Ida de Garcia ao PSDB faz DEM romper com Doria
Após filiação de Garcia ao PSDB, presidente do DEM diz que governador de São Paulo teve ‘postura desagregadora’
A filiação do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, ao PSDB levou o DEM a romper com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e descartar apoiá-lo na eleição presidencial de 2022.
A filiação do vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, ao PSDB, após um longo casamento com o DEM, provocou um rompimento político entre dois tradicionais aliados. No mesmo dia em que Garcia anunciou a mudança, o presidente do DEM, ACM Neto, disse que seu partido não apoiará a candidatura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), à sucessão de Jair Bolsonaro, em 2022.
“Não tem chance nenhuma, zero. Acabou de implodir qualquer chance de ter o DEM com ele”, afirmou ACM Neto ao Estadão, em referência a Doria. Parceiros em campanhas presidenciais desde 1994, o PSDB e o DEM tinham alinhavado um acordo de nova união para as eleições de 2022, tanto ao Palácio do Planalto como ao governo paulista.
O movimento de Doria para filiar Garcia, no entanto, deixou ACM Neto furioso. Duas horas após a festa tucana, ele divulgou uma nota na qual diz que o governador adotou “postura desagregadora”, que “amplia o seu isolamento político e reforça a percepção do seu despreparo para liderar um projeto nacional”. Ex-prefeito de Salvador, Neto disse, ainda, que a “inabilidade política” de Doria lhe tem rendido “altíssima rejeição e afastado seus aliados”.
Em pelo menos dois jantares com o governador de São Paulo, no Palácio dos Bandeirantes, Neto havia avisado que, se o tucano tirasse Garcia do DEM, a aliança para 2022 com ele ficaria comprometida.
Na prática, ao filiar o vice-governador ao PSDB, Doria tenta resolver um problema doméstico, que é unificar os tucanos em torno de seu aliado, em 2022. Para isso, porém, ele acabou sacrificando a relação com o DEM no plano nacional.
Além de Garcia, o DEM perdeu o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ), que ingressou ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com pedido de desfiliação, sob o argumento de “grave discriminação política pessoal”, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que anunciou sua transferência para o PSD.
‘Malandro baiano’. Maia também deve seguir o mesmo caminho e, ainda ontem, atacou ACM Neto nas redes sociais, chamando-o de “malandro baiano”. Os dois brigaram porque, às vésperas da eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro, Neto liberou a bancada do DEM para aderir à candidatura do deputado Arthur Lira (Progressistas-al), que venceu a disputa. Maia apoiava Baleia Rossi (MDB-SP) e disse ter sido traído por Neto.
“Esse baixinho não tem caráter”, escreveu o ex-presidente da Câmara na conta do DEM no Instagram, logo após Neto ter feito várias críticas ao governador de São Paulo, na esteira da filiação de Garcia ao PSDB. “Oportunista. Vc. avisou que não apoiaria o Doria”, atacou Maia. “Neto. Vai pra casa. Na política vc. perdeu o respeito (...). Bolsonaro presidente e ACM Neto vice-presidente. Não sobrou nada além disso”, ironizou o deputado, para quem o ex-prefeito de Salvador fez acordo com Bolsonaro. Neto sempre negou esse acerto.
Doria decidiu antecipar a filiação de Garcia porque a definição do modelo de prévias no PSDB para escolha dos candidatos ao governo paulista e à Presidência tem provocado divergências. A ideia inicial era fazer o ato de filiação de Garcia em 25 de junho, data de fundação do partido.
Como mostrou o Estadão, o modelo de prévia defendido por Doria – com eleição direta entre os filiados, em outubro – enfrenta resistência dos diretórios regionais. Boa parte deles defende o adiamento dessa escolha para março ou abril de 2022. Além de Doria, o PSDB tem outros três “presidenciáveis”: o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (RS), o senador Tasso Jereissati (CE) e o ex-prefeito Arthur Virgílio (AM).
Na cerimônia de filiação de Garcia, ontem, aliados do governador de São Paulo fizeram questão de defender as prévias em outubro. O ato reuniu lideranças tucanas da capital e do interior, ligadas ao prefeito Bruno Covas, e, nos discursos, muitos se manifestaram contra o rompimento com o DEM.
Garcia exaltou os ex-governadores Mário Covas e Geraldo Alckmin, com quem trabalhou e o próprio DEM. “Não estou mudando de lado e de território”, afirmou o vice. “Estou fazendo uma transferência para um partido do mesmo território e preservando a força do DEM em São Paulo para que ele possa continuar ajudando o PSDB a governar o Estado”.
Em São Paulo, porém, o DEM continua atuando como satélite de Doria. Na capital, está sob o comando do presidente da Câmara, vereador Milton Leite, e de seu filho Alexandre Leite, no diretório estadual.
Alckmin não participou do ato de filiação de Garcia. O exgovernador planeja concorrer de novo ao Bandeirantes e avalia a conveniência de disputar prévia com o vice ou mudar de partido, desde que lhe seja garantida a candidatura. O PSD, o DEM e o PSB são siglas com as quais Alckmin tem conversado.