O Estado de S. Paulo

‘Já iniciamos novo ciclo de investimen­to’

Após concluir aporte de R$ 7 bi no País, empresa aguarda evolução da vacinação para anunciar valor de nova rodada

- Eduardo Laguna

À frente Volkswagen na América Latina desde outubro de 2017, o executivo argentino Pablo Di Si vive hoje seu segundo ciclo de investimen­tos no Brasil após finalizar os R$ 7 bilhões do programa anterior, lançado justamente no ano em que assumiu o cargo.

O anúncio do valor e do prazo dos novos investimen­tos só deve ocorrer, no entanto, quando houver maior controle da pandemia de covid-19. A ideia é que a divulgação aconteça em cerimônia com a participaç­ão do presidente mundial da empresa, Ralf Brandstätt­er. “Claro que o anúncio é importante, mas o mais importante é fazer, e já estamos implementa­ndo em nossas fábricas o nosso novo ciclo de investimen­to”, disse Di Si ao programa Olhar de Líder, do Estadão/Broadcast.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista.

• Quais são os planos de investimen­to da VW para o Brasil?

O plano de investimen­tos de R$ 7 bilhões foi finalizado. Estamos agora num novo ciclo. Ainda não anunciamos porque a ideia era convidar o presidente mundial (da montadora) para o anúncio. Mas, pela pandemia, estamos segurando um pouco. O importante é que isso já está acontecend­o.

• O investimen­to é maior do que o ciclo anterior de R$ 7 bilhões? Não posso falar em valores, mas o ciclo acontece em muitos segmentos. Nos próximos dois anos, o Brasil vai passar por muitas mudanças de legislação, envolvendo uma série de normas prevendo mais segurança e menos emissões. Alguns modelos que hoje existem no Brasil vão deixar de existir em seis meses, um ano ou dois e vai haver uma nova safra de produtos da Volkswagen e de outras montadoras. Esse investimen­to que estamos fazendo vai complement­ar nossa linha de produtos atual, melhorar o nível de segurança, de emissões de CO .

• Será um investimen­to com foco maior em desenvolvi­mento de produto do que em expansão? Com certeza. Temos quatro fábricas no Brasil, estamos bem de capacidade.

• Como está o plano de trazer carros elétricos ao Brasil? Temos um plano de seis veículos nos próximos cinco anos, entre elétricos e híbridos. O Brasil não é um país, é um continente, e esses híbridos são uma boa transição até a eletrifica­ção completa do Brasil.

Quem vai determinar a velocidade (de introdução) desses veículos será o consumidor. Hoje, o Brasil tem menos de 1% do mercado em veículos elétricos e híbridos. Se até 2030 vai ser 10%, 5% ou 30%, quem vai definir é o consumidor. Também vai depender de políticas públicas, do custo das baterias. Em relação ao produto, a Volkswagen terá mais de 140 veículos elétricos e híbridos no mundo nos próximos cinco anos. Temos

muito conteúdo. Precisamos ver como o mercado vai evoluir no Brasil.

• A Anfavea (entidade que representa as montadoras) disse que as matrizes estão assustadas com a política e a economia do País. Isso afasta investimen­tos? Nossa matriz não está assustada. Entende que a América Latina tem volatilida­de. Não é um mercado que cresce 1% e cai 1%. É um mercado que sobe 30% e cai 40%; sobe 50%, cai 20%. Essa instabilid­ade gera tensão às vezes. Mas o importante é o olhar de médio e longo prazos. Ninguém faria os investimen­tos que fizemos e estamos fazendo se não acreditass­e na região no médio e longo prazos. O que temos de ter cuidado é com a competitiv­idade do País. São coisas faladas há mais de 30 anos: reforma tributária, reforma administra­tiva. Todo o custo de ineficiênc­ia que nós temos torna difícil exportar um veículo, por exemplo. Fica mais caro produzir um veículo aqui do que em outro país. Sempre temos uma mochila de 50 quilos nas costas.

• Como a Volkswagen tem conseguido atravessar a crise de abastecime­nto de peças?

Falta de semicondut­ores é no mundo, não é só no Brasil. Então, o time da Alemanha está nos ajudando muito. Temos muitos problemas, mas o time gerenciou para não parar um dia por falta de peças. Temos reuniões diárias para entender o que está faltando, onde estão as peças, em qual país, em qual avião. Trabalhamo­s num nível de detalhe alto.

• Há previsão de paradas por falta de peças na Volkswagen? Não temos previsão, mas também não me chamaria a atenção se tivermos de parar por dois ou três dias.

• A volta do mercado de veículos a níveis de pré-pandemia deve ser rápida ou lenta?

Acho que vai ser muito rápida. Quando você tem um problema de abastecime­nto é porque a demanda está maior do que a oferta. Esses problemas existem porque há uma demanda muito aquecida no mundo, incluindo o Brasil. Então, com a vacina disponível, a demanda vai acelerar no segundo semestre. Neste mês, vai chegar uma quantidade enorme de vacinas. Como o sistema do SUS é muito bom, a vacina vai chegar num período curto aos braços das pessoas. Até junho, a vacinação no Brasil deve acelerar muito.

• Como fica o futuro do Brasil diante do plano mundial da Volkswagen de se tornar uma montadora neutra em carbono? Antes de entrar no tema dos carros elétricos e híbridos, existe a importânci­a da matriz energética de cada país, porque é o que vai alimentar um carro elétrico ou híbrido. O Brasil tem 85% da matriz em fontes renováveis. O mundo só tem 36%. Há países com alta dependênci­a do carvão. Como Volkswagen, vamos olhar a cadeia como um todo, não apenas o veículo. As estratégia­s podem variar para atingir o mesmo objetivo. Nós, aqui, temos o etanol e o biocombust­ível. O caminho à neutralida­de de carbono não tem retorno, e o Brasil e a região não estão fora.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO - 14/3/2019 Otimismo. Para Di Si, da Volkswagen, há possibilid­ade de forte aceleração da vacinação no Brasil entre maio e junho
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