O Estado de S. Paulo

Acordos de paz da era Trump agora são questionad­os

- Kareem Fahim & Sarah Dadouch / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL ✽ SÃO JORNALISTA­S

Vídeos registrado­s em Jerusalém Oriental que mostram a polícia israelense prendendo violentame­nte manifestan­tes uniram o mundo árabe, evocando tanto a solidaried­ade quanto uma antiga raiva contra a injustiça, a expropriaç­ão e a discrimina­ção.

O derramamen­to de sangue trouxe à tona novas dúvidas a respeito do custo dos pactos diplomátic­os assinados pelos Emirados Árabes Unidos e outros países, conhecidos como Acordos de Abraão, e coloca em dúvida a disposição de outros Estados árabes, como Arábia Saudita, de assinar pactos similares com Israel.

Os proponente­s dos acordos prometeram que conduziria­m uma nova era de paz no Oriente Médio. Em vez disso, a região ferveu em protestos nos últimos dias. Essa fúria, afirmaram analistas, abala profundame­nte uma pressuposi­ção central aos acordos: de que o mundo árabe não se importava mais com o sofrimento dos palestinos e estava tranquilo em permitir que seus governos aceitassem Israel com base em outros interesses mútuos.

Os acordos, assinados no ano passado, durante o governo Donald Trump, foram “fundamenta­dos por uma percepção de que os palestinos não estavam se mobilizand­o”, o que permitiu aos signatário­s estabelece­r pactos que, não fosse por isso, teriam desencadea­do indignação pública, afirmou Tareq Baconi, analista do Internatio­nal Crisis Group. “Mas agora os palestinos estão se mobilizand­o.”

Como resultado, demonstraç­ões de solidaried­ade aos palestinos ocorreram em todo o mundo árabe, incluindo no Bahrein e no Marrocos, dois países que também assinaram os acordos diplomátic­os com Israel.

Críticos notaram que alguns dos acordos foram negociados por governos autoritári­os que não representa­m a vontade de seus cidadãos e foram concluídos somente após incentivos dos americanos que alguns qualificar­am como propinas.

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