Desinformação nas redes sociais agrava distúrbios
Vídeos, textos e fotos falsos ou usados fora de contexto têm circulado entre israelenses e palestinos, inflamando o conflito
Em um vídeo de 28 segundos, postado no Twitter esta semana por um porta-voz do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, militantes palestinos na Faixa de Gaza pareciam lançar ataques de foguetes contra israelenses em áreas densamente povoadas.
Pelo menos é isso que o porta-voz de Netanyahu, Ofir Gendelman, disse que o vídeo retratou. Mas seu tuíte com a filmagem, que foi compartilhado centenas de vezes enquanto o conflito entre palestinos e israelenses aumentava, não era de Gaza. Não foi nem desta semana, era de 2018. E, segundo as legendas em versões mais antigas do vídeo, ele mostrava militantes disparando foguetes não de Gaza, mas da Síria ou da Líbia.
Outra postagem, no início desta semana, que foi escrita em árabe e enviada a um grupo do Whatsapp com mais de 200 membros, alertou que soldados israelenses deveriam invadir a Faixa de Gaza. “A invasão está chegando”, dizia o texto, que exortava as pessoas a orar por suas famílias.
Clipes de outro vídeo mostrando judeus religiosos rasgando suas roupas em sinal de devoção também circularam em sites de notícias em idioma árabe esta semana. Os clipes foram citados como evidência de que os judeus estavam fingindo os próprios ferimentos em confrontos em Jerusalém.
Há uma longa história de desinformação sendo compartilhada entre grupos israelenses e palestinos, com falsas alegações e conspirações surgindo durante os momentos de aumento da violência na região.
Nos últimos anos, o Facebook removeu várias campanhas de desinformação do Irã com o objetivo de alimentar tensões entre israelenses e palestinos. O Twitter também derrubou uma rede de contas falsas, em 2019, que era usada para difamar os oponentes de Netanyahu.
As informações falsas incluem vídeos, fotos e clipes com textos supostamente de funcionários do governo da região, com postagens infundadas afirmando, no início desta semana, que soldados israelenses invadiram Gaza ou que turbas palestinas estavam prestes a se espalhar pelos subúrbios israelenses.
As mentiras foram ampliadas ao serem compartilhadas milhares de vezes no Twitter e no Facebook, se espalhando para grupos do Whatsapp e Telegram, que têm milhares de membros, segundo análise do New York Times. O efeito da desinformação é potencialmente letal, disseram especialistas em desinformação, inflamando as tensões entre israelenses e palestinos quando as suspeitas e a desconfiança já aumentaram.
“Muitos são rumores ou ‘telefones sem-fio’, mas estão sendo compartilhados agora porque as pessoas estão desesperadas para compartilhar informações sobre a situação”, disse Arieh Kovler, analista político e pesquisador independente de Jerusalém, que estuda o fenômeno da desinformação. “O que torna tudo mais confuso é que é uma mistura de afirmações falsas e de coisas genuínas, que estão sendo atribuídas ao lugar errado ou na hora errada.”
Twitter, Tiktok e Facebook, dono do Instagram e do Whatsapp, não responderam aos pedidos de comentários. Christina Lonigro, porta-voz do Whatsapp, disse que a empresa impôs limites ao número de vezes que as pessoas podem encaminhar uma mensagem como forma de reprimir a desinformação.
O New York Times encontrou várias informações errôneas que se espalharam por bairros israelenses e palestinos em grupos ativistas do Whatsapp nesta semana. Um, que apareceu como um bloco de texto em hebraico ou um arquivo de áudio, continha um aviso de que grupos palestinos estavam se preparando para atacar judeus.
“Os palestinos estão chegando, pais, protejam seus filhos”, dizia a mensagem, que apontava especificamente para várias áreas suburbanas ao norte de Tel-aviv. Milhares de pessoas estavam em um dos grupos do Telegram onde a postagem foi compartilhada – ela então apareceu em vários grupos do Whatsapp, que tinham de dezenas a centenas de membros. Não houve relatos de violência nas áreas mencionadas na mensagem.