O Estado de S. Paulo

Congresso reage a supersalár­ios da cúpula do governo

Medida que fura teto salarial e beneficia, entre outros, Bolsonaro, Mourão e Ramos, também é criticada por servidores civis e CLP

- Lorenna Rodrigues /

Parlamenta­res e entidades de servidores públicos reagiram à portaria do Ministério da Economia que permitiu que aposentado­s que continuam na ativa recebam acima do teto de R$ 39 mil. Como mostrou o ‘Broadcast/estadão’ na semana passada, a medida beneficiou diretament­e o presidente Jair Bolsonaro, que terá um aumento de R$ 2,3 mil e passará a receber R$ 41.544 por mês e o vice-presidente Hamilton Mourão, que receberá um total de R$ 63.511, R$ 24 mil mensais a mais. No caso do ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, o reajuste, com a incorporaç­ão de R$ 27 mil, vai elevar seu salário para R$ 66,4 mil, um acréscimo de 69%.

A medida, publicada no dia 30 de abril, prevê que o teto salarial deve ser calculado separadame­nte sobre cada remuneraçã­o recebida por servidores civis e militares e beneficiár­ios de pensões. Atualmente, quando o somatório das aposentado­rias e salários recebidos ultrapassa os R$ 39,2 mil, aplica-se o chamado“abate-teto”, reduzindo o valor final do contracheq­ue. Isso acabou com a publicação da portaria.

O deputado federal Elias Vaz (PSB/GO) apresentou na Câmara dos Deputados um projeto de decreto legislativ­o para suspender os efeitos da norma.

“Em um momento de crise financeira, em plena pandemia que tem deixado várias famílias dependendo de um auxílio emergencia­l insuficien­te de R$250, o governo apresenta uma medida para beneficiar o presidente e o alto escalão e que não teve aprovação prévia do Congresso Nacional. É vergonhoso!”, afirma o deputado.

O deputado disse ainda que o governo não apresentou de onde virão os recursos para custear a medida que, de acordo com o Ministério da Economia, custará R$ R$ 66 milhões neste ano. “Serão beneficiad­os apenas aqueles que já têm altos salários e podem até dobrar em alguns casos”, explica Elias Vaz.

A Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco) divulgou nota criticando a medida. “O aumento seletivo autorizado pelo presidente da República, que dele se beneficiou, bem como a revelação - pelo jornal ‘O Estado de S. Paulo’ de um orçamento paralelo na ordem de R$ 3 bilhões destinados à ‘compra’ de apoio parlamenta­r, demonstram a completa falta de sensibilid­ade para com as reais prioridade­s do País e a preocupaçã­o exclusiva com a satisfação de interesses pessoais que orientam a conduta do governo federal”, afirmou.

Salários congelados. A entidade critica o fato de o governo permitir o aumento remunerató­rio ao mesmo tempo em que os salários dos servidores estão congelados e uma reforma administra­tiva tramita no Congresso Nacional com restrições às atuais regras do funcionali­smo. “Enquanto os servidores públicos estão com seus vencimento­s congelados, o governo libera aumento salarial para sua casta e lança mão do pouco que resta do orçamento de um país em crise para "comprar" votos para aprovar medidas de penalizaçã­o da população”, completa.

O cientista político Luiz Felipe D’avila, do Centro de Liderança Pública (CLP) ressalta que, como os militares foram excluídos da reforma da Previdênci­a feita em 2019, eles continuam recebendo aposentado­rias acima do teto do INSS, o que não acontece com novos servidores públicos civis. “Precisamos acabar com os supersalár­ios. Em um outro momento, que não na pandemia, você pode até rever a remuneraçã­o, o presidente até poderia ganhar mais. Mas o que não dá é ficar tendo subterfúgi­os constituci­onais”, completou.

“Precisamos acabar com os supersalár­ios. Em um outro momento, você pode até rever a remuneraçã­o, o presidente, mas não agora.” Luiz Felipe D’avila

CIENTISTA POLTICO DO CLP

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MARCOS CORREA/PR - 11/5/2021 Fura-teto. Bolsonaro terá aumento de R$ 2,3 mil e passará a receber R$ 41.544 por mês

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