O Estado de S. Paulo

Rapidez é ‘essencial’, diz farmacêuti­ca em carta

CEO da Pfizer enviou documento ao governo em setembro de 2020, sem resposta; contrato só foi fechado em março deste ano

- / AMANDA PUPO, MATHEUS DE SOUZA e PEDRO CARAMURU

Em carta enviada ao presidente Jair Bolsonaro, em setembro de 2020, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, alertou que havia feito uma proposta ao Ministério da Saúde para fornecer a vacina contra covid-19, até então em desenvolvi­mento, sem que tivesse obtido uma resposta do Brasil. Bourla advertiu que a celeridade nas negociaçõe­s era “essencial” e “crucial” em razão da alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020.

Segundo o CEO, até aquele momento representa­ntes da empresa no País já haviam se reunido com o Ministério da Economia, com a Embaixada do Brasil nos EUA, e com o Ministério da Saúde. “Apresentam­os uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiro­s, mas até o momento não recebemos uma resposta”, afirmou Bourla na carta. “Sabendo que o tempo é essencial, minha equipe está interessad­a em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com Vossa Excelência ou representa­ntes do governo brasileiro o mais rapidament­e possível”.

A correspond­ência foi entregue ontem à CPI da Covid pelo ex-secretário de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a Fábio Wajngarten. Segundo ele, a carta ficou dois meses sem resposta. Em depoimento, ele disse que, ao tomar conhecimen­to do documento, em novembro, respondeu no mesmo dia ao escritório da Pfizer em Nova York.

Segundo Wajngarten, até então nenhuma autoridade tinha retornado ao CEO da Pfizer, que também endereçou a carta ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ao então ministro da Casa Civil (hoje Defesa), Walter Braga Netto, ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, ao ministro da Economia, Paulo Guedes, e ao embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Nestor Foster.

No documento, Bourla relatou que a vacina da Pfizer era uma opção “muito promissora” para ajudar o governo brasileiro a mitigar a pandemia. “Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020”, alertou.

O CEO da Pfizer também escreveu sobre o acordo que tinha fechado com os Estados Unidos para fornecer 100 milhões de doses, com a opção de oferecer 500 milhões adicionais, além de acordos com outros países para fornecimen­to de outras 200 milhões de doses. “Estamos no caminho certo para buscar uma revisão regulatóri­a de nossa vacina em outubro de 2020, com centenas de milhares de doses já produzidas”, escreveu Bourla.

Apesar da iniciativa da empresa, o Brasil só fechou o primeiro contrato com a Pfizer em março deste ano, cerca de sete meses depois do envio da carta. Em janeiro, o Ministério da Saúde chegou a criticar a proposta, afirmando que a aquisição de número restrito funcionari­a como uma “conquista de marketing” para a fabricante e uma “frustração” para os brasileiro­s.

A CPI colhe hoje, a partir das 9 horas, o depoimento do gerente geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, que deve falar sobre a carta e a negociação com o governo brasileiro.

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