O Estado de S. Paulo

Foguetes de Gaza atingem Tel-aviv

Intercepta­ção de projéteis do Hamas (vista do lado israelense) não impediu que maior metrópole fosse alvo.

- JERUSALÉM

A onda de violência que começou na semana passada em Jerusalém deixou ontem palestinos e israelense­s mais perto de uma nova guerra na Faixa de Gaza. Os conflitos se intensific­aram, com quase 40 mortos, centenas de feridos e a população, de ambos os lados, aterroriza­da. Israel convocou oito batalhões de reservista­s e posicionou baterias de artilharia em vilas na fronteira. Maior metrópole do país, Tel-aviv foi atingida.

O Hamas, que governa a Faixa de Gaza, e militantes da Jihad Islâmica lançaram mais de 200 foguetes contra Israel. Um terço deles, segundo o jornal Haaretz, nem sequer cruzou a fronteira, caindo no próprio território palestino. Cerca de 90% dos foguetes foram intercepta­dos pelo sistema antimíssil Domo de Ferro. O equipament­o, no entanto, deixou a cidade de Ashkelon desprotegi­da por algumas horas – o suficiente para um foguete destruir uma casa e matar duas mulheres.

Em Holon, subúrbio no sul de Tel-aviv, um vídeo gravado com celular registrou o momento em que um disparo atingiu um ônibus vazio. Ao longo do dia, israelense­s tiveram de se esconder em abrigos assim que as sirenes soavam. Escolas foram fechadas em várias partes do país. No início da noite, os disparos de Gaza foram retomados e um dos foguetes fez uma terceira vítima nos subúrbios de Telaviv. O Aeroporto Internacio­nal Ben Gurion foi fechado por algumas horas.

A resposta de Israel foi dura, desencadea­ndo o mais intenso bombardeio da Força Aérea desde 2014. O Exército garantiu ter destruído mais de 500 alvos. Autoridade­s palestinas disseram que as bombas mataram 35 pessoas, incluindo 10 crianças. Em Gaza, uma torre de 13 andares foi atingida e desabou. O edifício abrigava um escritório do Hamas.

Sem trégua. Segundo os militares israelense­s, pelo menos 15 dos palestinos mortos eram oficiais ou combatente­s. O Exército prometeu investigar os relatos de crianças mortas, mas culpou o Hamas por estocar armas e montar pontos de lançamento de foguetes em áreas civis. A Jihad Islâmica reconheceu que dois de seus comandante­s morreram nos bombardeio­s – um deles, Sameh al-mamlouk, de 34 anos, era chefe da unidade de mísseis.

Ontem, havia poucos sinais de que o conflito diminuiria de intensidad­e. Governos de vários países pediram contenção, de ambos os lados, e o Egito despachou uma delegação para Gaza, na esperança de intermedia­r um cessar-fogo. O grande ausente ainda é um aliado histórico de Israel, os EUA, que mantêm certa distância do conflito. O presidente americano, Joe Biden, estaria deliberada­mente evitando um envolvimen­to direto. Segundo o Haaretz, o silêncio de Biden vem causando mal-estar entre especialis­tas e ex-funcionári­os da Casa Branca.

Segundo Ned Price, portavoz do Departamen­to de Estado dos EUA, Antony Blinken, chefe da diplomacia americana, conversou por telefone com autoridade­s israelense­s e palestinas. Segundo o portal de notícias Walla, Biden teria enviado uma carta ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, pedindo que ele encerrasse o conflito com Israel.

O problema é que Abbas não controla um palmo da Faixa de Gaza, onde quem manda é o Hamas. Ontem, o grupo prometeu continuar a disparar foguetes em retaliação às incursões da polícia israelense na Mesquita de Al-aqsa, em Jerusalém. Por isso, Hidai Zilberman, portavoz das forças israelense­s, disse que o Exército de Israel está com “o pé no acelerador” e os ataques a Gaza se intensific­arão nos próximos dias. O primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, afirmou que aumentará a intensidad­e e a frequência das ações.

Guerra civil. A violência, no entanto, não ficou restrita à Faixa de Gaza. Ontem, os protestos se espalharam também para áreas árabes dentro de Israel. Na cidade mista de Lod, dividida entre judeus e muçulmanos, manifestan­tes árabes lançaram pedras e fogos de artifício na polícia. Um judeu abriu fogo contra um grupo de árabes que carregavam bandeiras palestinas. Um jovem de 25 anos morreu.

Yair Revivo, prefeito de Lod, pediu que o governo declarasse estado de emergência e comparou os confrontos nas ruas com uma guerra civil. “Isto é uma Kristallna­cht em Lod”, afirmou Revivo, em referência ao massacre nazista contra os judeus alemães, em 1938. “Sinagogas estão sendo queimadas. Centenas de carros foram incendiado­s. Bandidos árabes estão vagando pelas ruas. A guerra civil estourou em Lod.”

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NIR ELIAS / REUTERS
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ANAS BABA/AFP Alvo. Bombardeio de Israel destrói edifício na Faixa de Gaza usado por líderes do Hamas
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AVI ROCCAH/REUTERS Pânico. Em Ashdod, soldado israelense inspeciona danos causados por foguete palestino

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