Cavalo de pau em discursos não basta
Agências de controle de medicamentos e imunizantes ganharam estatura com esforços nacionais para salvar vidas na pandemia. A Emea (UE) e o CDC (EUA), além de acelerar vacinas seguras, banem tratamentos ineficazes e orientam decisões. A contraparte brasileira, a Anvisa, foi levada à CPI sob suspeita de interferência do governo e críticas relacionadas à demora na liberação de vacinas.
Em outubro de 2020, o mesmo Senado aprovou a indicação do contra-almirante Antonio Barra Torres para o cargo de presidente da Anvisa. Em sabatina, sua inexperiência no ramo foi desconsiderada e o currículo divulgado nos fez saber de seus hobbies e cidades que visitou.
Na CPI, Barra Torres buscou se afastar do compadrio com Bolsonaro. Confirmou reunião “sem cabimento” para discutir eventual alteração da bula da cloroquina. Disse ter se arrependido de surgir, sem máscara, em ato antidemocrático. Derramou argumentos técnicos razoáveis, quando contestado sobre rejeição da Covaxin e da Sputnik.
Numa CPI transmitida ao vivo, performances ensaiadas expõem, também, constrangimentos. O fato concreto é que um almirante foi colocado em cargo estratégico quando a situação sanitária exigia pés na terra e responsabilidade máxima. E vale lembrar que cavalo de pau em discursos não basta para reverter o padrão de transmissão e de óbitos por covid no Brasil.