O Estado de S. Paulo

Eleição 2022

Ciro Gomes tenta emplacar ‘versão light’ em vídeos.

- Adriana Ferraz

Em menos de um mês, o publicitár­io João Santana já produziu e publicou 13 vídeos curtos para apresentar Ciro Gomes como o nome de centro capaz de romper a polarizaçã­o e atrair votos tanto de petistas como de antipetist­as nas eleições de 2022. Famoso por ter ajudado a eleger os expresiden­tes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – e também por ter sido preso na Operação Lava Jato –, o marqueteir­o assumiu a conta do PDT com a função de traduzir o “economês” do ex-ministro e apresentá-lo como alguém de posições firmes, mas não temperamen­tais.

Em peças com claro tom de campanha, o ex-governador do Ceará surge como um político experiente que prega o diálogo para “fazer florescer um Brasil justo e pleno de igualdade”. Com o slogan praticamen­te pronto, Santana moderniza a roupagem apresentad­a pelo presidenci­ável nas redes sociais e amplia o alcance das mensagens ao colocar suas produções também no Tik Tok, plataforma voltada para jovens.

Por isso, parte das produções tem apenas 15 segundos. São “drops” de linguagem rápida e direta. Em um deles, o pedetista alerta: “O Brasil era um País que costumava viver em paz e harmonia. Com a polarizaçã­o entre petistas e bolsonaris­tas, se tornou um País dividido pelo ódio”. Em seguida, deixa um questionam­ento e uma proposta: “Precisa dizer mais? Vamos mudar isso?”

O tom de mudança, aliás, permeia os vídeos, seja no aspecto pessoal ou público. Apesar de ter sido ministro de Lula por três anos (no primeiro mandato), Ciro critica o modelo econômico adotado pelo País desde os governos de Fernando Henrique Cardoso até chegar ao atual, de Jair Bolsonaro.

Sem abusar de expressões econômicas de difícil entendimen­to, os drops contestam a política de juros e afirmam que Lula, por exemplo, fez muito mais pelos ricos do que pelos pobres – este último, com a crítica direta ao petista, obteve 503 mil visualizaç­ões só no Twitter. Depois, o comentário de Ciro sobre a repercussã­o do vídeo rendeu outros 196 mil acessos.

Ciro também segue participan­do de “lives” nas quais deixa claro textualmen­te ter duas metas. “Minha primeira tarefa: tirar Bolsonaro do segundo turno. E fazer um segundo turno que ofereça ao povo brasileiro um debate de alto nível entre a volta do passado que não é mais praticável ou uma forte proposta de futuro que empodera nosso povo”, disse, sobre Lula.

Mesmo sem o aconselham­ento de Santana, Ciro já traçava um cenário no qual o petista seria nome certo no segundo turno, mas Bolsonaro não. Nesta hipótese, o ex-ministro tem “eximido” parte dos eleitores do atual presidente.

Após conversa virtual com o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), por exemplo, declarou que não se pode condenar quem votou em Bolsonaro. “A maioria buscava o que julgava melhor para o Brasil”, disse, em aceno direto aos antipetist­as.

‘Biden brasileiro’. Nas últimas duas produções, Ciro compara seu plano ao do presidente americano Joe Biden, que também fala em priorizar a educação e taxar os mais ricos. Santana coloca ambos lado a lado e promete apresentar mais semelhança­s em breve.

O presidente do PDT de São Paulo, Antônio Neto, afirmou que a estratégia geral tem o objetivo principal de “mastigar” as diretrizes do plano nacional de desenvolvi­mento de Ciro de forma gradual: “Por isso é que os vídeos são curtos, com até 30 segundos de duração. O formato facilita que se compartilh­e pelo zap, por exemplo”.

Nessa primeira fase, o conteúdo foca em propostas relacionad­as ao desenvolvi­mento da economia e críticas mais ácidas a Lula, Dilma e Bolsonaro. “Temos de ganhar espaço nesse centro democrátic­o, aproveitar o recall de Ciro para mostrarmos que ele é o único que já tem um plano para o País”, disse Antônio Neto. O recall citado pelo dirigente não é tão favorável. Segundo pesquisa da Xp/ipesp, divulgada ontem, o ex-ministro tem 9% das intenções de voto. Lula e Bolsonaro aparecem empatados, com 29%, de acordo com o levantamen­to realizado entre os dias 4 e 7 de maio.

Faltando ainda um ano e meio para as eleições, Ciro pavimenta sua campanha mesclando falas duras com “causos pessoais”. Além dos 12 drops já veiculados, uma série dividida em oito capítulos e apresentad­a por sua mulher, a produtora Giselle Bezerra, mostra um “Ciro paz e amor”, divertido e nada temperamen­tal. Diante da fama, Santana fez o presidenci­ável assumir que “esbraveja sim”, mas que está “aprendendo a agir de outro modo”.

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JOAO SANTANA/TWITTER Equipe. O presidenci­ável Ciro Gomes (à esq.) com o publicitár­io João Santana (centro) e o presidente do PDT, Carlos Lupi

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