Bruno Covas piora e quadro é irreversível, diz boletim
Equipe médica afirma que prefeito, licenciado desde o dia 2 para tratamento contra o câncer descoberto em 2019, segue recebendo analgésicos e sedativo paliativo
O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), teve piora em seu quadro geral e seu estado, na noite de ontem, era irreversível, após um ano e meio lutando contra um câncer agressivo, surgido no aparelho digestivo. Segundo nota do Hospital Sírio-libanês, o tucano, de 41 anos, recebia medicamentos analgésicos e sedativos. Ele se licenciou do cargo no dia 2.
Após um ano e meio lutando contra um câncer agressivo, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), de 41 anos, teve uma piora em seu quadro de saúde e, de acordo com boletim médico, seu estado é irreversível. Nota divulgada ontem pelo Hospital Sírio-libanês afirma que o tucano segue recebendo medicamentos analgésicos e sedativos cercado por parentes e amigos. “O quadro clínico é considerado irreversível pela equipe médica.”
Auxiliares próximos, como o secretário-executivo Gustavo Pires, e o secretário de Governo, Rubens Rizek, permaneciam no hospital até as 22h para dar auxílio a familiares que estavam no quarto com Covas, sem falar com a imprensa. Ele chegou por volta das 20h40, acompanhado do padre João Paulo Rizek, seu irmão. O religioso foi contemporâneo de prefeito na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP, e foi ao hospital a convite da família.
Segundo o Estadão apurou, os médicos administraram um sedativo paliativo por volta das 18h. A família havia sido avisada um dia antes de que o quadro não poderia ser revertido. Sob efeito de medicação, Covas recebeu o filho Tomás, de 15 anos, para se despedir. O jovem nunca deixou de acompanhar e incentivar o tratamento do pai.
O tucano está licenciado do cargo desde o dia 2, quando foi internado pela última vez. Logo no dia seguinte, durante a realização de um exame para descobrir a causa de uma anemia, os médicos identificaram um sangramento e o levaram para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) intubado.
Após melhora, o prefeito foi extubado e transferido para um quarto, onde chegou a receber visitas e postar mensagens de otimismo em suas redes sociais, ora acompanhado do filho ora de políticos.
Nesta semana, Covas havia sinalizado disposição e postou fotos ao lado do prefeito em exercício, Ricardo Nunes (MDB); do governador João Doria (PSDB); do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (DEM); e do vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB). De seu quarto no hospital, ele chegou a participar da articulação política que resultou na migração de Garcia, que antes era do DEM, para o quadro tucano.
“O PSDB de São Paulo ganha muito com sua chegada, reforçando nosso time com sua experiência administrativa e política”, escreveu Covas, acalmando tucanos que se posicionaram contra a mudança em favor de Geraldo Alckmin – de quem o prefeito paulistano também é próximo.
Na conversa com Nunes, no cargo desde o último dia 3, Covas tratou sobre temas da cidade que seguia acompanhando mesmo do hospital. O emedebista sempre foi classificado por Covas como um aliado leal que, quando solicitado, tocava a administração conforme as diretrizes tucanas.
Doença. O prefeito descobriu que tinha câncer em outubro de 2019, quando exames que vinham sendo realizados para investigar o surgimento de uma trombose apontaram a existência de três tumores – um no fígado, um na cárdia (a transição entre o estômago e o esôfago) e outro nos gânglios linfáticos. Os médicos atacaram a doença com imunoterapia e quimioterapia, e dois dos três tumores chegaram a desaparecer.
Ao longo de 2020, com o sucesso do tratamento, Covas pôde tocar seu projeto de reeleição e, mesmo com a pandemia, chegou a fazer campanha na rua e participar normalmente de debates e entrevistas presenciais ou online.
Em novembro, obteve sua maior vitória eleitoral, vencendo Guilherme Boulos (PSOL) em segundo turno e sagrandose prefeito da capital pelo voto de mais de 3 milhões de paulistanos. Seu avô, o ex-governador Mário Covas, também comandou a cidade, mas por escolha indireta.
Em fevereiro deste ano, no entanto, exames identificaram um novo tumor no fígado e Covas retornou à quimioterapia. Entretanto, ao longo desta nova etapa do tratamento, a doença se mostrou mais agressiva, se espalhando para mais pontos do fígado e ossos.
Quando diagnosticado já em estágio avançado, com metástase – como foi o caso da doença do prefeito –, o câncer de estômago não costuma ter um bom prognóstico e pode levar a pessoa à morte em poucos meses. O avanço das células tumorais para todo o organismo explica a agressividade da doença.
O tumor de Covas surgiu na cárdia, espécie de válvula entre o estômago e esôfago, e já tinha focos no fígado e linfonodos quando foi descoberto (veja sequência ao lado). Segundo o cirurgião oncológico Alexandre Ferreira Oliveira, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a sobrevida média de pacientes com esse diagnóstico é de 8 a 18 meses.
“A chance de cura deste câncer se dá no diagnóstico precoce. Quando ele já está em fase metastática, não se pode falar em cura, mas em sobrevida”, afirmou o especialista.
O médico disse que a piora acelerada do prefeito coincide com o espalhamento da doença para regiões importantes do corpo. “Se a doença chega aos ossos, quer dizer que ela já está na corrente sanguínea e há um comprometimento sistêmico. A evolução é muito rápida porque as células tumorais começam a se disseminar com grande rapidez”, explica.
O tratamento do câncer de estômago depende, portanto, do estágio da doença. Nos casos em que não há metástase, a indicação é a cirurgia para a remoção do tumor. Na doença metastática, a opção é o controle da doença com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia.
Os médicos de Covas, assim como o prefeito, lançaram mão de todas as opções de tratamento possíveis. Até o início do mês, o prefeito conseguia manter uma rotina de trabalho intensa, seja no gabinete da Prefeitura ou no hospital.