 200 por 100 mil. Óbitos são 20 por 100 mil. E a trombose por plaquetopenia é 1 caso por 100 mil. É um evento raro.”
Francieli Fantinato COORDENADORA DO PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO