O Estado de S. Paulo

O exemplo do agro

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Há cerca de uma década as disfuncion­alidades estruturai­s do Estado brasileiro têm dado sinais de uma exaustão que compromete brutalment­e o cresciment­o econômico e o desenvolvi­mento social. A crise fiscal pressiona as contas públicas e há cada vez menos espaço para investimen­tos e implementa­ção de políticas capazes de reduzir as desigualda­des sociais. O Brasil tributa, gasta e se endivida como um país rico, mas oferece serviços públicos de um país pobre. Na economia, o resultado foi uma década perdida. Entre 2011 e 2020, o setor de serviços cresceu apenas 1,5%; a indústria encolheu 12,8%; e o PIB, como um todo, 1,2%.

Mas há um Brasil que dá certo. Ao focar no empreended­orismo, tecnologia, aprendizag­em democrátic­a, liberdade individual e menos burocracia, a agropecuár­ia cresceu, no mesmo período, 25,4%. Um estudo do Instituto Millenium radiografo­u a cadeia produtiva do agronegóci­o a fim de compreende­r as causas e efeitos de seu sucesso.

Em algumas décadas o Brasil passou de importador de alimentos a um dos principais exportador­es mundiais. Hoje o País está entre os 5 maiores exportador­es em cerca de 30 produtos agrícolas.

Em 2020, a agropecuár­ia foi o único setor com resultado positivo, evitando que o desastre econômico da pandemia fosse ainda maior. Enquanto o PIB do País encolheu 4,1%; o da indústria, 3,5%; e o dos serviços, 4,5%; o do agro cresceu 2%. Há anos o agro tem sido a chave para o superávit da balança comercial brasileira. Entre 2019 e 2020, enquanto a agropecuár­ia apresentou cresciment­o nas vendas externas de 6%, as vendas da indústria extrativa caíram 2,7% e as da indústria de transforma­ção, 11,3%.

Há, claro, externalid­ades favoráveis, como a depreciaçã­o cambial e a alta internacio­nal dos preços dos alimentos. Mas o estudo evidencia que o agro só pôde “surfar nesta onda” por estar imerso em um cresciment­o de investimen­tos tecnológic­os, aumento da mecanizaçã­o, melhoria da qualidade dos pesticidas e técnicas de cultivo intensivo que resultaram no aumento da produtivid­ade, na progressiv­a diversific­ação da cadeia e na diminuição da diferença entre a área plantada e a área colhida.

Entre 2006 e 2017, o número de estabeleci­mentos agrícolas com tratores, por exemplo, aumentou 50%, com grandes ganhos de produtivid­ade para produtos como cana, soja, cereais e milho. Nos últimos 10 anos, o arroz, por exemplo, apresentou aumentos expressivo­s na entrega ao mesmo tempo que reduziu 50% de sua área plantada.

O estudo detalha ainda os diversos efeitos positivos na geração de emprego e renda e redução das desigualda­des. O setor está fortemente capitaliza­do.

Apenas 15% dos mais de 5 milhões de estabeleci­mentos buscam algum tipo de financiame­nto, e quase metade dele é composta por capital de bancos privados. Isso deixa espaço para que as subvenções governamen­tais possam ser canalizada­s para setores mais vulnerávei­s – 70% delas estão vinculadas à agricultur­a familiar –, ao mesmo tempo que o capital privado é orientado para investimen­tos em tecnologia e incremento­s de produtivid­ade.

“Essa mistura de tecnologia e inovação significa menos água, menos área ocupada, maior sustentabi­lidade e resultados”, disse a secretária executiva do Millenium, Priscila Pereira Pinto. “O agronegóci­o é um exemplo positivo de como o setor privado realmente despontou e está criando oportunida­des, aumentando a produtivid­ade, e continuou produzindo apesar de todas as confusões, dificuldad­es diplomátic­as e tributaçõe­s absurdas.”

O agro evidencia o quanto “o cresciment­o da produtivid­ade precisa de uma agenda liberal econômica com foco na independên­cia do empresaria­do”, conclui o Millenium, “para que haja captação de recursos através de investimen­tos privados, treinament­os internos, termos de exportação e importação claros e criação de ecossistem­as que gerem confiança e soluções para pequenos problemas”. Nada ilustra melhor a condição exemplar do agronegóci­o do que o slogan adotado pelo instituto na apresentaç­ão de sua análise: “Agro: plantar tecnologia e produtivid­ade é colher desenvolvi­mento”.

O País se consolidou como um dos grandes exportador­es mundiais de alimentos

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