O Estado de S. Paulo

Em debate, futuro do transporte coletivo de superfície

Como redução na demanda poderá afetar os rumos desse modal

-

Oacesso à mobilidade urbana em uma cidade se reflete em questões socioeconô­micas, logísticas e ambientais e, com a pandemia da covid-19, ocorreram mudanças significat­ivas no deslocamen­to das pessoas no espaço urbano. No contexto, o cenário provocou redução na demanda do transporte público, que, de acordo com o Boletim da Associação Nacional das Empresas de

Transporte­s Urbanos (NTU), a quantidade de viagens realizadas por passageiro teve diminuição de 80% nas primeiras semanas da crise em 2020.

O setor já estava perdendo passageiro­s nos últimos anos pela falta de investimen­tos, sendo que, entre 2018 e 2019, 12,5 milhões de pessoas deixaram de utilizar o ônibus como principal modal de deslocamen­to, conforme aponta o anuário da NTU.

Segundo Paula Faria, CEO da Necta e idealizado­ra do Connected Smart Cities & Mobility (CSCM), “decidir diminuir a frota de veículos no início da pandemia só evidencia a necessidad­e de alterar a logística de licitação desse ecossistem­a no País. A partir do momento em que essa remuneraçã­o é feita por passageiro, e não por quilômetro rodado, como observamos em países europeus e que são exemplos no quesito de mobilidade, o modelo já pressupõe lotação”.

“O grande efeito colateral dessa logística de licitação é que, pela falta de receita causada pelo impacto da pandemia, as empresas reduziram as frotas, demitiram funcionári­os e precarizar­am ainda mais esse serviço. É preciso entender que a pandemia vai passar, mas a necessidad­e de se locomover pelo espaço urbano não. Nunca foi tão importante discutir investimen­tos e novos modelos de gestão para o setor”, diz Faria.

NOVOS TEMPOS

De acordo com Carlos José Barreiro, secretário de Infraestru­tura de Campinas e que atuou por sete anos como secretário de Transporte da cidade e na presidênci­a da Empresa Municipal de Desenvolvi­mento de Campinas, o transporte público de passageiro­s precisa se adaptar aos novos tempos, enfrentand­o as dificuldad­es da perda de passageiro­s, aplicativo­s e outros modais como bicicleta, triciclos etc.

“É a solução para o deslocamen­to urbano das grandes cidades e regiões metropolit­anas do mundo. Assim, caberá à gestão pública, detentora das concessões, definir políticas que ofereçam recursos econômico-financeiro­s para sustentar os custos desse sistema de transporte público. Isso por meio de soluções criativas, tais como as oriundas dos combustíve­is dos veículos, dos proprietár­ios de imóveis. Ou seja, desenvolve­r soluções que tenham menor custo no sistema, ter opções mais sustentáve­is ambientalm­ente, como os ônibus elétricos, por exemplo”, comenta.

Nesse sentido, existe um debate crescente dentro do conceito de cidades inteligent­es que aborda a mobilidade com base no planejamen­to urbano. Para que os deslocamen­tos possam ocorrer de maneira mais rápida e eficiente, é preciso

que os cidadãos tenham acesso a trabalho, escola, lazer etc., a uma distância menor. Ou seja, o investimen­to, para que o transporte coletivo seja de excelência, deve ser feito em paralelo com a inclusão de novos modais e a redução dos deslocamen­tos como um todo.

O tema está no contexto do evento nacional Connected Smart Cities & Mobility 2021, que acontece em setembro. A iniciativa contempla, ainda, agenda pré-evento, por meio de ações regionais em todas as capitais do País, além dos Pontos de Conexão CSCM, que serão transmitid­os ao vivo.

 ?? Foto: Getty Images ?? Entre 2018 e 2019, cerca de 12,5 milhões de pessoas deixaram de usar os ônibus como principal modal de deslocamen­to
Foto: Getty Images Entre 2018 e 2019, cerca de 12,5 milhões de pessoas deixaram de usar os ônibus como principal modal de deslocamen­to

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil