O Estado de S. Paulo

3 PERGUNTAS PARA

- Isaac Schrarstzh­aupt, coordenado­r da Rede Análise Covid-19

1. Como avalia o momento atual da pandemia pelo qual passa o Brasil? Tivemos um aumento forte em fevereiro e março e a grande maioria dos Estados adotou medidas e reduziu a mobilidade, e com isso conseguiu ao menos desacelera­r. Sempre faço a analogia de um foguete subindo e fomos lá e desacelera­mos, mas ele ficou lá em cima na estratosfe­ra e não cai sozinho. Temos de continuar fazendo com que as pessoas fiquem longe uma das outras para não transmitir o vírus. Logo que começamos a reduzir os casos, já aumentamos a mobilidade de novo na grande maioria dos Estados. Quando isso foi acontecend­o, essa queda de casos já começou a desacelera­r. A velocidade da queda foi cada dia um pouco mais lenta até se transforma­r em estabiliza­ção. Em alguns Estados, no Nordeste, a estabiliza­ção já indica aumento de casos. No Sudeste, em São Paulo, há uma estabiliza­ção em um patamar elevado.

2. Sabemos que alta de casos pode indicar uma futura alta de óbitos. Qual o papel da vacinação nessa conta? O único fator novo é que temos uma pequena parte da população brasileira imunizada em relação aos outros aumentos que vimos no passado. É muito pouco ainda na população em geral. Se os idosos imunizados vivessem numa cidade-bolha onde só eles morassem, seria um local muito bem protegido porque 100% dos habitantes estariam imunizados e a cobertura vacinal daria a imunidade coletiva. Como esses idosos estão pulverizad­os, ainda há a possibilid­ade de continuida­de da transmissã­o, podendo gerar surtos em diferentes faixas etárias ainda não imunizadas com capacidade de sobrecarre­gar hospitais. Aumentar a mobilidade neste momento é continuar desafiando o vírus.

3. Diante da alta de casos, como vê a perspectiv­a para o Brasil nos próximos meses?

Temos o risco de enfrentar um novo platô, com a manutenção de 2 mil óbitos por dia, pois a transmissã­o segue alta, com muitas hospitaliz­ações. A isso se soma a dificuldad­e de acesso a vacinas e a chegada do inverno, período que facilita a transmissã­o de vírus respiratór­ios. Ainda que a covid-19 não tenha demonstrad­o muito uma variação pela estação, é uma época de frio e de locais fechados. Na pior das hipóteses, veremos novo aumento na curva de mortes. /M.A.C.

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