Especialistas debatem populismo e crise da democracia no mundo
Lourival Sant’anna, Tonico Ferreira e Sérgio Fausto falaram sobre influência de lideres antidemocráticos
Analistas que participaram do painel O Estado da Democracia ontem, na “TV Estadão”, consideram que, nos últimos anos, a democracia foi colocada à prova em todo o mundo, com a ascensão de lideranças populistas e a disseminação de desinformação nas redes. O bate-papo ganhou o mesmo nome do novo livro do colunista do Estadão Lourival Sant’anna, em que o analista de assuntos internacionais reúne 100 textos publicados nos cinco anos de sua coluna.
“A democracia tem passado por testes de estresse contínuo”, afirmou o colunista. Sant’anna destacou que, desde 2016, o mundo acompanha episódios de ascensão de pautas populistas que colocaram a democracia em xeque, como os plebiscitos do Brexit, no Reino Unido, e as eleições de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, no Brasil. “Nossa geração considerava que a democracia era um fato consumado no mundo, mas ela está sob ataque”, afirmou.
Ele citou ainda como exemplos da onda contrária à democracia, a expressiva votação da candidata de extrema direita Marine Le Pen, na França, em 2017, quando ela teve quase 34% dos votos no segundo turno em que Emmanuel Macron saiu vitorioso, e os 12% de votos recebidos pelo Alternativa para a Alemanha, partido de extrema direita que conquistou 94 cadeiras no Parlamento.
O jornalista Tonico Ferreira destacou que a ascensão de projetos populistas se tornou mais clara com o passar do tempo. “A democracia estava sendo desafiada por populistas de extrema direita que queriam destruí-la por dentro, mas isso não era tão claro há cinco anos. Agora, todo mundo sabe”, disse o jornalista, com vasta experiência em coberturas internacionais.
Para o cientista político Sérgio Fausto, o motivo pelo qual o mundo não se deu conta das ameaças é que elas ganharam força em um espaço “difuso” da internet. “Por que não nos demos conta? Essas ameaças vieram de um mundo difuso, apareciam na internet, nas mídias sociais. Houve um fenômeno internacional, mas que era visto como ‘um bando de loucos’. Acabou ganhando dimensões que a gente não imaginava”, disse.
Apesar de as redes terem agilizado a transmissão de informações, nem sempre essas informações têm fonte confiável ou foram checadas e contextualizadas, destacou Lourival. “Com o otimismo da informação imediata, acabou vindo também muita desinformação. Diferentemente do jornalismo, que vai no lado racional, o funcionamento das redes é pelo lado emocional, para obter engajamento. E as emoções que mais mobilizam são medo e raiva. Por isso, as teorias conspiratórias têm ganhado força na política”, disse o colunista do Estadão.
Para Tonico, um dos principais riscos ligados à ascensão de projetos populistas é a falta de compromisso com o desenvolvimento dos países em detrimento de um projeto de manutenção de poder. “O populismo não discute programas, economia, soluções, mas sim pessoas, carisma. O populista não tem compromisso com a verdade”, afirmou o jornalista. O livro O Estado da democracia: 100 colunas no Estadão está disponível no site da Amazon (amazon.com.br) nas versões impressa e Kindle.