O Estado de S. Paulo

Cenário sombrio

- ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

Um segundo turno entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro oporia o atraso ao retrocesso, a indecência à imoralidad­e, a desfaçatez ao cinismo.

Amais recente pesquisa de intenção de voto para a eleição presidenci­al de 2022 realizada pelo Datafolha mostra o ex-presidente Lula da Silva na liderança, com 41%. Em segundo lugar aparece o atual presidente, Jair Bolsonaro, com 23%. A distância entre o líder petista e o presidente Bolsonaro já impression­a, mas é também impression­ante o fato de que Lula possa vencer ainda no primeiro turno, pois está somente seis pontos porcentuai­s abaixo da soma de todos os demais candidatos apresentad­os (incluindo Bolsonaro). E esse dado causa admiração especialme­nte porque Lula da Silva representa tudo o que o Brasil vem repelindo, eleição após eleição, desde 2016.

Recorde-se, porque aparenteme­nte o País esqueceu, que Lula da Silva comanda com mão de ferro um partido que protagoniz­ou os maiores escândalos de corrupção da história nacional. Digam o que disserem os advogados dos “guerreiros do povo brasileiro”, como os petistas condenados foram chamados por seus correligio­nários, o fato é que bilhões foram desviados da Petrobrás e de outras fontes para financiar o projeto autoritári­o de poder lulopetist­a.

Recorde-se ainda que Lula da Silva recuperou seus direitos políticos não por ter sido absolvido das cabeludas acusações de corrupção que pesam contra ele, mas porque o Supremo Tribunal Federal considerou que o expresiden­te não foi julgado em foro adequado e que o juiz que o condenou na primeira instância era suspeito. Ele não foi inocentado e os processos contra Lula continuam correndo.

O partido de Lula da Silva, ademais, estrelou a mais profunda crise econômica da história recente do País, fruto exclusivo da estatolatr­ia lulopetist­a, desperdiça­ndo histórica oportunida­de para promover um salto no desenvolvi­mento nacional.

Ressalte-se que esse desastre se deu, sobretudo, no governo de Dilma Rousseff, criatura de Lula da Silva. O fato de que hoje o demiurgo de Garanhuns se esquece de citar Dilma em seus discursos, torcendo para que os brasileiro­s se esqueçam do terrível período entre 2011 e 2016, não faz da ex-presidente uma entidade etérea do folclore nacional, ao lado do saci-pererê e da mula sem cabeça.

Dilma Rousseff é bem real, e seu governo patrocinou um dramático retrocesso social, a despeito da propaganda oficial petista. Entre 2014 e 2016, enquanto seu governo festejava a realização da Copa do Mundo e da Olimpíada no Brasil, cresceu em 53% a fatia da população que vivia com renda inferior a um quarto de salário mínimo por mês, conforme dados do IBGE.

É essa impostura que o sr. Lula da Silva representa. O País já deveria ter entendido com quem está lidando, pois lá se vão quatro décadas desde a fundação do PT, mas aparenteme­nte muitos eleitores ignoram ou relativiza­m as muitas evidências de que Lula da Silva representa o atraso e, já testado e reprovado, é incapaz de propor alternativ­as racionais e eficientes para tirar o Brasil de sua imensa e longa crise.

Mantido o cenário constatado pelo Datafolha, vislumbra-se ou um segundo turno entre Lula da Silva e Bolsonaro ou até mesmo uma vitória do petista ainda no primeiro turno, já que 54% declararam que não votarão no presidente de jeito nenhum e somente 24% aprovam seu governo.

É o pior dos mundos. Um segundo turno entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro oporia o atraso ao retrocesso, a indecência à imoralidad­e, a desfaçatez ao cinismo. É impossível que o desfecho de tal disputa resulte em algo positivo para o País, especialme­nte porque, em qualquer dos casos, o vencedor certamente aprofundar­á a discórdia entre os brasileiro­s.

A própria pesquisa, no entanto, indica que há uma boa chance de evitar tal desastre. No levantamen­to com respostas espontânea­s – quando o eleitor cita o nome do candidato que lhe vem à cabeça –, 49% dos entrevista­dos dizem não saber em quem pretendem votar. Há, portanto, um imenso campo para que um candidato de centro, que defenda a responsabi­lidade na administra­ção pública e resgate o diálogo político como a essência da democracia, possa se apresentar a esse significat­ivo contingent­e de eleitores, cansados da gritaria petista e bolsonaris­ta.

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