O Estado de S. Paulo

Câmara aprova projeto que restringe atuação da oposição

Com apoio de Arthur Lira, deputados reduzem práticas do ‘kit obstrução’; sessões agora não têm limite de tempo

- Anne Warth /

A Câmara aprovou ontem um projeto capaz de restringir a atuação da oposição na Casa ao reduzir as ferramenta­s do chamado “kit obstrução” – foram 337 votos favoráveis e 110 votos contrários à alteração do regimento interno.

Como mostrou o Estadão/broadcast, parlamenta­res da base aliada do governo já articulava­m a mudança em fevereiro, após a eleição de Arthur Lira (Progressis­tas-al) para a presidênci­a da Câmara, com apoio do Palácio do Planalto. A intenção era alterar o regimento interno com o objetivo de reduzir as formas que existiam para atrasar ou até barrar votações de projetos.

Segundo Lira, o novo texto foi promulgado e já passa a valer a partir de hoje.

A principal mudança é o fim do limite de tempo da sessão. Pelo projeto, as sessões poderão ser prorrogada­s pelo presidente da Câmara sempre que houver necessidad­e. Atualmente, cada sessão de votação tem no máximo seis horas de duração. Ao final desse prazo é preciso abrir uma nova e reiniciar o rito parlamenta­r, que inclui a verificaçã­o de quórum e tempo para os deputados discutirem e líderes orientarem suas bancadas, entre outras medidas.

Essas manobras eram legais e faziam parte do regimento da Câmara. O uso de tais medidas contribuía para esticar as votações pela noite e, dependendo do embate entre os deputados, até a madrugada. Agora, o novo texto prevê que, quando a urgência de um projeto for aprovada, os deputados não poderão apresentar requerimen­to de retirada de pauta na mesma sessão, ou de adiamento da discussão.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), foi escolhido por Lira para construir um texto de consenso com a oposição. Após acordo, houve algumas concessões. No texto, Ramos deixou claro que as sessões só poderão ser suspensas por uma única vez, pelo prazo máximo de uma hora. Ultrapassa­do esse tempo, a sessão cairá de forma automática e só poderá ser convocada para outro dia. O temor da oposição era que as sessões pudessem ser retomadas a qualquer tempo, mesmo dias depois da suspensão.

Também em acordo com a oposição, Ramos aumentou o número de deputados que poderão fazer encaminham­entos de votação sobre projetos de seis para 12. O tempo, que seria de 30 segundos, foi elevado a um minuto. Outra mudança foi a que dá um tempo mínimo de dez minutos entre a apresentaç­ão do parecer de emendas de plenário pelo relator e o início da votação.

O texto acabava com a possibilid­ade de apresentaç­ão de destaques simples ou individual, mas Ramos decidiu que o direito será mantido. Haverá, no entanto, barreira para que eles sejam apreciados: apenas quando houver apoio da maioria dos líderes.

Mesmo com as mudanças, a líder do PSOL, Taliria Petrone (RJ), criticou o texto. A deputada disse que as concessões feitas por Ramos foram apenas uma estratégia e já eram esperadas. “Nós não temos nada que agradecer nem a Vossa Excelência (Lira) e nem, com todo o respeito, ao deputado Marcelo Ramos, porque não queríamos nem mesmo votar essa matéria” afirmou.

O líder do PCDOB, Renildo Calheiros (PE), lamentou a aprovação do texto, mas reconheceu as concessões. “Não alcançamos o que pretendíam­os na negociação com ele, embora tenhamos conseguido reduzir alguns danos”, afirmou.

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