O Estado de S. Paulo

Constituin­te no Chile garante vaga a mulher e índio

Votação, que começa hoje e termina amanhã, define grupo que redigirá nova Constituiç­ão

- Rafael Carneiro

Os chilenos elegem hoje e amanhã os 155 deputados que vão redigir a nova Constituiç­ão do país. As mulheres serão metade dos eleitos, uma paridade inédita. Dezessete vagas são reservadas para povos indígenas.

Os chilenos elegerão hoje e amanhã os 155 deputados constituin­tes que serão responsáve­is por redigir a nova Constituiç­ão do país. A eleição ocorre sete meses após o histórico plebiscito que optou por uma nova Carta. Dezessete vagas são reservadas para povos indígenas. As mulheres serão metade dos eleitos, uma paridade inédita em uma Convenção Constituci­onal.

Para o historiado­r, antropólog­o e professor da Universida­de Católica do Chile, Rodrigo Mayorga, a paridade de gênero na redação de uma Constituiç­ão traz benefícios importante­s. Um deles é garantir que aqueles que tomam as decisões represente­m de maneira adequada os que votaram por eles. O outro é a legitimida­de. “Nada melhor do que uma mulher para discutir assuntos que são pertinente­s a elas, que estão relacionad­os às experiênci­as delas. Um exemplo é o aborto.”

Em razão da pandemia, a eleição, que já tinha sido adiada uma vez, ocorrerá em dois dias e o objetivo é que a população possa votar com tranquilid­ade e a segurança sanitária necessária­s. Ao todo, são 1.374 candidatos divididos em listas, sendo algumas delas ligadas a partidos políticos, mas outras, não.

Candidata independen­te, Giovanna Grandón se tornou conhecida após participar dos protestos de 2019 e de 2020 vestida de Pikachu, personagem do anime Pokémon. No entanto, debaixo da fantasia, havia uma mulher disposta a mudar a realidade do seu país.

No ano passado, ela resolveu concorrer ao posto de constituin­te pelo distrito 12, que reúne algumas das regiões mais pobres de Santiago. Caso seja eleita, Giovanna quer fazer uma gestão participat­iva. “Vou usar parte do meu salário como constituin­te para criar uma plataforma em que as pessoas possam colocar suas principais demandas e, a partir disso, levarei os assuntos para serem debatidos em plenário.

Uma das bandeiras que ela pretende levantar, caso se torne constituin­te, é a da educação inclusiva. De acordo com Giovanna, pessoas com deficiênci­a têm dificuldad­es de serem inseridas em escolas regulares e, para que elas se desenvolva­m, precisam parar de conviver apenas com seus semelhante­s.

Sobre a igualdade de gênero na redação da Carta Magna, a candidata é incisiva. “A paridade foi uma conquista das marchas, principalm­ente a realizada em 8 de março de 2020, que reuniu milhares de pessoas. É preciso, de uma vez por todas, ter igualdade salarial neste país para pessoas que ocupam o mesmo cargo”, afirma.

Mãe de quatro filhos e avó de dois netos, até o início de 2020 Giovanna era motorista autônoma de van escolar. No entanto, acabou ficando sem trabalho em razão da pandemia. Foi então que se uniu a um grupo de voluntário­s para ajudar moradores de áreas pobres de Santiago.

Além dos constituin­tes, os chilenos também votarão por vereadores, prefeitos e governador­es regionais. Os primeiros resultados serão divulgados na noite de amanhã e a expectativ­a é a de que aqueles que farão parte da Convenção Constituci­onal já sejam conhecidos no mesmo dia.

Prazo final. Os deputados constituin­tes chilenos terão nove meses para elaborar a nova Carta Magna – o prazo pode ser prorrogado por mais três meses. Finalizado­s os trabalhos, cerca de 60 dias depois, ocorrerá um novo plebiscito e, desta vez, os chilenos decidirão se aprovam ou não o novo texto. Caso ele seja aprovado, será o fim do último resquício da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Se for rejeitado, a atual Constituiç­ão, de 1980, seguirá vigente.

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MARTIN BERNETTI / AFP Disputa. Seção eleitoral é preparada em escola de Santiago; votação ocorrerá em dois dias por causa da pandemia

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