O Estado de S. Paulo

‘A vacina será o principal ativo do PSDB para 2022’

De saída do DEM, Garcia diz que nem mesmo a situação ruim de Doria nas pesquisas ao Planalto muda sua decisão

- Bruno Ribeiro Pedro Venceslau

Depois de 27 anos no DEM, o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, assina hoje sua filiação ao PSDB, ao lado do governador João Doria. O gesto representa o primeiro passo na estratégia de unificar a legenda em torno de uma eventual candidatur­a de Garcia ao Palácio dos Bandeirant­es, ano que vem, caso Doria deixe o cargo, em abril, para disputar a Presidênci­a. “A vacina será o principal ativo do PSDB em 2022”, diz o neotucano.

Esse ativo valeria tanto para a campanha estadual quanto para a federal, embora Doria apareça entre os últimos colocados nas pesquisas à sucessão presidenci­al e sua gestão enfrente desgastes por causa das medidas mais duras de isolamento social no enfrentame­nto à pandemia. Nesse cenário, mesmo diante do risco de Doria desistir da corrida ao Planalto e tentar a reeleição – hipótese que já admitiu ao Estadão –, Garcia avisa que nada muda sua decisão de migrar para o ninho tucano. “O meu projeto será o projeto do PSDB.”

O vice-governador era um dos quadros de destaque do DEM, mas tem histórico de proximidad­e com os tucanos. Foi secretário adjunto na gestão Mário Covas, secretário no governo Geraldo Alckmin e presidente da Assembleia Legislativ­a com apoio do PSDB.

Nesta entrevista exclusiva ao Estadão, Garcia se mostrou não apenas afinado com a estratégia de Doria para se viabilizar presidenci­ável, mas comprometi­do a manter o DEM integrado a esse projeto. Tanto que, ao contrário da debandada esperada no DEM fluminense, com a saída do prefeito do Rio, Eduardo Paes, e do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, o vice-governador não tem tentado levar outros prefeitos e deputados do partido para o PSDB. A seguir, leia os principais tópicos da entrevista.

SAÍDA PACÍFICA

“Não me sinto mudando de lado, mas fazendo uma transferên­cia para um partido do mesmo território e preservand­o a força do DEM em São Paulo para que ele possa continuar ajudando o PSDB a governar o Estado. A ideia é que eu faça essa filiação e os parlamenta­res e prefeitos do DEM continuem no partido.” Para Garcia, a legenda não vive uma crise de identidade e o presidente ACM Neto “vai saber reorganiza­r o DEM”. Além disso, ele acredita que o partido “vai fazer parte do centro democrátic­o, que é o lugar onde sempre esteve nos últimos anos”.

CENTRO DEMOCRÁTIC­O

Garcia insiste que é possível manter DEM e PSDB como aliados nas campanhas estadual e federal em 2022. “Vou trabalhar para isso. Compreendo o momento difícil que o DEM vive por me perder e a outros quadros (como Eduardo Paes e Rodrigo Maia), mas acredito que o partido estará no centro democrátic­o no ano que vem.” Segundo ele, a identidade entre as siglas evoluiu nas últimas décadas. “A social democracia vai prevalecer nos próximos anos no Brasil pelo momento que estamos vivendo. A convivênci­a dos dois partidos (PSDB e DEM, ex-PFL), desde o governador Mário Covas e o presidente Fernando Henrique com Marco Maciel, fez os tucanos ficarem mais liberais na economia e os democratas mais social democratas.”

PRÉVIAS

“Acredito que a eleição em São Paulo a gente trata em ano par. Na hora certa o partido vai tomar sua decisão sobre 2022 e criar as regras. Não tratei ainda e não vou tratar agora deste assunto. Já em relação às prévias nacionais, eu penso diferente. Uma candidatur­a nacional precisa de tempo para ser consolidad­a. Defendo que as prévias (presidenci­ais) do PSDB ocorram no dia 17 de outubro deste ano. Temos já dois candidatos em campanha. Se o PSDB quiser ter protagonis­mo, precisa escolher seu candidato no dia 17 de outubro.” Garcia evita se manifestar sobre a tensão interna do PSDB em torno da definição dos nomes do partido para a sucessão paulista.

São citados nessa disputa, além do ex-governador Geraldo Alckmin, o deputado estadual Cauê Macris, o secretário Marco Vinholi e os prefeitos Orlando Morando (São Bernardo do Campo) e Duarte Nogueira (Ribeirão Preto). “Vou me submeter às regras que o partido criar. Defendo que a discussão sobre o candidato em São Paulo seja depois da escolha do candidato à Presidênci­a. A prioridade deve ser a candidatur­a nacional.” O vice-governador defende o modelo de prévias com eleição direta dos filiados, o que favorece Doria na disputa interna, pois São Paulo tem o maior número de filiados cadastrado­s no País.

CANDIDATO PRÓPRIO

Ele descarta a hipótese de o PSDB abrir mão de uma candidatur­a própria à sucessão de Bolsonaro, apesar do fraco desempenho de Doria nas pesquisas de intenção de voto até aqui. No último levantamen­to do instituto Datafolha, o tucano aparece com 3% das intenções de voto, em sexto lugar, atrás de Luciano Huck (4%); do ex-ministro Ciro Gomes (6%); do ex-juiz Sergio Moro (7%); do presidente Jair Bolsonaro (23%) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem ampla vantagem, com 41%. “O PSDB sempre foi um partido programáti­co, não pragmático. Disputou todas as eleições e deve continuar oferecendo nomes e projetos para o Brasil. Entro no PSDB com essa expectativ­a: que a gente tenha um candidato à Presidênci­a da República. Meu candidato é João Doria.” Segundo ele, o fato de o atual governador vir a se afastar do cargo para tentar a Presidênci­a (a exemplo do que fez ao abrir mão da Prefeitura para tentar o governo, fato que lhe causou desgaste à época), não deve prejudicar as pretensões de Doria. “Não será o primeiro nem o último a fazer isso. Ele é contra a reeleição. É legítimo buscar uma nova eleição em 2022.”

Garcia também relativiza o desempenho fraco de Doria nas pesquisas de intenção de voto. “Hoje não tem intenção de voto, mas nível de conhecimen­to. As pessoas não vão parar no meio de uma pandemia para dizer em quem votar. Doria tem ativos para apresentar.”

VACINA

“Tenho certeza que a vacina será o principal ativo (nas eleições), na medida que as pessoas creditem ela a São Paulo e ao esforço do governador João Doria. Ela se soma a outros ativos de boa gestão. Terá peso quando for ‘linkada’ com a volta da normalidad­e. A pandemia mudou o mundo e a expectativ­a da volta da normalidad­e, que vai acontecer com a vacina, terá um peso muito forte no consciente das pessoas.”

ISOLAMENTO

“O gestor público é criticado por qualquer decisão que tome. Quando a decisão é pela restrição, a crítica é de quem não quer restringir. E vice-versa. Existe uma divisão de opinião no Brasil. A única forma de combater a pandemia durante muito tempo foi a restrição, e agora a vacina. São os dois instrument­os para enfrentar a pandemia. A compreensã­o da sociedade sobre isso é cada vez maior.”

PROMESSAS A CUMPRIR

“Teremos todas as grandes obras em andamento em 2022. Algumas não serão entregues por conta da pandemia, que nos obrigou a olhar para dentro. Saímos na frente criando a Bolsa do Povo, que é um programa de proteção social. Essa não era uma agenda que estava colocada em 2018, mas pela pandemia foi colocada em 2021.”

GERALDO ALCKMIN

Interessad­o em disputar mais uma vez o cargo, Alckmin já dialoga com outros partidos para se manter na disputa caso o PSDB atenda aos interesses de Doria e confirme Garcia como candidato à sucessão estadual. Mas o vice-governador quer paz com o antigo chefe. “Tenho um grande respeito pelo Geraldo e fui secretário dele por 8 anos. Espero que a gente esteja junto em 2022.” Ele insiste ainda que não é hora de pensar na eleição. “Recebi um convite unânime das bancadas. Dialoguei com os 200 prefeitos do partido e senti acolhiment­o. Não foi um convite, foi uma convocação. Não estamos discutindo eleição, mas filiação. Como filiado vou buscar conquistar o partido.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO União. Rodrigo Garcia acredita ser possível manter DEM e PSDB como aliados em 2022

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