O Estado de S. Paulo

Com a pandemia, divergênci­as chegam à categoria médica

‘Kit covid’ opõe entidades; entre caminhonei­ros e ruralistas, também não existe mais consenso sobre Jair Bolsonaro

- / P.V. e P.R.

Na categoria dos médicos, o tratamento precoce – que prevê o uso de medicament­os sem eficácia comprovada para a covid-19 – opõe a Associação Médica Brasileira (AMB) ao Conselho Federal de Medicina (CFM). A primeira recomenda banir o “kit covid”; a segunda defende a autonomia do médico para receitar hidroxiclo­roquina e azitromici­na diante da falta de alternativ­as terapêutic­as contra o novo coronavíru­s. O CFM autorizou as prescriçõe­s em parecer emitido em abril do ano passado, quando ainda não havia evidências sobre a ineficácia das drogas. Atualmente, porém, estudos demonstram que elas não reduzem o risco de agravament­o da doença e podem ter efeitos colaterais graves.

Já o posicionam­ento da AMB foi adotado a partir de janeiro, quando o médico ginecologi­sta César Eduardo Fernandes assumiu a instituiçã­o. Contrário ao tratamento precoce – defendido pelo presidente Jair Bolsonaro –, Fernandes foi eleito com mais de 60% dos votos.

“Acreditamo­s que a autonomia do médico deve ter limites, de acordo com a ciência”, afirmou o ginecologi­sta, acrescenta­ndo que não pretende transforma­r a divergênci­a em uma crise institucio­nal. “Vivemos um momento em que mesmo às opiniões institucio­nais são emprestada­s conotações políticopa­rtidárias. Não é nosso caso. É simplesmen­te o direito de pensar diferente”, disse Fernandes. “Eu adoraria dizer que temos um tratamento precoce que é eficaz. Não somos contra o tratamento precoce. Nós não temos um tratamento precoce, lamentavel­mente.”

Divisão. Uma das bases bolsonaris­tas mais fortes, o agronegóci­o também está dividido. Entidades de produtores organizara­m ontem atos de apoio a Bolsonaro, contra o Supremo Tribunal Federal e pelo fim das medidas de isolamento adotadas por governador­es e prefeitos. As manifestaç­ões tiveram entre os articulado­res a Associação Brasileira dos Produtores de Soja, a Associação Nacional de Defesa dos Agricultor­es, Pecuarista­s e Produtores da Terra e a Associação dos Cafeiculto­res do Brasil. A Associação Brasileira do Agronegóci­o, no entanto, se opôs ao movimento.

Outro setor que acolheu as bandeiras de Bolsonaro, mas que agora vê parte da categoria distante do presidente é o dos caminhonei­ros. O presidente da Federação dos Caminhonei­ros de São Paulo, Claudinei Pelegrini, mantém discurso alinhado ao Planalto e é crítico ao governador João Doria (PSDB).

Esse alinhament­o, porém, não é mais consenso. No início do ano, a Associação Brasileira de Caminhonei­ros anunciou uma greve no País, por causa da alta no preço do combustíve­l. Na época, a Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotore­s questionou: “Onde está a palavra do presidente da República?”

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AMB AMB. ‘Não temos tratamento precoce’, afirma Fernandes

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