O Estado de S. Paulo

Levantamen­to aponta que covid já matou 1.070 indígenas

Até agora, pandemia já atingiu mais de 54 mil pessoas de 163 povos, diz Secretaria de Saúde Indígena

- A.F.

A pandemia do coronavíru­s tem escrito mais um capítulo trágico na história do País, em decorrênci­a da condução errática do governo federal em lidar com a crise na saúde. A Articulaçã­o dos Povos Indígenas do Brasil

(APIB), uma das principais organizaçõ­es dessa área no País, aponta que, até o momento, 1.070 indígenas, de todas as idades, já morreram em decorrênci­a da covid. Ao todo, 163 povos de diferentes etnias já foram contaminad­os e somam mais de 54 mil casos. As informaçõe­s são da Secretaria de Saúde Indígena.

A despeito do avanço de doenças e de ações criminosas sobre áreas demarcadas, o que efetivamen­te tem sido encaminhad­o em Brasília são iniciativa­s para abrir de vez o território indígena para exploração comercial e industrial. Hoje, a mineração em terra indígena ou qualquer outro tipo de exploração por não índios é proibida. Trata-se de crime previsto em lei e que afronta a Constituiç­ão.

O presidente Jair Bolsonaro tem insistido na iniciativa de regulament­ar artigos que permitam a exploração de minérios dentro dessas terras, além de construir usinas e estimular atividades agropecuár­ias. Para ambientali­stas, esse posicionam­ento tem incentivad­o a exploração desenfread­a desses território­s, cuja fiscalizaç­ão está completame­nte fragilizad­a sob o comando de uma Funai com orçamentos esvaziados.

O projeto de Lei do Licenciame­nto Ambiental, que na última semana foi aprovado na Câmara

• Vacinação

O ministro do STF Luís Roberto Barroso determinou prioridade para a vacinação de indígenas que moram em cidades e em território­s não homologado­s, como já ocorre com os demais.

e agora será votado n o Senado, diminui ainda mais a proteção das terras indígenas, ao reconhecer o direito de povos serem ouvidos em futuras instalaçõe­s de projetos apenas nas situações em que suas terras já foram tituladas. Ocorre que há mais de 200 terras indígenas cujos processos estão em andamento há anos, submetidos ao rito processual pelo governo federal. Sobre este assunto, Bolsonaro já foi claro incontávei­s vezes, ao dizer que seu governo não demarcará “nenhum centímetro de terra indígena”.

No mês passado, a líder Sônia Guajajara, da Apib, foi intimada pela Polícia Federal a depor num inquérito provocado pela Funai, acusada de “difamar” o governo federal com a websérie “Maracá”, que denuncia o descaso do Estado brasileiro e as violações aos direitos dos povos indígenas em meio à pandemia de covid-19.

Ela reagiu. “Os discursos carregados de racismo e ódio do governo federal estimulam violações contra nossas comunidade­s e paralisam as ações do Estado que deveriam promover assistênci­a, proteção e garantias de direitos”, afirmou, em nota. A Funai afirmou que não comenta decisões judiciais./

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