Conflito em Gaza alimenta violência na Cisjordânia
Palestinos atiraram coquetéis molotov, enquanto as forças de defesa israelenses usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha – além de munição real, segundo testemunhas; enviado de Biden chega a Israel para tentar mediar um cessar-fogo
Violentos confrontos entre a polícia e moradores da Cisjordânia resultaram em 10 palestinos mortos em protestos e deram novo contorno à crise no Oriente Médio. Em Gaza, a situação continuou tensa, com os disparos de foguetes do Hamas sendo respondidos com pesados bombardeios aéreos israelenses.
Trégua António Guterres, secretário-geral da ONU, pediu ontem o fim da violência em Israel. “O conflito pode criar uma crise humanitária e estimular o extremismo”, disse.
A crise em Israel e nos territórios palestinos ganhou novos contornos, com confrontos violentos entre a polícia e palestinos se espalhando por cidades da Cisjordânia. No total, dez palestinos morreram nos choques de ontem com a polícia. Enquanto isso, em Gaza, a situação continua tensa, com os disparos de foguetes do Hamas sendo respondidos com pesados bombardeios ao enclave.
Os maiores protestos foram registrados nas cidades de Jenin, Hebron, Tulkaren e Nablus. Em Ramallah, sede do governo da Autoridade Palestina, também houve manifestação. Os palestinos atiraram coquetéis molotov, enquanto as forças de defesa de Israel usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha – além de munição real, segundo testemunhas.
Desde segunda-feira, quando a violência foi deflagrada, 126 palestinos morreram em Gaza, incluindo 31 crianças, com 950 feridos, de acordo com autoridades de saúde do território. Em Israel, 8 pessoas morreram e 500 ficaram feridas pelos disparos de foguetes – só ontem foram mais de 140, segundo o Exército israelense.
Na quinta-feira, Israel havia mobilizado mais tropas na fronteira e convocado 9 mil reservistas, aumentando os indícios de um conflito em larga escala. Ontem, as forças israelenses disseram ter disparado contra túneis que costumam abrigar líderes do Hamas. O Exército garantiu que matou vários membros do grupo, mas que os corpos estariam soterrados e levaria algum tempo para recuperá-los.
Autoridades militares de Israel alegam que a confusão disseminada na noite de quinta-feira, sobre uma eventual invasão por terra – depois desmentida pelo Exército – teria sido uma tática deliberada para provocar a fuga em massa de militantes do Hamas para os túneis. Em seguida, segundo o comando israelense, 160 jatos bombardearam o enclave por 40 minutos. Ontem, o Exército se desculpou por ter passado informações confusas à imprensa.
O conflito, que começou em Jerusalém, na semana passada, e se espalhou primeiro para Gaza, antes de chegar à Cisjordânia, também atingiu as cidades de minoria árabe dentro de Israel. Um israelense ficou gravemente ferido ontem depois de ter sido atacado por palestinos em Lod, uma das mais afetadas pelos distúrbios. Em Jafa, um soldado israelense foi atacado por um grupo de árabes e está em estado grave. Segundo a polícia israelense, pelo menos 750 pessoas já foram presas em consequência da violência civil nos últimos dias.
Mas, para Israel, os problemas vão além. Na quinta-feira, três foguetes foram lançados do sul Líbano – todos caíram no Mar Mediterrâneo sem causar vítimas, segundo militares israelenses. O governo libanês disse que os disparos foram feitos por grupos pequenos de palestinos, que não tiveram participação do Hezbollah – que já apoiou abertamente o Hamas no passado.
Ontem, Israel teve trabalho para conter um protesto na fronteira libanesa. Manifestantes, alguns carregando bandeiras palestinas, se reuniram na planície de Khiam, em frente a Metula, no extremo norte israelense, e ameaçaram cruzar a divisa. O Exército de Israel abriu fogo e matou um jovem de 21 anos, membro do Hezbollah.
Em outra frente, bem perto dali, o Exército israelense informou que três foguetes foram disparados da Síria. Um dos projéteis caiu em território sírio e dois outros em áreas desabitadas nas Colinas do Golan, no norte de Israel.
Ontem, finalmente desembarcou em Israel o enviado do presidente dos EUA, Joe Biden, para tentar mediar um cessar-fogo. O subsecretário de Estado, Hady Amr, se reunirá com autoridades de ambos os lados nas próximas horas. “Amr chegou a Tel-aviv para reforçar a necessidade de trabalhar por uma calma sustentável, reconhecendo o direito de Israel à autodefesa. Israelenses e palestinos merecem medidas iguais de liberdade, segurança, dignidade e prosperidade”, disse ontem a Embaixada dos EUA em Israel, em mensagem no Twitter.