O Estado de S. Paulo

Campanha do TSE defende urna eletrônica

Contra a desinforma­ção, o presidente do tribunal, Luís Barroso, vai reforçar confiabili­dade do sistema eleitoral brasileiro

- Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA / COLABOROU CAMILA TURTELLI

Diante do recrudesci­mento dos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao sistema brasileiro de votação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lança hoje uma espécie de “vacina” para combater o “vírus” da desinforma­ção sobre a urna eletrônica. O próprio presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, decidiu entrar em campo e vai protagoniz­ar vídeos nas redes sociais para explicar de forma didática a segurança dos aparelhos, difundindo a mensagem de que o processo é “seguro, transparen­te e auditável”. A urna eletrônica completou 25 anos ontem.

A iniciativa do TSE acontece um dia depois de ser instalada na Câmara uma comissão especial sobre o “voto impresso auditável”. “É importante para que não paire dúvida na cabeça de nenhum brasileiro. Temos que respeitar o sistema eleitoral, mas ele também tem que ser possível de auditagem”, disse o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressis­tas-AL), ao participar de evento em Alagoas ontem ao lado de Bolsonaro. O voto impresso já foi considerad­o inconstitu­cional pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que apontou risco ao sigilo e à confiabili­dade do processo eleitoral.

A Justiça Eleitoral vem sendo alvo de críticas, fake news e ataques virtuais nas últimas duas eleições. Em 2018, um conselho do próprio tribunal sobre fake news passou o primeiro turno daquela eleição sem se reunir. Na época, viralizou um vídeo falso em que um eleitor apertava o número 1 e a urna eletrônica automatica­mente completava com o nome do então candidato do PT à Presidênci­a, Fernando Haddad. Nas eleições municipais do ano passado, o tribunal demorou para divulgar a totalizaçã­o dos votos no primeiro turno.

“O Brasil tem provavelme­nte o melhor sistema de apuração eleitoral do mundo. O sistema é totalmente transparen­te e auditável do primeiro ao último momento – ou seja: qualquer pessoa pode conferir tudo que foi feito. Estou aqui hoje para explicar, de forma simples, cada passo desse processo que assegura que os resultados eleitorais em nosso país sejam íntegros e confiáveis”, diz Barroso em um dos vídeos.

De acordo com o TSE, a campanha já estava em gestação desde o final do ano passado, e os vídeos foram produzidos pela própria equipe de comunicaçã­o do tribunal, sem gastos extras. Uma campanha educativa mais abrangente, que deve incluir a exibição de peças na TV, está nos planos de Barroso.

Antídoto. Ministros do TSE ouvidos reservadam­ente pelo Estadão avaliam que Bolsonaro, ao reforçar a bandeira pela adoção do voto impresso, demonstra que está acuado com a CPI da Covid e tenta, a todo custo, desviar o foco da atenção. Ao longo das últimas semanas, o presidente tem reforçado as críticas à urna eletrônica, alegando fraudes nas eleições de 2018, sem apresentar provas.

“Se não tiver voto impresso, é sinal que não vai ter eleição, acho que o recado está dado”, afirmou Bolsonaro na semana passada.

No TSE, as declaraçõe­s de Bolsonaro são considerad­as “lamentávei­s”, um “absurdo” e uma nova tentativa de apostar em uma estratégia de confronto para não aceitar uma eventual derrota em 2022.

Uma das preocupaçõ­es nos bastidores do TSE é a de que é preciso criar um antídoto para o discurso bolsonaris­ta. Uma das ideias em avaliação por integrante­s da Corte é envolver mais os partidos nas discussões sobre a urna eletrônica, abrindo mais espaço para que eles opinem sobre o sistema eletrônico e façam sugestões para aperfeiçoa­r o sistema.

“À primeira vista, pode parecer que é um ataque a um procedimen­to, mas, na verdade, é um ataque a uma instituiçã­o”, disse Diogo Rais, especialis­ta em direito eleitoral digital da Mackenzie. “O Brasil faz votações seguras com urnas eletrônica­s há 25 anos. Nunca foi provado nada que mostrasse alguma corrupção do voto na urna.”

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO–1/5/2020 Barroso. ‘Seguro, transparen­te e auditável’, diz ministro

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