O Estado de S. Paulo

Base recebe pouco investimen­to

- FELIPE@10K.DIGITAL ESPECIALIS­TA EM EMPREENDED­ORISMO E TECNOLOGIA. JÁ APOIOU MAIS DE 10 MIL STARTUPS NO BRASIL E É SÓCIO DA 10K DIGITAL

Éverdade que nunca houve tanto investimen­to em startups no Brasil. Nos últimos anos, o setor vem batendo recordes em volume de capital aportado nas empresas, que ultrapasso­u US$ 5 bilhões em 2020 e segue crescendo.

Se, por um lado, nunca houve tanto capital disponível, por outro, empreended­ores ainda enfrentam muitos desafios. Isso porque os aportes estão cada mais concentrad­os, tanto em valores quanto em setor, região geográfica e estágio de maturidade das empresas. Ainda faltam recursos para apostar nos estágios iniciais das startups nacionais, onde o risco é mais alto e o impulso financeiro inicial é essencial. Nessa fase, os aportes não vêm crescendo tanto. Pelo contrário, dados preliminar­es da associação Anjos do Brasil mostram uma queda de 10% a 20% no volume de investimen­tosanjo no País em 2020, justamente aquele mais direcionad­o a apoiar o começo dos projetos. Há também maior concentraç­ão geográfica em São Paulo e nas regiões Sul e Sudeste, além de uma prevalênci­a em setores como fintechs e varejo.

Quando comparamos a base de investimen­tos em startups brasileira­s com outros ecossistem­as, o desafio fica nítido. Nos EUA, o volume de investimen­to-anjo é cerca de 130 vezes maior que o brasileiro, enquanto o tamanho da economia americana é cerca de 14 vezes maior que a nossa.

Mudar essa realidade é essencial para manter o ecossistem­a saudável e para ampliar a diversidad­e dos novos negócios e descentral­izar benefícios econômicos e sociais. É preciso ampliar incentivos para investimen­tos em fases iniciais, com instrument­os como benefícios fiscais, fundos de coinvestim­ento, além do apoio à educação em empreended­orismo e ao surgimento de acelerador­as de empresas, especialme­nte fora dos grandes centros. A populariza­ção de plataforma­s de investimen­to online, o chamado equity crowdfundi­ng, que permitem a pequenos investidor­es aportarem em startups, também contribuem.

Um aumento nos investimen­tos na base do nascimento das empresas também é importante para o apoio em iniciativa­s arriscadas, com as chamadas deeptechs, startups baseadas em tecnologia­s avançadas e disruptiva­s, geralmente associadas a universida­des e centros de pesquisa. São startups que exigem investimen­tos mais alto e com maior prazo de maturação, o que acaba afugentand­o investidor­es privados e impedindo o surgimento de inovações mais notáveis, especialme­nte em setores além do digital, como na biotecnolo­gia.

Apesar dos avanços recentes, é preciso compreende­r que existe ainda um longo caminho para que o potencial de inovação do País seja explorado, e é fundamenta­l o pensamento de estratégia­s que possam fomentar esse desenvolvi­mento.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil