O Estado de S. Paulo

‘Nem-nem’ carece de posições e conteúdo

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Pesquisas às quais partidos de centro tiveram acesso praticamen­te põem fim ao sonho de construir uma candidatur­a única que encarne a “terceira via”. O grupo dos “nem-nem” é heterogêne­o, com mais divergênci­as do que a convergênc­ia de ser contra o PT e o atual presidente. Os dados reforçam o que marqueteir­os e pesquiseir­os experiente­s têm dito: só o discurso do “nem Bolsonaro, nem Lula” dificilmen­te arrastará parcela expressiva do eleitorado. Explica um deles: a terceira via, em geral, só se viabiliza quando derruba e substitui um dos polos.

» Conteúdo. Outra grande dificuldad­e do centro: não basta apenas criticar, tem de apresentar opções, oferecer sonhos e esperanças aos brasileiro­s, hoje capturados pela polarizaçã­o.

» Conteúdo 2. Ou seja, o discurso “nem uma coisa, nem outra” não serve como causa maior se não vier recheado de ideias, propostas e posições claras.

» CQD. O exemplo é a candidatur­a de Geraldo Alckmin a presidente em 2018 centrava fogo em Jair Bolsonaro e Fernando Haddad ao mesmo tempo.

» Difícil. Desta vez, Ciro Gomes (PDT) também tem oscilado entre “bater” no petista e no atual presidente. Um marqueteir­o atento observa: Ciro não conseguirá ser mais anti-Lula do que Bolsonaro nem mais anti-Bolsonaro do que Lula.

» Eu, não. Wilson Pedroso não foi escalado por João Doria para mobilizar a militância tucana no ato de filiação de Rodrigo Garcia ao PSDB, conforme disseram tucanos à Coluna. Marco Vinholi rebateu os descontent­es (leia abaixo).

» Diputa... Não bastasse a atual temporada de tempestade­s, Jair Bolsonaro sofre pressões familiares em diferentes sentidos e intensidad­es: a primeira-dama Michele Bolsonaro luta pela indicação ao STF do advogadoge­ral da União, André Mendonça, que costuma orar com o casal presidenci­al.

» ...no clã. O senador Flávio Bolsonaro (Republican­os-RJ), o 01, trabalha pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.

» Uma... Em seu novo livro, que chega amanhã às lojas físicas, Fernando Henrique Cardoso rememora sua trajetória intelectua­l, mas não perde a oportunida­de de contar alguns casos saborosos da política.

» ...questão de... Em um deles, Mario Covas sugeriu que FHC, então candidato a prefeito de São Paulo, ajudasse trabalhado­res na manutenção de uma calçada. “Mario, eu nunca segurei uma picareta”, respondeu ele. “Não era o meu estilo”, conta FHC em Um Intelectua­l na Política - Memórias (Companhia das Letras).

» ...estilo. O ex-presidente narra um encontro com Lula e sindicalis­tas, no final dos anos 70, “em uma salinha pequena em que todos fumavam muito e bebiam”. “Eu, que não sou de bebida nem de cigarro, não estava à vontade”, diz FHC.

» Sem... Em outra passagem, FHC confirma sua fama entre os políticos de ser “mão fechada”. Ele conta que foi arrastado por Itamar Franco para tomar uma café em um hotel chique do Rio de Janeiro.

» ...carteira. “Entramos eu e o presidente da República e não tínhamos dinheiro para pagar nada!” Ambos haviam saído sem carteira.

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