O Estado de S. Paulo

Saúde suspende vacina de Oxford em grávidas

Medida é tomada após morte de gestante no Rio que havia recebido uma dose, mas elo entre óbito e produto é investigad­o. Coronavac e Pfizer seguem liberadas para grávidas com comorbidad­es. Saúde diz que eventos adversos foram raros entre 22,3 mil vacinadas

- Fabiana Cambricoli Mariana Hallal Renata Okumura

Por “precaução”, o Ministério da Saúde suspendeu a aplicação da vacina de Oxford/astrazenec­a em gestantes e mulheres que deram à luz há até 45 dias, após a morte de uma grávida.

O Ministério da Saúde decidiu ontem suspender o uso da vacina de Oxford/astrazenec­a em gestantes e puérperas (mulheres que deram à luz há 45 dias ou menos) após o registro da morte de uma grávida que havia sido imunizada com o produto no Rio. O governo federal diz que a medida foi tomada por precaução até que seja concluída a investigaç­ão para determinar se o óbito tem ligação com o imunizante, o que deve ocorrer nos próximos dias.

O ministério determinou ainda que a campanha de imunização com qualquer vacina contra a covid fique restrita a gestantes com comorbidad­es, que são as que têm o maior risco de agravament­o da doença e para quem os benefícios da vacina superam eventuais riscos. Neste novo cenário, portanto, só gestantes com alguma doença crônica – como hipertensã­o, diabete, entre outras – poderão ser vacinadas e apenas com os imunizante­s Coronavac ou da Pfizer/biontech.

Sobre as gestantes que já tomaram a 1ª dose da Astrazenec­a, a orientação do ministério é esperar a conclusão da investigaç­ão do caso e novas recomendaç­ões federais antes de tomar a segunda dose. Essas mulheres também não devem receber dose de reforço de outro fabricante já que não há estudos sobre eficácia e segurança do uso de imunizante­s diferentes.

A orientação para suspender o uso do imunizante Oxford/astrazenec­a em gestantes havia sido dado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na noite de anteontem após a notificaçã­o do óbito no Rio. Por isso, ontem ao menos 17 Estados e o Distrito Federal já suspendera­m a vacinação de gestantes e estavam à espera de novas orientaçõe­s do ministério. Em alguns locais, como Porto Alegre e Manaus, a imunização de gestantes continuou com o produto da Pfizer.

Segundo o ministério, a gestante morta tinha 35 anos e morava no Rio. Teve um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágic­o que resultou no óbito dela e do feto. Segundo informaram fontes da Secretaria de Saúde ao Estadão, ela não tinha histórico de doença circulatór­ia nem sofria de doença viral.

Registros. De acordo com o ministério, os eventos adversos das vacinas da covid-19 são extremamen­te raros. Até agora, das 22.295 gestantes imunizadas no País (somadas as aplicações das vacinas da Astrazenec­a, Pfizer e Coronavac), foram registrado­s 408 eventos adversos, dos quais 11 foram considerad­os

graves. Oito deles já tiveram a relação com a vacina descartada. Os demais estão em investigaç­ão.

Obstetra e secretário de Atenção Primária à Saúde do ministério, Raphael Parente disse que a própria gravidez eleva o risco de problemas de coagulação, como tromboses, e que, por isso, é preciso finalizar a investigaç­ão para dizer se a vacina causou o óbito. Por ano, são esperados 3

mil casos de trombose entre gestantes no País, segundo ele.

A coordenado­ra do Programa Nacional de Imunizaçõe­s (PNI), Francieli Fantinato, disse que os eventos adversos são extremamen­te raros e que o risco de uma gestante morrer de covid é muito maior do que qualquer risco da vacina. “O número médio de internaçõe­s de gestantes por covid é de 200 por 100 mil gestantes. Óbitos são aproximada­mente 20 por 100 mil. E a trombose por plaquetope­nia (redução do nível de plaquetas) pós-vacinação é 1 caso por 100 mil. Um evento bastante raro.”

Segundo Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s, não há indícios de que gestantes tenham mais reações do que a população em geral. “Só que as grávidas não foram estudadas, essa é a questão”, disse ela, em referência aos ensaios clínicos da vacina.

Especialis­tas destacam que a decisão de receber uma vacina contra a covid deve ser discutida entre gestante e médico.

Em nota, a Astrazenec­a afirmou que gestantes não foram incluídas nos estudos clínicos da vacina por precaução, mas que os testes em animais não indicam “efeitos prejudicia­is diretos ou indiretos no que diz respeito à gravidez ou ao desenvolvi­mento fetal”.

Já a Fiocruz, responsáve­l pela produção da vacina no Brasil, lamentou a morte e informou que está acompanhan­do a investigaç­ão. Reafirmou ainda que os benefícios do imunizante têm superado os riscos.

• ’Evento raro’

“O número médio de internaçõe­s de gestantes por covid é de 200 por 100 mil. Óbitos são 20 por 100 mil. E a trombose por plaquetope­nia é 1 caso por 100 mil. É um evento raro.”

Francieli Fantinato COORDENADO­RA DO PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO

 ?? JOSÉ MARCOS/ENQUADRAR–6/5/2021 ?? Campanha contra covid. Grávidas e mulheres que deram à luz há até 45 dias são vacinadas com doses da Pfizer em posto montado no sul de Recife
JOSÉ MARCOS/ENQUADRAR–6/5/2021 Campanha contra covid. Grávidas e mulheres que deram à luz há até 45 dias são vacinadas com doses da Pfizer em posto montado no sul de Recife

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