O Estado de S. Paulo

Venezuela

Guaidó defende diálogo com chavismo e fim de sanções.

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O líder da oposição venezuelan­a, Juan Guaidó, propôs ontem um “acordo de salvação nacional”, que inclui novas eleições presidenci­ais e legislativ­as em troca de um alívio das sanções contra o país. A proposta é uma mudança na posição de Guaidó, que defendia havia pelo menos dois anos a deposição do presidente chavista, Nicolás Maduro.

Guaidó também propôs que um eventual acordo incluísse observador­es eleitorais internacio­nais, a aceitação de ajuda humanitári­a, vacinas contra a covid-19 e a libertação de presos políticos. A oposição venezuelan­a boicotou a eleição anterior, em dezembro, dominada amplamente pelos candidatos de Maduro.

Segundo Guaidó, não havia à época garantia de que a disputa seria “livre e justa”. “Precisamos chegar a um acordo para salvar a Venezuela”, disse Guaidó ontem, em vídeo publicado nas redes sociais. Ele propôs “oferecer incentivos ao regime, incluindo o levantamen­to progressiv­o das sanções”, para que sejam realizadas eleições com a participaç­ão de opositores.

Maduro adotou, nas últimas semanas, uma posição mais conciliató­ria, com sinais de que estaria tentando se aproximar de Washington. Ele concordou, pela primeira vez, em aceitar ajuda do Programa de Alimentos da Organizaçã­o das Nações Unidas (PAM) e transferiu para prisão domiciliar seis executivos americanos da Citgo detidos em regime fechado.

Em 2019, Guaidó passou a ser reconhecid­o como “presidente interino” por mais de 60 países, incluindo os EUA e o Brasil, após assumir a presidênci­a da Assembleia Nacional – na ocasião, de maioria opositora.

Fora da última disputa, ele perdeu seu mandato e força política, tanto na Venezuela quanto fora dela, ao mesmo tempo que Maduro iniciou uma aproximaçã­o com Joe Biden, mais propenso a negociar com o regime chavista do que seu antecessor, Donald Trump.

De acordo com a Casa Branca, os EUA estão revisando suas sanções contra a Venezuela. Há hoje pelo menos 50 sanções americanas em vigor contra o regime de Maduro, o que estrangula ainda mais a já combalida economia chavista.

“Eleições presidenci­ais livres e justas são a porta para uma solução. Nosso objetivo é sair da tragédia e reconquist­ar a democracia. Devemos manter o foco nisso. Nosso adversário hoje é a ditadura brutal que enfrentamo­s”, disse Guaidó, que fez poucos progressos para resolver o impasse político nos últimos dois anos.

Ele também disse que as conversas não deveriam se concentrar apenas nas eleições regionais e municipais, que serão realizadas este ano, pois isso só fortalecer­ia Maduro e dividiria a oposição. “A ditadura tentará continuar a criar negociaçõe­s paralelas e parciais. Eles vão tentar nos dividir, convocando eleições regionais e municipais, colocando-nos um falso dilema, com o novo Conselho Eleitoral (Conselho Nacional Eleitoral) que não reconhecem­os”, afirmou o opositor.

O Congresso da Venezuela, de maioria chavista, renovou há uma semana o mandato das autoridade­s eleitorais. Pela primeira vez, em quase 18 anos de regime, dois dos cinco dirigentes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) não estão vinculados ao chavismo. A medida foi elogiada por Henrique Capriles, que também é opositor, mas mantém uma linha mais moderada.

Para Luis Vicente León, diretor do Datanalisi­s e pesquisado­r em Caracas, Guaidó tenta com o recado restaurar parte de sua relevância política. “Guaidó encerra sua proposta em uma nova convocação de negociaçõe­s e relaciona com sanções, pois é o único instrument­o de pressão que a oposição parece ter”, disse. “Mesmo que não o controle diretament­e.”

• Recuo

“Eleições presidenci­ais livres e justas são a porta para uma solução. Nosso objetivo é sair da tragédia e reconquist­ar a democracia”

Juan Guaidó LÍDER DA OPOSIÇÃO

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MANAURE QUINTERO/REUTERS
 ?? MANAURE QUINTERO/REUTERS ?? Giro. Juan Guaidó, um dos líderes da oposição venezuelan­a: diálogo aberto com o chavismo
MANAURE QUINTERO/REUTERS Giro. Juan Guaidó, um dos líderes da oposição venezuelan­a: diálogo aberto com o chavismo

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