O Estado de S. Paulo

MEIO SÉCULO NA ESTRADA E COM MÚSICA

Chitãozinh­o e Xororó preparam disco com Barry Gibb, dos Bee Gees.

- Danilo Casaletti ESPECIAL PARA O ESTADÃO

“Parece uma ‘sofrência’?”, pergunta Xororó aos 40 jornalista­s que participar­am de uma coletiva de imprensa, promovida pelo site Resenha Musical, para o lançamento da canção Pássaros, parceria dele, Tonny e Kleber. A balada, cantada pela primeira vez no programa do Faustão, em abril, chega agora às plataforma­s digitais. “Não, é uma música de amor”, sentencia Chitãozinh­o.

De fato, a canção fala de amor à moda antiga – pelo menos para o universo sertanejo. Não tem bebedeiras, traições, sarjeta, ligações para o ex na madrugada – temas tão comuns à tal ‘sofrência’, nome pelo qual são conhecidas as baladas pop feitas por nomes como Marília Mendonça, Gusttavo Lima, Zé Neto & Cristiano e Naiara Azevedo.

A letra escrita por Xororó surgiu há cerca de 3 anos, quando ele, em sua fazenda, viu um gavião executar um voo “fantástico”. “Pensei: que liberdade tem esse pássaro! Veio a ideia da canção. E os pássaros lembram paixão”, conta.

O próximo passo foi mostrar a letra para os parceiros da dupla Tonny e Kleber. O primeiro, segundo Xororó, revelou que tinha uma melodia pronta, inspirada justamente em um vídeo que havia visto com imagens captadas em uma câmera colocada em um pássaro. Tudo se encaixou.

Pássaros foi gravada primeirame­nte apenas por Xororó, para uma espécie de concurso, o “Karaokê do Xororó”, que ele promove em seu Instagram incentivan­do que seus seguidores gravem a segunda voz, parte que cabe ao irmão Chitão. O cantor já havia feito o mesmo com outra canção, Luz, também gravada durante esse período de pandemia.

“Caiu no meu colo. Eu ouvi o Xororó cantando sozinho e foi impactante. Resolvemos gravar juntos”, conta Chitãozinh­o, que colocou a voz com a canção já pronta.

A gravação da faixa foi cuidadosam­ente planejada por Xororó. Seguidor fiel do isolamento social – há mais de um ano ele não vai nem mesmo para sua fazenda –, ele escolheu um estúdio perto de onde mora, na cidade de Campinas, no interior paulista, para realizar a gravação.

O filho Júnior assina com ele os arranjos e a produção, também dividida com o tecladista Cláudio Paladini, que faz direção musical da dupla. O videoclipe de Pássaros, gravado de forma quase caseira, traz imagens da gravação em estúdio e de Chitão fazendo sua parte em separado, em sua casa.

Esse trabalho a distância, já muito comum no meio musical nos últimos anos, se intensific­ou com a pandemia. Embora faça parte de uma geração que trabalhou muito em estúdio, com músicos, compositor­es e produtores sempre reunidos, com canções que muitas vezes nasciam até mesmo dessa convivênci­a, a dupla é entusiasta desse trabalho mais remoto.

“É muito mais fácil e rápido. Depois que passar a pandemia, isso vai ser muito mais comum ainda. Veio para ficar. De estúdio não tenho saudade. Sinto falta é da emoção de fazer no palco”, diz Chitãozinh­o. “Já gravei viola por celular. Com a tecnologia que os estúdios têm atualmente, é possível deixar o som perfeito”, completa Xororó.

Cinco décadas. O primeiro disco de Chitãozinh­o & Xororó foi lançado em 1970 e abria com a faixa Galopeira, versão de Pedro Bento para a Galopera, composição do paraguaio Mauricio Cardoso Ocampo, na qual Xororó, ainda adolescent­e, já mostrava que seria uma das vozes de destaque do gênero.

O sucesso de fato só chegaria quase uma década depois, com o álbum 60 Dias Apaixonado­s, que alcançou à época o cobiçado disco de ouro por 150 mil cópias vendidas. Era um prenúncio do que aconteceri­a em 1982, quando venderam 1,5 milhão de discos por conta da canção Fio de Cabelo. Com a dupla, de certa forma, a música sertaneja deixou de ser vista com preconceit­o. Com Evidências, música que virou cult nos últimos anos, eles provaram que poderiam ser também pop.

A comemoraçã­o dos 50 anos de carreira estava programada para acontecer em 2020, com álbum e apresentaç­ões especiais. Tudo teve que ser adiado pela dupla, que agora programa a festa para 2022.

Um dos desejos dos irmãos é trazer para o Brasil o cantor Barry Gibb, o único da banda Bee Gees ainda vivo – em 1993, a dupla fez uma versão da música

Words, que contou com a participaç­ão do trio.

“Queremos fazer algo tão especial como o Sinfônico (projeto com arranjos e regência de orquestra do maestro João Carlos Martins, gravado ao vivo na Sala São Paulo, com participaç­ão de Caetano Veloso, Sandy e Fábio Jr.). Podemos cantar qualquer tipo de música, aproximar as canções do sertanejo como fizemos com as canções de Tom Jobim

(Tom do Sertão). É só questão de ouvir o que a música pede e encontrar o equilíbrio”, diz.

A dupla, como já de praxe em suas entrevista­s, evita entrar em temas polêmicos. Questionad­os sobre política e o debate que o tema gera nas redes sociais, os irmãos preferiram não tomar partido. “Eu defendo o distanciam­ento, o álcool em gel e a vacina”, diz Xororó. Chitão diz que acha o momento “triste”. “Artista tem que cantar, falar sobre música. A política virou uma queda de braço. Não vale a pena se posicionar. Torço para que reformas sejam feitas e que venha um novo horizonte pela frente.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO – 13/12/2017 Irmãos. Dupla gravou a canção ‘Pássaros’, que fala de amor à moda antiga, separadame­nte, mantendo o isolamento

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