Com escalada militar em Gaza, cresce violência dentro de Israel
Conflitos se intensificam, com disparo de foguetes palestinos da Faixa de Gaza respondidos com ataques aéreos, em uma escalada de violência que já deixou mais de 70 mortos; extremistas árabes e judeus se enfrentam nas ruas de várias cidades israelenses
Radicais islâmicos dispararam ontem mais de mil foguetes contra Israel, que matou líderes do Hamas. A escalada alimenta distúrbios entre judeus e cidadãos árabes, com choques em várias cidades israelenses.
O conflito entre israelenses e palestinos se intensificou ontem. A escalada da violência seguiu o mesmo roteiro: os disparos de foguetes da Faixa de Gaza foram respondidos com bombardeios ao enclave. O Exército de Israel disse ter matado 14 comandantes do Hamas, que governa o território. Outro reflexo do agravamento da crise foi a ampliação dos distúrbios dentro de Israel.
Grupos de judeus e árabes voltaram a se enfrentar ontem na cidade de Lod – uma pessoa morreu, 11 ficaram feridas e 20 foram presas nos últimos três dias. Extremistas judeus marcharam pelas ruas de Bat Yam, subúrbio de Tel-aviv, cantando slogans racistas e depredando lojas de comerciantes árabes. Imagens mostraram uma tentativa de linchamento de um palestino.
Em Acre, no sul de Israel, a mesma cena, mas com sinais invertidos: um grupo de árabes espancou um judeu, que foi internado em estado grave. No norte da Cisjordânia, um homem feriu a tiros duas pessoas. A polícia confirmou o ataque e disse ter “neutralizado” o atirador – sem dar mais detalhes. Em Tiberíades, no norte do país, jovens judeus ultranacionalistas marcharam pelas ruas da cidade atacando árabes e destruindo carros.
As cenas de violência dentro de Israel chocaram a classe política.
Naftali Bennett, líder do partido Yamina, que negocia uma coalizão para substituir o premiê, Binyamin Netanyahu, pediu calma. “As cenas em Bat Yam são horríveis. Este não é o caminho. Ferir inocentes não é judeu, é imoral e desumano”, disse. “Parem agora, não façam
justiça com as próprias mãos.”
Yair Lapid, outro candidato a substituir Netanyahu, foi ainda mais duro. “Os arruaceiros em Lod e Acre não representam todos os árabes israelenses, assim como os vândalos de Bat Yam e os grupos judeus de extrema direita são um bando de racistas patéticos que não representam os judeus de Israel.”
Falando ao Canal 12, o presidente de Israel, Reuven Rivlin, pediu o fim da “loucura” nas ruas. “Estamos lidando com uma guerra civil entre nós sem motivo. Por favor, parem com
essa loucura.” Até Bezalel Smotrich, líder do Partido Sionista Religioso, de extrema direita, se disse “chocado”. “Acabei de ver um vídeo de judeus atacando um árabe inocente e estou chocado e com vergonha do fundo da minha alma.”
Enquanto isso, em Gaza, militantes palestinos dispararam ontem mais de mil foguetes contra Israel. Ao todo, sete israelenses morreram – quatro apenas em um período de 24 horas, incluindo um soldado e uma criança de 6 anos. Os bombardeios israelenses mataram 65 palestinos, sendo 16 crianças.
O Exército de Israel disse que os ataques de ontem mataram Bassem Issa e vários outros líderes do Hamas, incluindo os chefes de desenvolvimento e produção de foguetes e engenharia. A morte de Issa foi confirmada pelo Hamas.
Sem fim. A julgar pelas declarações de ambos os lados, o conflito tende a se agravar. Benny Gantz, ministro da Defesa de Israel, disse ontem que os ataques não têm data para acabar. “Israel não está se preparando para um cessar-fogo. Não há data para o fim das operações”, afirmou. Já Netanyahu prometeu fazer os palestinos pagarem um preço alto pela agressão. “Esta campanha levará tempo”, disse o premiê.
Moussa Abu Marzouk, número 2 do Hamas, também adotou um tom desafiador. “Os europeus nos contataram e nos pediram para pararmos de disparar mísseis de curto alcance, caso contrário, eles não participariam da reconstrução de Gaza. Eu disse a eles que sim, vamos parar de lançar mísseis de curto alcance e passaremos a disparar os de longo alcance.” /