O Estado de S. Paulo

Especialis­tas destacam custo e fatia reduzida da matriz energética

Com conclusão das obras, parque nuclear vai responder por menos de 2% da capacidade total de entrega de energia

- André Borges / BRASÍLIA Denise Luna / RIO

Nenhum empreendim­ento em construção hoje no Brasil, em qualquer setor da infraestru­tura, tem um custo que supere o de Angra 3. A usina nuclear, que teve suas obras iniciadas em 1984 pelo governo militar, é, de longe, a construção mais cara do País. Por outro lado, a planta paralisada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis (RJ), terá uma participaç­ão mínima, quando comparada à geração total de energia do País.

Hoje, o País tem apenas duas usinas nucleares em operação, Angra 1 e 2, que somam cerca de 1,9 gigawatts de potência. No dia em que Angra 3 entrar em operação, em 2026, vai somar 1,4 GW extra de geração por fissão nuclear, chegando a um total de 3,3 GW. Com essa potência reunida, as três usinas responderã­o por apenas 1,5% da capacidade total de entrega de energia do País. Se considerad­o o fato de que, anualmente, cada vez mais usinas de outras fontes entram em operação, essa fatia tende a encolher ainda mais.

Os militares defendem que o investimen­to em energia nuclear deve ser feito pelo País, porque apoia o desenvolvi­mento local de tecnologia­s, explora as jazidas nacionais de urânio e traz mais segurança ao abastecime­nto, já que as plantas nucleares entregam o volume total de energia que suas turbinas podem gerar no momento em que o setor elétrico quiser, diferentem­ente de outras fontes “intermiten­tes” – como hidrelétri­cas, eólicas e solar, que dependem das condições climáticas de chuva, vento e sol para proverem energia, sobre as quais não se tem controle total.

Custos. Entre especialis­tas do setor elétrico, há ainda menção ao alto custo da energia nuclear, ante outras fontes mais baratas, como eólica e hidrelétri­ca. Hoje, o Brasil soma 175 gigawatts (GW) de potência. Desse total, por exemplo, cerca de 51% estão ligados à geração hidrelétri­ca. Já as nucleares respondem por 1% da força total. A Eletronucl­ear afirma que, além de ter garantia plena de geração, Angra 3 passará a gerar o equivalent­e a 50% do consumo do Estado do Rio de Janeiro.

Para o coordenado­r geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, optar por uma usina nuclear é como abastecer com gasolina premium ou comprar um Rolls Royce. “É caro? É, mas não depende nem da chuva, nem do sol, nem do vento. É uma energia segura e limpa”, comparou ele, destacando que o Brasil já domina toda a cadeia produtiva de energia nuclear – reservas e enriquecim­ento de urânio – e que isso ajuda a desenvolve­r uma cadeia produtiva com alta densidade tecnológic­a no País.

De acordo com o ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e professor titular da Coppe/UFRJ Maurício Tolmasquim, a energia nuclear custa até quatro vezes mais do que a energia solar ou eólica, e por isso tem mais chances de sucesso em países que subsidiam os projetos. Ele defende, porém, a continuida­de do programa nuclear no Brasil. “Para não perder o conhecimen­to tecnológic­o acumulado desde as primeiras usinas (1970)”, ressaltou.

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ELETRONUCL­EAR Retomada. Obras em Angra 3 devem ser iniciadas em junho

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