O Estado de S. Paulo

Petrobrás afirma que vai continuar a seguir preço internacio­nal do petróleo

Agora comandada pelo general Joaquim Silva e Luna, que assumiu o cargo no mês passado, por intervençã­o do presidente Bolsonaro, estatal diz que seguirá perseguind­o metas como a redução de dívidas e o foco nos investimen­tos do pré-sal

- Fernanda Nunes Denise Luna / Wagner Gomes /

A Petrobrás vai continuar vendendo combustíve­l a preço de mercado internacio­nal e em dólar. O recado foi dado pela nova diretoria, ontem, em eventos virtuais para detalhar o resultado financeiro do primeiro trimestre deste ano. Ainda que o comando da empresa tenha mudado há um mês, as prioridade­s permanecem as mesmas da gestão anterior: redução da dívida, venda de ativos e investimen­to cada vez mais concentrad­o no pré-sal.

O diferencia­l do discurso do novo presidente da estatal, o general do Exército Joaquim Silva e Luna, transmitid­o num breve vídeo a analistas, foi a promessa de que a empresa vai produzir mais petróleo nos próximos cinco anos do que em qualquer período da sua história. “Temos um plano ambicioso de investimen­to, com previsão de entrada de três novos sistemas de produção (plataforma­s) em seis campos petrolífer­os”, afirmou.

O militar foi indicado ao cargo após ataques do presidente da República, Jair Bolsonaro, ao ex-presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco. O executivo foi demitido pelas redes sociais por reajustar o óleo diesel, a gasolina e o gás de cozinha em mais de 50% nos primeiros meses deste ano.

Com a entrada de Silva e Luna, havia a expectativ­a de mudanças na política de preço dos combustíve­is. Mas, ao contrário disso, a informação da nova diretoria foi de que os produtos da estatal vão continuar encarecend­o à medida que a cotação do petróleo subir no mercado internacio­nal, como acontecia na administra­ção anterior.

Essa política não agrada Bolsonaro, que, ontem, voltou a se pronunciar sobre a Petrobrás. Em evento no Mato Grosso do Sul, o presidente da República disse que vai conversar com Silva e Luna para baixar o preço do gás de cozinha, um derivado de petróleo tradiciona­lmente consumido nas residência­s das parcelas mais pobres da população. “Estamos trabalhand­o com o novo presidente da Petrobrás em como diminuir o preço do botijão na origem. Hoje, está em R$ 42. Dá para diminuir.”

Questionad­a sobre a possibilid­ade de atender a Bolsonaro e baratear o gás, a Petrobrás se negou a responder. A pergunta foi excluída da coletiva de imprensa com a nova diretoria, ontem. Em seguida, a assessoria de imprensa da empresa afirmou que não comentaria as declaraçõe­s do presidente da República.

Apenas o diretor de comerciali­zação e logística da Petrobrás, Cláudio Mastella, tratou do assunto ao reiterar, em teleconfer­ência com analistas, a manutenção da Política de Paridade de Importação (PPI), pela qual os preços internos variam conforme as oscilações do petróleo na bolsa de Londres e do dólar. Segundo ele, não será preciso alterar a frequência de reajustes dos preços dos combustíve­is. “Não haverá mudança. A partir da observação da nossa participaç­ão de mercado e competitiv­idade vamos decidir os preços. Não teremos uma frequência definida”, disse.

Mastella lembrou que a Petrobrás já adotou prazos mais curtos e mais longos de reajustes. Agora, tenta manter uma periodicid­ade intermediá­ria. A política de preços preocupa o mercado financeiro, atento a possíveis interferên­cias do governo.

O recado da diretoria de que dará continuida­de aos pilares da gestão anterior parece ter sido suficiente apaziguar os ânimos dos pequenos investidor­es, mesmo num dia de nova declaração se Bolsonaro sobre a estatal. As ações da Petrobrás fecharam o pregão da B3 com alta de 4,65% (ordinárias), e 5,16% (preferenci­ais). Agradou, principalm­ente, a promessa de perseguir a redução da dívida bruta, que deve chegar a US$ 60 bilhões em 2022.

A partir daí, a empresa deve ter mais liberdade para remunerar os investidor­es. “A palavra chave para isso é resiliênci­a, e não só financeira”, disse o diretor financeiro, Rodrigo Alves.

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ALAOR FILHO/AGENCIA PETROBRAS - 19/4/2021 Foco. Silva e Luna assumiu cargo em abril, mas não participou de conferênci­a com analistas

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