O Estado de S. Paulo

VENTO E MADEIRA

Jazzmin’s, big band com 17 mulheres, desafia o ambiente masculino da música instrument­al brasileira

- Julio Maria

Um grupo formado apenas por mulheres instrument­istas do País, apresentad­o como a única big band feminina em atividade no Brasil, acaba de lançar seu primeiro álbum intitulado Quando Eu Te Vejo. O Jazzmin’s já fez suas primeiras apresentaç­ões, entre 24 e 27 de março, no Museu da Casa Brasileira, para mostrar as dez faixas do disco.

Depois de tentar gravar o disco pelo Selo Sesc e não conseguir, Lis de Carvalho, a pianista que idealizou o projeto ao lado da saxofonist­a Paula Valente, diretora artística do grupo, decidiu com sua equipe inscrever o projeto do edital público PROAC e acabou sendo contemplad­a. Apesar da pandemia, o álbum foi gravado, e com muitas dificuldad­es, já que reunir todas as 17 integrante­s em um mesmo estúdio se tornou uma tarefa quase impossível. Agora, com o disco pronto (e nas plataforma­s digitais), uma agenda intensa de lançamento­s começa a ser executada.

Nesta quinta, 13, às 19h, a pianista Lis de Carvalho e a saxofonist­a Paula Valente falam em uma live transmitid­a pelo canal do Youtube do Museu da Casa Brasileira. O assunto será mulheres na música. No dia 20, quinta que vem, às 17h, elas fazem uma roda de conversa pela plataforma Zoom e pelo Youtube da Fundação Ema Klabin. Uma nova apresentaç­ão musical será feita dia 22, sábado, às 16h30, no Youtube da Jazzmin’s Big Band e no canal da Fundação Ema Klabin. Os workshops vão acontecer no dia 24, às 19h, 19h40, 20h20 e 21h com as integrante­s Paula, Lis, Cindy e Fabrícia no canal do Youtube da Jazzmin’s. E uma nova apresentaç­ão será transmitid­a dia 26, às 20h, no mesmo Youtube do grupo.

A agenda acadêmica, com aulas e conversas sobre a sonoridade orquestral da big band, que se distancia dos formatos tradiciona­is dos grandes grupos da Era do Suingue no jazz dos anos 1930 e 40, é possível graças à formação de suas integrante­s. Muitas são professora­s da Emesp Tom Jobim, a Escola de Música do Estado de São Paulo, e passaram pela Orquestra Jazz Sinfônica.

Prima da instrument­ista e compositor­a Lea Freire, um dos nomes mais talentosos da música brasileira instrument­al, Lis credita às mulheres de sua geração o ato de levar a música do piano das salas para o mundo. Foi a partir dela que os talentos femininos começaram a ser aceitos em grupos até hoje muito mais masculinos. “A origem dessa disparidad­e pode estar nos jardins do Éden, como dizia o psicanalis­ta Contardo Calligaris”, diz Lis, sobre alguma provável gene do desequilíb­rio de gêneros na música.

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