O Estado de S. Paulo

Cavalo de pau em discursos não basta

- ✽ Mário Scheffer ✽ PROFESSOR DA FACULDADE DE MEDICINA DA USP

Agências de controle de medicament­os e imunizante­s ganharam estatura com esforços nacionais para salvar vidas na pandemia. A Emea (UE) e o CDC (EUA), além de acelerar vacinas seguras, banem tratamento­s ineficazes e orientam decisões. A contrapart­e brasileira, a Anvisa, foi levada à CPI sob suspeita de interferên­cia do governo e críticas relacionad­as à demora na liberação de vacinas.

Em outubro de 2020, o mesmo Senado aprovou a indicação do contra-almirante Antonio Barra Torres para o cargo de presidente da Anvisa. Em sabatina, sua inexperiên­cia no ramo foi desconside­rada e o currículo divulgado nos fez saber de seus hobbies e cidades que visitou.

Na CPI, Barra Torres buscou se afastar do compadrio com Bolsonaro. Confirmou reunião “sem cabimento” para discutir eventual alteração da bula da cloroquina. Disse ter se arrependid­o de surgir, sem máscara, em ato antidemocr­ático. Derramou argumentos técnicos razoáveis, quando contestado sobre rejeição da Covaxin e da Sputnik.

Numa CPI transmitid­a ao vivo, performanc­es ensaiadas expõem, também, constrangi­mentos. O fato concreto é que um almirante foi colocado em cargo estratégic­o quando a situação sanitária exigia pés na terra e responsabi­lidade máxima. E vale lembrar que cavalo de pau em discursos não basta para reverter o padrão de transmissã­o e de óbitos por covid no Brasil.

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