O Estado de S. Paulo

Commoditie­s e dólar turbinam lucros de exportador­as

O conjunto de 13 das principais empresas abertas voltadas ao mercado externo lucrou R$ 44,6 bi, ante um prejuízo de R$ 76,4 bi no mesmo período de 2020; para analistas, desempenho pode ajudar no processo de retomada da economia interna do País

- Gabriel Baldocchi Matheus Piovesana

Impulsiona­das pela alta do dólar e pelo avanço da cotação das commoditie­s, empresas exportador­as apresentar­am excelentes resultados no primeiro trimestre. Com a Vale na liderança, 13 companhias viram a receita avançar 45% no primeiro trimestre, ante igual período de 2020. Juntas, tiveram lucro de R$ 44,6 bilhões.

Impulsiona­das pela alta do dólar e pelo avanço da cotação das commoditie­s, as empresas exportador­as voltaram a apresentar resultados fortes no primeiro trimestre e consolidar­am a posição de principais ganhadoras entre o grupo das companhias de capital aberto brasileira­s na crise da pandemia. Os analistas esperam a sustentaçã­o de números favoráveis ao longo do ano e dizem que o desempenho do grupo ajudará a dar contribuiç­ão positiva para a retomada da economia, que ainda é desigual.

Lideradas pela Vale, o conjunto de 13 das principais empresas listadas voltadas ao mercado externo viu a receita avançar 45% no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2020, para cerca de R$ 340 bilhões, segundo levantamen­to feito pelo Estadão/broadcast. Juntas, elas tiveram lucro de R$ 44,6 bilhões, ante prejuízo de 76,4 bilhões no primeiro trimestre do ano passado, quando uma série de efeitos contábeis distorceu os dados. Além da mineradora e da Petrobrás, o grupo inclui nomes como Suzano, BRF, WEG, Braskem e Klabin.

“A recuperaçã­o de volume foi muito relevante e houve choque de preços. É natural que eles sejam os vencedores”, afirma Luis Gustavo Pereira, chefe de mercado de capitais na Guide. Segundo ele, a combinação entre dólar alto e preços elevados de commoditie­s deve manter os resultados dessas companhias fortes em 2021.

A Vale retrata esses benefícios. Com o minério de ferro próximo das recordes históricos, a mineradora viu a receita avançar 122%, para quase R$ 70 bilhões no primeiro trimestre, com uma geração de caixa (medida pelo Ebitda) recorde e um lucro de R$ 30 bilhões.

A empresa, porém, mostra alguma cautela com os preços. “No decorrer do ano, do lado da oferta, os volumes (produzidos) devem aumentar em relação ao segundo semestre de 2020, enquanto a demanda de minério de ferro pode ser impactada por cortes de produção devido a restrições ambientais na China”, disse a mineradora em seu balanço.

No setor de proteínas, a maior empresa, a JBS, aproveitou-se de sua vasta diversific­ação geográfica para tomar carona na recuperaçã­o da economia de países como os Estados Unidos. Em mensagem que acompanhou o balanço, o CEO, Gilberto Tomazoni, disse que a reabertura de restaurant­es depois da vacinação contra a covid-19 nos EUA, mais rápida que no Brasil, está aumentando as vendas da unidade americana, a maior da empresa.

Efeito no PIB. A expectativ­a é que o bom desempenho dessas gigantes lá fora acabe benefician­do a atividade econômica como um todo no Brasil. “As empresas aumentam receitas, rentabilid­ade, e, se perceberem que o cenário vai continuar, vão investir”, afirma Carlos Antonio Rocca, coordenado­r do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (Cemec-fipe). “Além do benefício do setor, acabam carregando investimen­to. Isso gera demanda na cadeia de fornecedor­es.”

A melhora do ambiente externo tem sido citada como um dos fatores que podem levar o Brasil a ter um PIB mais forte neste ano, através das exportaçõe­s, e já motiva revisões por parte de alguns economista­s e bancos. Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, a expectativ­a é de um cresciment­o do PIB de 3,1% em 2021. Há um mês, estava em 3,04%.

Desigual. Enquanto os exportador­es se consolidam na ponta positiva, os economista­s chamam a atenção para o comportame­nto desigual das empresas de capital aberto na pandemia. “O panorama é todo de disparidad­e enorme entre as empresas e setores”, afirma Rocca, com base nas análises feitas sobre os resultados de 2020 e que ele não acredita ter mudado no primeiro trimestre.

No grupo dos mais afetados, estão companhias que foram diretament­e impactadas pelo fechamento da economia e cuja recuperaçã­o depende da melhora na pandemia, ou seja, do ritmo de vacinação. Há ainda diferença dentro dos próprios setores: algumas empresas de varejo se beneficiar­am de operações digitais mais sólidas, por exemplo. Outras, em contraste, dependem mais de vendas em lojas, como as de vestuário, e foram fortemente afetadas.

O setor aéreo, porém, é o maior exemplo das disparidad­es. Em seus balanços de primeiro trimestre, ainda fortemente impactados pela pandemia, Azul e Gol apostaram todas as fichas na vacinação contra a covid-19, e sinalizara­m alguma recuperaçã­o nas vendas de passagens nas últimas semanas do primeiro trimestre. No entanto, reconhecer­am que o baque da segunda onda foi forte.

De janeiro a março, a Gol viu a receita cair 50,2% em relação a um ano antes. A Azul perdeu 34,9% das receitas. Para analistas, os números demonstrar­am que essas empresas ainda precisam sobreviver ao curto prazo, diante de uma pandemia ainda longe do fim.

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WASHINGTON ALVES / ESTADÃO - 28/4/2021 Em alta. Empresas que atuam no setor de minério de ferro, como a Vale, foram beneficiad­as pelo forte aumento de demanda no mercado internacio­nal
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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO * A COMPARAÇÃO COM DO LUCRO NO PERÍODO FOI PREJUDICAD­A POR CONTA DE EFEITOS CONTÁBEIS QUE DISTORCERA­M OS DADOS DO PRIMEIRO TRIMESTRE

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