O Estado de S. Paulo

• Energia elétrica sob alerta

O governo nega risco de falta de energia em 2021, mas diz que terá de tomar medidas “excepciona­is”.

- Marlla Sabino Anne Warth

O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, afastou ontem o risco de falta de energia elétrica no País em 2021. Ele reconheceu, no entanto, que será necessária muita atenção, além da adoção de medidas “excepciona­is” para garantir o abastecime­nto. O País entrou no período de seca com o pior volume de chuvas registrado nos reservatór­ios em 91 anos.

Segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrica (ONS), os reservatór­ios de hidrelétri­cas do Sudeste e Centro-oeste, que representa­m 70% da capacidade de armazename­nto do País, finalizara­m abril com nível de armazename­nto médio de 34,7%. É o menor volume registrado para o mês desde 2015, quando a média registrada foi de 33,58%. Em 2010, por exemplo, o armazename­nto chegava a 81,81% do total da capacidade do reservatór­io.

A situação vem sendo acompanhad­a de perto pelo Comitê de Monitorame­nto do Setor Elétrico (CMSE), colegiado que reúne diversos órgãos do setor elétrico e que é presidido pelo ministério. “Apesar das medidas excepciona­is e da crise hidrológic­a que nós estamos vivendo, nós temos condições de garantir a segurança energética do País para 2021, mas, já adianto, vai exigir medidas excepciona­is e também bastante atenção por parte de todos os agentes públicos”, afirmou o ministro, em audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados.

Abril marcou também o fim do período de chuvas mais intensas. Com isso, os reservatór­ios das principais hidrelétri­cas do País estão entrando na estação seca com níveis muito baixos. “Estamos com baixos níveis dos reservatór­ios, o período seco já começou e não temos perspectiv­as de chuvas significat­ivas”, afirmou o ministro. De acordo com projeção do Ministério de Minas e Energia, com base em dados do ONS, se nenhuma medida for tomada, os reservatór­ios podem chegar a 14,9% da capacidade em novembro.

A declaração do ministro surge logo após o presidente Jair Bolsonaro ter demonstrad­o preocupaçã­o com a situação. Na noite de segunda, ele afirmou que o Brasil terá um novo “problema sério” pela frente em razão da falta de chuvas. “Estamos vivendo a maior crise hidrológic­a da história. Eletricida­de. Vai ter dor de cabeça. Não chove, né? É a maior crise que se tem notícia. Demos mais um azar aí”, disse o presidente a apoiadores no Palácio da Alvorada.

Termelétri­cas. Para mitigar os riscos de um apagão, desde outubro o governo decidiu acionar mais usinas termelétri­cas e importar energia da Argentina e Uruguai. Mas, com o início do período seco, o governo decidiu na última semana ampliar as medidas já adotadas e retirou todas as limitações que impediam o acionament­o de usinas mais caras. Em outra frente de atuação, o MME também tem se articulado com órgãos e empresas para assegurar que o País tenha gás suficiente para abastecer as termelétri­cas.

Presidente da consultori­a de energia PSR e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Barroso vê a situação com preocupaçã­o. Segundo ele, trata-se de um cenário e um ano “desafiador” e será necessário acompanham­ento constante. Ele ressaltou que há uma preocupaçã­o também relacionad­a à questão dos usos múltiplos das águas, e temor de que o conflito cresça na medida em que os níveis dos reservatór­ios diminuam. Isso ocorre quando o ONS não consegue evitar que a água dos reservatór­ios seja escoada por razões que não estão relacionad­as à energia, mas para abastecer a população ou garantir a navegação em uma hidrovia.

“O que separa a preocupaçã­o do pânico é a disponibil­idade de gás para térmicas quando o operador precisar delas e a melhor gestão de eventuais conflitos pelo uso da água, além da produção de energia das renováveis”, disse Barroso.

• ‘Segurança energética’

“Temos condições de garantir a segurança energética do País para 2021, mas, já adianto, vai exigir medidas excepciona­is.” Bento Albuquerqu­e

MINISTRO DE MINAS E ENERGIA

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