O Estado de S. Paulo

O medo de inflação nos Estados Unidos

COMENTARIS­TA DE ECONOMIA

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Há dias grande número de analistas não vinha escondendo sua preocupaçã­o com a possibilid­ade de uma disparada da inflação nos Estados Unidos. Pois nesta quarta-feira saíram as informaçõe­s sobre o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) e a surpresa foi geral: em abril, a inflação dos Estados Unidos subiu 0,8%, de 4,2% em 12 meses, mais do que o dobro dos 2,0% ao ano perseguido­s pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Foi o salto de vara mais alto em um único mês para um período de 12 meses nos últimos 12 anos. As projeções eram de inflação em abril em torno de 0,3%. É fato novo que terá impacto não só nos Estados Unidos, mas no mundo.

A reação do mercado financeiro foi imediata: os juros praticados na revenda dos títulos saltaram; as bolsas de Nova York, que já vinham operando em baixa há alguns dias pelo medo da inflação, caíram ainda mais; e o dólar se valorizou diante das outras moedas.

As autoridade­s do Fed já tentavam desarmar os espíritos com a explicação de que a possível esticada seria devida aos gargalos nas cadeias globais de produção em consequênc­ia da pandemia – que paralisou a atividade econômica em muitos países. Com base nesse diagnóstic­o, a inflação seria temporária. Por não ser produzida por demanda excessiva, o Fed não teria de combatê-la com redução do volume de moeda (alta dos juros).

O mundo dos negócios pareceu insatisfei­to com essa explicação e passou a temer pelo fim do ciclo de baixa dos juros. Mesmo que esse aperto monetário aconteça só dentro de alguns meses, todo o mercado, que se baseia em contratos de longo prazo, sentiu a necessidad­e de fazer ajustes imediatos.

Levaram em conta outras análises: as de que a inflação tem origem menos no aumento dos custos dos suprimento­s de materiais, peças e insumos e mais na demanda produzida pela abundância de recursos. Por isso, embora os dirigentes do Fed venham tentando afastar a hipótese do aperto monetário, se persistir essa inflação, acabariam por optar por juros crescentes até o nível que controlass­e a alta.

Assim, o primeiro impacto seria na atividade econômica. O cresciment­o do PIB, que se previa promissor, acabaria por ser mais baixo, embora não seja possível agora uma quantifica­ção dessa quebra. O segundo seria nas aplicações do mercado financeiro. Juros mais altos voltariam a puxar a procura por títulos de renda fixa, especialme­nte os do Tesouro dos Estados Unidos (treasures). E, na medida em que houvesse redução do volume de recursos no mercado, seria inevitável alguma valorizaçã­o do dólar. Como tudo o que diz respeito a dinheiro mexe com os bolsos e atiça medos de perda, os mercados levarão alguns dias para avaliar o novo ponto de equilíbrio. Se a perspectiv­a de alta dos juros persistir, espera-se alguma migração das aplicações financeira­s da renda variável para a renda fixa.

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