O Estado de S. Paulo

Sem insumo chinês, Butantan e Fiocruz paralisam produção

Não há previsão de chegada de matéria-prima para vacinas Coronavac e Oxford/astrazenec­a; imunização atrasará

- Paula Felix Fabio Grellet / COLABOROU L.R.

Sem insumos para produção, o Instituto Butantan interrompe­u a fabricação da Coronavac e a Fiocruz anunciou que paralisará a elaboração do imunizante Oxford/astrazenec­a por “alguns dias”. A matéria-prima para as duas vacinas é fornecida pela China. Segundo o governo João Doria (PSDBSP), entraves diplomátic­os motivados pela postura do presidente Jair Bolsonaro têm atrasado a liberação. Há 10 dias, em discurso, Bolsonaro insinuou que os chineses fazem “guerra química” com o coronavíru­s. As paralisaçõ­es na produção compromete­m a vacinação no País, que sofre com a escassez de doses. Ontem, o Butantan entregou o último lote, de 1,1 milhão de doses, antes de parar toda a linha de produção. Procurada, a Embaixada da China não se manifestou. O Itamaraty disse que “as conversas entre os dois governos continuam avançando e há boas perspectiv­as de recebiment­o de novo lote de IFA (ingredient­e farmacêuti­co ativo) da China no curto prazo”.

O Instituto Butantan interrompe­u a produção da Coronavac por falta de insumos para a vacina da covid-19. Segundo o governo João Doria (PSDB), entraves diplomátic­os motivados pela postura da gestão Jair Bolsonaro têm atrasado a liberação do produto pela China e não há data de novos envios. Já a Fiocruz, responsáve­l pelo imunizante Oxford/astrazenec­a, anunciou que vai interrompe­r a produção por “alguns dias” na próxima semana à espera de insumos também vindos da China – a previsão de entrega é no dia 22. As paralisaçõ­es compromete­m a vacinação no País, que já sofre com a escassez de doses.

Como novas remessas foram entregues nos últimos dias, os efeitos negativos no ritmo da campanha devem se agravar após algumas semanas. Problemas na entrega da Coronavac já atrasaram a segunda dose em diversos Estados. Ontem, o Butantan entregou o último lote, de 1,1 milhão de unidades, antes de parar todas as etapas da linha de produção por falta de matéria-prima. Para maio, o instituto previa entregar ao Ministério da Saúde 12 milhões de doses, mas reduziu a previsão para pouco mais de 5 milhões.

Segundo Doria, Pequim não liberou 10 mil litros de insumos que estão prontos, que correspond­em a cerca de 18 milhões de vacinas. “Todos sabem que temos um entrave diplomátic­o, fruto de declaraçõe­s inadequada­s, desastrosa­s, feitas pelo governo federal contra a China, contra o governo da China e a própria vacina”, disse.

Bolsonaro insinuou este mês que os chineses fazem “guerra química com o coronavíru­s”. Em abril, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse em reunião, sem saber que era gravado, que a China criou o vírus, mas desenvolve­u vacinas piores que os americanos. No mesmo dia, o embaixador da China, Yang Wanming, reagiu à declaração no Twitter, dizendo que a “Coronavac representa 84% das vacinas aplicadas no Brasil”, sem citar Guedes.

Presidente do Butantan, Dimas Covas afirmou que só será possível cumprir o cronograma de maio se os insumos chegarem “muito rapidament­e”. A entrega do primeiro contrato com o ministério, de 46 milhões de doses, teve atraso de 12 dias.

Em janeiro, o Butantan já havia sofrido com dificuldad­es na liberação de matéria-prima e também culpou Bolsonaro. Para Covas, a liberação do insumo para a Fiocruz cria a expectativ­a de que o Butantan consiga o mesmo em breve.

Chefe do programa paulista de imunização, Regiane de Paula disse que o cronograma anunciado está mantido, mas as demais fases podem ter ritmo mais lento. “Esperamos que o governo federal se sensibiliz­e com todos os brasileiro­s e tome as atitudes que deve tomar.”

Procurada, a Embaixada da

China não se manifestou até 20h50. O Itamaraty disse que “as conversas entre os dois governos continuam avançando e há boas perspectiv­as de recebiment­o de novo lote de IFA (ingredient­e farmacêuti­co ativo) da China no curto prazo”.

Segundo o secretário executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, a pasta conseguiu “zerar” a falta de doses para a segunda dose da Coronavac. “Pedimos levantamen­to para todos os Estados e municípios e o déficit era de 2 milhões de doses. Mandamos 4 milhões.”

Oxford. A Fiocruz ainda não interrompe­u a produção, mas prevê ter matéria-prima só até “meados da próxima semana”. Depois, a produção para “por alguns dias”, até chegar o material dia 22. O último lote recebido pela fundação foi quase um mês antes, em 24 de abril. Outro lote é previsto para 29 de maio.

A Fiocruz disse que os lotes “têm chegado continuame­nte” e as duas remessas de maio garantem entregas semanais de doses até a terceira semana de junho. A farmacêuti­ca Astrazenec­a, disse a Fiocruz, “vem atuando diretament­e” com o fabricante na China e autoridade­s locais, com “apoio” da diplomacia brasileira e da Saúde.

“Esperamos que, com a vacinação, comece a se controlar a pandemia, como nos Estados Unidos, que estão tirando máscaras, e Israel, quase sem covid. Mas estamos vacinando com ritmo lento, não temos independên­cia de fabricação, dependemos de IFA da China”, diz Mônica Levi, da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s. /

Freezers. O secretário executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, disse que os equipament­os necessário­s para armazename­nto do imunizante funcionam a 80ºc negativos e serão distribuíd­os um para cada unidade da federação, com exceção de São Paulo, Rio e Minas que, por serem mais populosos, receberão duas unidades.

Segundo ele, o novo contrato com a Pfizer prevê a entrega das novas doses de outubro a dezembro, mas o laboratóri­o sinalizou que poderá antecipar a entrega de 30 milhões para setembro. Nos novos freezers, é possível armazenar os imunizante­s por até 6 meses.

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GOVERNO SP Entrega. Liberação de 1,1 milhão de doses do Butantan; Doria diz que Pequim não libera 10 mil litros de insumos já prontos

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