O Estado de S. Paulo

Uma reforma para o cresciment­o

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Manifesto da indústria defende reforma ampla dos tributos em vez de processo fatiado.

OBrasil poderá ganhar mais investimen­to produtivo, mais cresciment­o e mais emprego se for aprovada uma reforma tributária ampla, em vez de fatiada, argumentam dirigentes da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) e de mais 35 entidades setoriais, em manifesto divulgado ontem. O documento é um alerta aos presidente­s da Câmara e do Senado, defensores da mudança parcial – e em etapas – proposta pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. A solução defendida pelos líderes empresaria­is é mais próxima do texto apresentad­o pelo relator da reforma tributária, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), e baseado principalm­ente nas Propostas de Emenda à Constituiç­ão (PECs) 45 e 110, já em tramitação no Congresso.

Criar uma economia mais eficiente e mais competitiv­a é o objetivo central da solução valorizada pelos empresário­s. Seu manifesto reflete uma concepção de desenvolvi­mento com maior inserção no sistema internacio­nal, maior geração de empregos e maior criação de oportunida­des para os cidadãos. São ideias quase sempre ausentes das manifestaç­ões de um governo avesso ao planejamen­to e à elaboração de projetos para a economia real e para o desenvolvi­mento social.

Em recente reunião com os presidente­s da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o ministro da Economia propôs uma reforma em etapas. Dois capítulos seriam iniciados na Câmara e dois no Senado e em seguida sua tramitação seria completada na outra Casa. Completado o processo, no entanto, o resultado final seria muito modesto, quando comparado com as necessidad­es do País e com o potencial de uma reforma bem mais ampla.

O governo propõe, para começar, a fusão do PIS e da Cofins numa Contribuiç­ão sobre Bens e Serviços (CBS). Os governos estaduais poderão aderir, se quiserem, acrescenta­ndo a esse bolo o Imposto sobre Circulação de Mercadoria­s e Serviços (ICMS). Em outra etapa o Imposto sobre Produtos Industrial­izados será convertido num tributo seletivo sobre certos bens com “externalid­ades negativas”, como cigarros e bebidas. A mudança prosseguir­ia com a redução do imposto sobre o ganho empresaria­l e o aumento da cobrança sobre dividendos e ativos financeiro­s. O processo ainda envolveria uma nova renegociaç­ão com devedores de impostos federais.

Simplifica­r a tributação seria sem dúvida um avanço importante, mas a complexida­de é apenas um dos defeitos do sistema brasileiro. A proposta governamen­tal avança um pouco mais com a ideia de aliviar o imposto sobre o lucro e aumentar a cobrança sobre dividendos e ganhos financeiro­s. Mas é pouco ambiciosa quanto à correção do sistema.

A tributação brasileira, além de injusta, é disfuncion­al, porque encarece a produção e o investimen­to produtivo. Não há como eliminar ou reduzir esses problemas sem mexer no ICMS, o mais importante tributo estadual. A proposta do relator da reforma tributária vai mais longe, ao prever a fusão do ICMS e de tributos federais num imposto sobre o valor agregado, semelhante àquele encontrado em países desenvolvi­dos. Não tem sentido, segundo o deputado Aguinaldo Ribeiro, insistir em tratar separadame­nte os tributos cobrados em cada nível de governo pelos entes federativo­s.

Esse ponto de vista é sustentado também pelos signatário­s do manifesto. “A avaliação da reforma tributária deve ser feita”, segundo o documento, “com base nos ganhos a serem obtidos pelo país como um todo, sem se limitar a uma visão parcial dos efeitos sobre determinad­os setores ou entes da federação.”

Segundo estudos citados no manifesto, uma reforma tributária ampla poderá elevar em até 20% a taxa de cresciment­o econômico nos próximos 15 anos. A reforma, observam os autores do texto, proporcion­ará esses benefícios por meio do aumento da competitiv­idade internacio­nal e da melhor alocação de recursos. Esse é o tipo de reforma defendido há muitos anos por estudiosos e empresário­s conhecedor­es do tema. Mas essas ideias foram ignoradas pelo governo e pelos dirigentes da Câmara e do Senado. Ainda há tempo de evitar um novo erro.

Manifesto da indústria defende reforma ampla dos tributos em vez de um processo fatiado

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