Um PIB mais forte
Já dá para esperar por mais crescimento econômico neste ano no Brasil. Prévia do PIB reforçou essa aposta.
Já dá para esperar por mais crescimento econômico neste ano no Brasil. A chamada prévia do PIB, que é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), divulgada nesta quinta-feira, reforçou essa aposta. Não é ainda a arremetida em “V” tão prometida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, mas é mais do que vinha sendo esperado até agora.
Três puxadores de PIB estão em plena carga. São eles: o novo ciclo de alta das commodities; a forte retomada da economia global, principalmente na China e nos Estados Unidos; e, apesar dos pesares, a vacinação no Brasil começa a permitir maior flexibilização do distanciamento social e mais atividade econômica. É o que precisa ser mais bem avaliado.
A boa fase das exportações de produtos primários pelo Brasil, especialmente minérios e proteína (vegetal ou animal), não é apenas episódica. Está amarrada a robusto aumento da demanda externa que, por sua vez, tem a ver com o segundo fator, a retomada.
Apesar do esticão da inflação, o impressionante dinamismo da economia dos Estados Unidos e da China não é apenas o resultado do reaquecimento dos negócios depois da paralisação provocada pela pandemia. Está sendo empurrado por enorme despejo de recursos. O governo Biden está negociando com o Congresso o pacote de infraestrutura de US$ 2,3 trilhões, destinado a expandir a infraestrutura e fontes de energia limpa. Antes, US$ 1,9 trilhão foi aprovado para pagamento em auxílio de emergência para minimizar danos causados pela pandemia. E tem o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) que injeta, mensalmente, cerca de US$ 120 bilhões por meio da recompra de títulos.
A China, por sua vez, já vinha irrigando grandes investimentos em infraestrutura. E a União Europeia, graças a estímulos fiscais e monetários, já reviu seu crescimento econômico deste ano de 3,8% para 4,3%.
É o que explica o grande avanço da demanda de aço, metais não ferrosos (cobre, zinco, níquel) e minérios. O aumento da renda nesses países e principalmente na Ásia, por sua vez, expandiu o consumo de alimentos. São fatores de longo prazo que permitem pressupor que a maior demanda de produtos primários deva perdurar por três a cinco anos e favorecer o Brasil.
E há as vacinas, hoje o principal instrumento de política econômica, como vem repetindo o ministro Paulo Guedes. Mas é preciso ver o efeito do emperramento provocado pelo governo. Em consequência do negacionismo do presidente Bolsonaro e da política sanitária desastrada, a vacinação do brasileiro não só atrasou, mas está sendo realizada devagar demais e com muitas interrupções. Em todo o caso, já são quase 40 milhões de brasileiros que receberam ao menos a primeira dose. É a população mais vulnerável à covid-19, segura de não apresentar sintomas graves da doença e de infectar. Mais dois ou três meses e esse segmento de imunizados será de mais de 50 milhões no Brasil.
Não pode ser desprezado o outro acelerador da demanda, a nova rodada de distribuição do auxílio emergencial de R$ 43 bilhões, que deve favorecer 45,6 milhões de brasileiros.
Com isso, o comércio e as demais atividades econômicas poderão voltar à carga. Ah, sim, os mais prudentes advertem, com razão, de que há a considerar as novas cepas do vírus, o atraso de remessas de vacina e, ainda, a possibilidade do surgimento de outras ondas de ataque do coronavírus, como acontece na Índia. São incertezas, além das outras mencionadas a seguir, a que a economia brasileira está sujeita.
Mas não invalidam os prognósticos de maior crescimento econômico do que os 3,7% até recentemente projetados pelo FMI. Há quatro semanas, o mercado trabalhava com avanço do PIB em 2021 de 3,08%. Na semana passada, passou a contar com mais 3,21%, como mostra a pesquisa Focus do Banco Central, levantamento feito semanalmente com cerca de 120 consultores e analistas. Outros analistas já reviram suas projeções para cima.
Esta é a percepção do momento, porque estes mares estão sujeitos a outras tempestades. As contas públicas continuam em forte deterioração, as reformas se mantêm emperradas, o presidente é o que temos e a vida política, que é o que sabemos, passará agora por fortes turbulências, tanto mais fortes quanto mais perto estaremos das eleições. Mas alguma aposta para melhor poderá começar a prevalecer.