O Estado de S. Paulo

• ANÁLISE:

Especialis­ta vê influência do Irã no sistema de armas do grupo palestino, capaz de burlar o Domo de Ferro e atingir cidades distantes

- Roberto Godoy

Foguetes do Hamas fornecidos pelo Irã estão mais precisos. Alguns podem ter sido feitos em Gaza.

Centenas de foguetes disparados desde segunda-feira pelo Hamas foram intercepta­dos pelo Domo de Ferro, o sistema de proteção de Israel, mas dezenas caíram sobre cidades israelense­s, matando pelo menos sete pessoas, destruindo casas e carros. Os danos que os foguetes conseguira­m provocar desta vez levaram ao questionam­ento sobre quais foram as mudanças no arsenal do Hamas desde o conflito de 2014.

Na quinta-feira, o porta-voz militar do Hamas, Abu Ubaidah, anunciou que o grupo havia usado um novo foguete chamado “Ayyash 250” para atacar Tel-Aviv. O projétil tem um alcance de mais de 250 quilômetro­s, segundo o Hamas, embora as alegações não tenham sido verificada­s de forma independen­te.

Ian Williams, pesquisado­r do Centro de Estudos Estratégic­os e Internacio­nais e vicedireto­r do Projeto de Defesa de Mísseis, disse que o lançamento de foguetes de Gaza nos últimos dias revelou uma maior influência iraniana no programa de armas do Hamas. “Estamos vendo isso no volume que o Hamas é capaz de disparar e na precisão, que é maior do que vimos no passado”, afirmou.

As forças de segurança de Israel sabiam que o Hamas era capaz de atingir Jerusalém, mas o fato de o grupo ter lançado sete foguetes contra a cidade na segunda-feira pegou as autoridade­s de surpresa. Nos ataques contra Tel-Aviv foi usado um número maior de foguetes com alcance superior.

Williams acredita que a precisão dos foguetes dos militantes palestinos melhorou, já que o sistema de defesa aérea parece estar sendo acionado mais do que no passado. O Domo de Ferro só entra em ação quando os foguetes parecem estar no caminho certo para atingir uma área povoada ou infraestru­tura importante.

Fabian Hinz, analista de inteligênc­ia especializ­ado em mísseis do Oriente Médio, disse que, embora o Hamas e outros grupos pareçam ter tentado adicionar sistemas de orientação de precisão a seus foguetes, não há evidências de que tenham sido bem-sucedidos. “Existem alguns ataques que atingiram seus alvos muito bem, mas pode ser que eles sejam atiradores de sorte.”

Segundo Hinz, o Hamas adquiriu alguns projéteis do exterior, incluindo foguetes Fajr 3 e 5, do Irã, e foguetes M302, da Síria, mas o grupo agora é capaz de produzir foguetes domésticos com alcance de quase 160 quilômetro­s, tecnicamen­te colocando a maior parte de Israel dentro do alcance.

Embora tenha se tornado cada vez mais difícil obter armas totalmente montadas do exterior depois do fechamento da fronteira com o Egito, os líderes do Hamas se gabaram, em um programa da Al-Jazira, em setembro, de que haviam conseguido infiltrar mísseis Fajr e projéteis antitanque­s russos Kornet em Gaza por terra e mar. O grupo produz a maior parte de suas armas em instalaçõe­s próprias usando materiais caseiros e contraband­eados pelo Irã e pelo grupo militante libanês Hezbollah.

As estimativa­s sobre o tamanho do arsenal variam. Michael Herzog, general de brigada aposentado do Exército de Israel, que agora é membro do Washington Institute, estima que o grupo poderia ter de 8 mil a 10 mil projéteis. Alguns analistas dizem que é difícil saber exatamente o tamanho do arsenal do Hamas e da Jihad Islâmica, mas eles parecem ter aumentado.

Provavelme­nte, a maioria dos foguetes é de curto alcance capaz de viajar apenas de 10 a 20 quilômetro­s da fronteira, disse Herzog. “Mas um número consideráv­el do estoque de armas do Hamas consiste em foguetes de longo alcance capazes de atingir grandes centros populacion­ais em Israel”, acrescento­u.

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