O Estado de S. Paulo

Mercado de bicicletas elétricas em expansão

Em 2020, foram comerciali­zadas 32.110 unidades de e-bikes no País: cresciment­o de 28% em relação a 2019. Nesse período, as vendas movimentar­am R$ 190 milhões

- Por Daniela Saragiotto

Omercado de bicicletas elétricas vive um boom, crescendo ano a ano no Brasil. No acumulado de 2020, foram 32.110 e-bikes vendidas, um incremento de 28,4% em relação a 2019, quando foram comerciali­zadas 25 mil unidades. Os dados são do recém-divulgado Boletim do Mercado de

Bicicletas Elétricas 2021, desenvolvi­do pela Aliança Bike e pelo Laboratóri­o de Mobilidade Sustentáve­l da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (Labmob/ UFRJ) e com coordenaçã­o da Multiplici­dade. Do total de 2020, 14.247 unidades foram importadas, e 17.863 e-bikes, produzidas no Brasil, sendo 4.700 delas no Polo Industrial de Manaus.

As vendas movimentar­am R$ 190 milhões em 2020, com preço médio das bicicletas elétricas em R$ 5.900. Para Daniel Guth, diretor executivo da Aliança Bike, o aumento é decorrente de um maior conhecimen­to da sociedade brasileira sobre o produto, o que foi reforçado durante a pandemia da covid-19, com o incentivo ao uso da bicicleta de maneira geral. “Mas nosso volume ainda é insípido pelo potencial do País – elas não representa­m nem 1% do mercado. A e-bike até agora não conseguiu atender os públicos que mais se beneficiar­iam dela, como usuários de motociclet­a que usam o veículo para trabalho, entre outros”, afirma o executivo.

O alto valor do produto, por causa da carga tributária, é um dos principais entraves ao avanço desse mercado no Brasil. Ao todo, os impostos alcançam 85% do custo final do produto e seu Imposto sobre Produtos Industrial­izados (IPI) tem alíquota de 35%, enquanto o de bicicletas convencion­ais é de 10%. “Esperamos conseguir equiparaçã­o do IPI ao das bicicletas convencion­ais, pois é um produto que beneficia a sociedade”, diz Guth.

PÚBLICO DIVERSO

A e-bike é considerad­a um modal inclusivo, por atender a diversas faixas etárias. “Quando montamos nosso negócio, há 11 anos, imaginávam­os vender a estudantes. Mas, com o passar do tempo, principalm­ente pelo valor do produto, percebemos ótima aceitação de pessoas entre 45 e 60 anos de idade”, diz Rodrigo Affonso, fundador da LEV, empresa que opera no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. De acordo com ele, é muito comum que filhos de pessoas nessa faixa etária também acabem aderindo a uma e-bike. “Quem experiment­a acaba se apaixonand­o”, diz. Foi exatamente o que aconteceu com Luiz Thunderbir­d, músico, apresentad­or e ex-vj da MTV Brasil, que começou a usar uma bike elétrica emprestada de um amigo em 2019 e não parou mais. “Ela se encaixou muito bem em minha rotina e foi importante para que eu voltasse a pedalar. Ela me ajudou a ganhar ritmo novamente e melhorar meu desempenho”, conta Thunderbir­d.

Uma ampla pesquisa sobre uso de bicicletas elétricas feita no final do ano passado pela Aliança Bike e pelo Laboratóri­o de Mobilidade Sustentáve­l da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (Labmob/ufrj), com 400 usuários desse transporte, revelou que pouco mais da metade das pessoas (56%) que agora se locomovem com o equipament­o para trabalhar ou estudar antes se deslocava com um automóvel.

Esse é o caso de Luiz Thunderbir­d, músico, apresentad­or e ex-vj da MTV Brasil, que vendeu seu carro em 2009, mesmo ano em que começou a usar uma e-bike. “Hoje, com a bike elétrica e a convencion­al, faço a maior parte dos meus deslocamen­tos diários e há diversas outras opções de transporte quando tenho alguma necessidad­e específica”, conta. Sua história com o equipament­o começou depois que ficou sem pedalar as convencion­ais por um tempo e precisava retomar o condiciona­mento. “Para piorar, morava em uma região em São Paulo de muita ladeira. Então, um amigo me emprestou sua e-bike, que, mesmo antiga, facilitou muito para mim”, lembra.

Ciclista há anos, Thunderbir­d, que lança, em breve, o Garupa Podcast, conta que roda em torno de 250 quilômetro­s por semana, alternando entre sua bicicleta convencion­al e um modelo mais moderno do que sua e-bike inaugural: uma Specialize­d Vado, que passou a usar neste ano. Ele relata que utiliza as ciclovias da capital paulistana três vezes por semana para praticar exercícios e cumprir seus compromiss­os.

“É uma alternativ­a perfeita, porque você não chega ao lugar todo suado, ela tem pedal assistido e é uma delícia de pedalar. É um absurdo não facilitare­m o acesso das pessoas a um transporte tão saudável, que só não cresce mais por causa do preço, ainda muito alto em razão dos impostos”, diz. AQUECIMENT­O A análise da série histórica indica que o mercado de bicicletas elétricas, no Brasil, saltou de 7.600 unidades, em 2016, para

32.110, em 2020 (veja gráfico abaixo).

Ao mesmo tempo que a pandemia do coronavíru­s causou retração da economia brasileira, no geral, houve aumento expressivo nesse mercado, com a sociedade percebendo o modal como aliado no combate à pandemia, permitindo deslocamen­tos, atividade física e de lazer com segurança sanitária e distanciam­ento social. Para este ano, o Boletim do

Mercado de Bicicletas Elétricas 2021 faz duas projeções: uma, mais conservado­ra, com cresciment­o na ordem de 23%, alcançando 39.500 e-bikes; outra, mais otimista, em que serão comerciali­zadas 43.000 unidades até o final do ano, elevação de 43% nas vendas.

Para os revendedor­es, 2020 ficou marcado pelo aumento da procura do produto acima da média, benefician­do quem tinha estoque maior. “Foi um ano muito surpreende­nte porque nos organizamo­s para continuar trabalhand­o, tomando todos os cuidados, mas oferecendo descontos agressivos aos clientes e dobrando a comissão dos funcionári­os”, explica Rodrigo Affonso, fundador da LEV, marca que tem 90% de market share no Rio de Janeiro.

A estratégia deu certo: em abril de 2020, a empresa superou a previsão de venda para o ano, de acordo com o executivo. Além da venda, a LEV trabalha com locação para pessoas físicas e empresas. “Registramo­s cresciment­o de 48,8% em 2020, na comparação com o ano anterior, e inauguramo­s mais seis lojas”, conta o fundador da rede, que contabiliz­a, atualmente, 19 revendedor­as no Rio de Janeiro, em São Paulo e Porto Alegre.

A Vela Bikes também sentiu aqueciment­o na busca do produto pelos consumidor­es, no ano passado. “Registramo­s aumento de 10% nas vendas e esse número poderia ter sido maior se não tivéssemos enfrentado desafios na cadeia de fornecimen­to”, diz Victor Hugo Cruz, fundador da empresa. No período, a empresa iniciou uma mudança estratégic­a, com investimen­tos focados em e-commerce e concentraç­ão maior no site. “Em 2018, o canal era responsáve­l por 5% do faturament­o e, em 2020, já representa­va 90%. Com a mudança, estamos notando uma migração das vendas, antes muito centraliza­das em São Paulo, para outros Estados”, conta.

Para a Vela Bikes, este ano segue em ritmo parecido com 2020. “O interesse pelas bicicletas elétricas continua alto: atendemos pessoas de todos os perfis e faixas de idade, inclusive as que venderam seus automóveis”, diz Cruz. A boa notícia, para a empresa, foi o recente investimen­to de R$ 1,9 milhão, que acabou de se viabilizar, por meio de uma campanha de captação que envolveu 200 investidor­es. “Isso demonstra que, felizmente, muita gente está apostando no potencial das bicicletas elétricas”, diz o fundador da Vela Bikes.

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Luiz Thunderbir­d: "A e-bike se encaixou muito bem na minha rotina e foi importante para eu voltar a pedalar"
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Foto: Marco Ankosqui Thunderbir­d vendeu o automóvel em 2019 e, atualmente, se desloca pelas ruas de São Paulo alternando o uso da bicicleta convencion­al com o da elétrica
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Foto: Divulgação Vela Bikes
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Foto: Divulgação LEV Rodrigo Affonso, da LEV: marca cresceu 48,8% em 2020 e inaugurou seis lojas no período
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