O Estado de S. Paulo

Anvisa aprova uso emergencia­l de novo tratamento

Combinação de duas drogas, já em uso nos EUA, é autorizada só para hospitais e com prescrição médica

- João Ker

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou ontem, por unanimidad­e, o uso de dois medicament­os, os anticorpos monoclonai­s banlanivim­abe e etesevimab­e, para o tratamento de pacientes do coronavíru­s no País. A decisão foi anunciada durante reunião extraordin­ária e tem caráter emergencia­l, com autorizaçã­o temporária para atender às demandas da pandemia.

Os anticorpos associados são indicados para adultos e pacientes pediátrico­s, acima dos 12 anos e com mais de 40 quilos, com infecção comprovada em laboratóri­o e que estejam no grupo de alto risco para a doença (comorbidad­es, idade avançada, obesidade etc.). A Anvisa frisou, entretanto, que o tratamento não deve ser administra­do em pacientes que já estejam com quadro grave da doença, pois isso poderia “piorar o desfecho clínico”.

Produzidos pela empresa Eli Lilly do Brasil Ltda., esses medicament­os são indicados logo após a identifica­ção do coronavíru­s no organismo e até dez dias após o início de sintomas. A Anvisa também reforçou que o uso é restrito a hospitais, sob prescrição médica, e não pode ser comerciali­zado em farmácias. De acordo com o estudo clínico apresentad­o à agência, o tratamento reduz em até 70% o risco relativo da covid-19.

A posologia indicada é de 700 mg do banlanivim­abe e 1.400 mg do etesevimab­e, administra­dos em infusão intravenos­a (solução aplicada na veia). Ainda não há, entretanto, dados que garantam a eficácia e segurança do tratamento em pacientes menores de 18 anos ou gestantes. O uso em crianças deve ser feito com base em avaliações de farmacocin­ética.

Também não há comprovaçã­o de segurança ou eficácia do tratamento contra a variante P.1, identifica­da inicialmen­te em Manaus. Ainda assim, a agência indicou que as informaçõe­s presentes até o momento são “satisfatór­ias” para o uso nesse caso.

Autorizado no exterior. O tratamento foi autorizado ainda em fevereiro pela agência regulatóri­a dos Estados Unidos, a Food and Drug Administra­tion (FDA). Em março, ele também recebeu parecer positivo do Comitê de Medicament­os para Uso Humano (CHMP, na sigla original), da Agência Europeia

• Riscos manejáveis

“A decisão da Anvisa é sustentada pela ponderação dos potenciais benefícios para a saúde pública, comparados a eventuais riscos decorrente­s da atuação sanitária. Os riscos parecem ser manejáveis.” Meiruze Freitas DIRETORA DA ANVISA

de Medicament­os.

Este é apenas o terceiro tratamento que a Anvisa aprova para o combate à covid no País. Em março, a agência admitiu o uso do remdesivir em pacientes do coronavíru­s. No mês seguinte, também deu o sinal positivo para a combinação de dois outros anticorpos monoclonai­s – casirivima­be e imdevimabe.

Em seu voto, Meiruze Sousa Freitas, diretora da Anvisa, destacou que ainda não há registro definitivo para os medicament­os e que ainda é necessário continuar com os estudos a respeito de seus potenciais efeitos ou contraindi­cações. “Durante essa emergência de saúde pública, a autorizaçã­o temporária de uso emergencia­l é um instrument­o regulatóri­o para fomentar tempestiva­mente a oferta de opções terapêutic­as, mesmo em face de um produto em desenvolvi­mento clínico”, explicou a diretora.

“A decisão da Anvisa”, acrescento­u, “é subsidiada e sustentada pela ponderação dos potenciais benefícios para a saúde pública, em comparação com os eventuais riscos decorrente­s da atuação sanitária”. Ainda de acordo com ela, os dados apresentad­os mostraram que a combinação dos medicament­os não revelou complicaçõ­es graves. Daí se chega à avaliação de que “os riscos parecem ser manejáveis”.

Como funciona. A combinação dos anticorpos monoclonai­s banlanivim­abe e etesevimab­e atua bloqueando a ligação da proteína spike do coronavíru­s aos receptores humanos e, consequent­emente, impedindo a entrada do vírus e a sua replicação nas células humanas. O tratamento, entretanto, não é indicado para a prevenção da doença nem para casos graves.

Em março, o governo dos Estados Unidos fechou contrato para uma compra inicial de 100 mil doses da combinação dos remédios, pelo preço de US$ 2.100 cada dose (cerca de R$ 11,1 mil, com a cotação de ontem do dólar).

Ainda de acordo com a Anvisa, a aprovação do uso emergencia­l desse tratamento no Brasil infere que ele seja, preferenci­almente, incorporad­o ao Sistema Único de Saúde (SUS). Por outro lado, nada impede que ele venha a ser utilizado também na rede privada.

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MARCELO CAMARGO/AGENCIA BRASIL–11/11/2020 Anticovid. Anvisa admite uso de banlanivim­abe e etesevimab­e sob ‘risco controlado’

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