Nunes diz que segue orientações de Covas
Prefeito em exercício mantém agenda; tucano continua internado com quadro ‘irreversível’
O prefeito em exercício da capital, Ricardo Nunes (MDB), se emocionou ontem ao falar sobre o quadro de saúde do prefeito Bruno Covas (PSDB), considerado irreversível pelos médicos, e afirmou que a “melhor maneira de homenageá-lo é continuar a cuidar da população”, seguindo as orientações do tucano.
Visualmente abalado e cercado pelos secretários com quem tem mais proximidade, Nunes participou da abertura do “Dia D da Vacinação contra a Influenza”, na zona sul da capital. Durante o evento, ele disse por que não cogitou cancelar o evento.
“Eu acho que a melhor homenagem que a gente pode fazer ao prefeito Bruno Covas é continuar cuidando da população, que é o que ele sempre nos orientou, o que ele sempre cobrou da gente, mesmo agora na internação, que a cidade não parasse, que cuidasse das pessoas”, afirmou o emedebista. “A equipe tem seguido e continuará seguindo as orientações do prefeito”, continuou, ao lado de Edson Aparecido (secretário da Saúde) e Fernando Padula (secretário de Educação).
Após um ano e meio lutando contra um câncer agressivo, Covas, de 41 anos, teve uma piora e seu quadro de saúde foi considerado irreversível na noite de anteontem pela equipe do Hospital Sírio-Libanês, onde o tucano está internado há 14 dias.
Aos jornalistas, Nunes disse que manteve contato com Covas nos últimos dias e que fez uma visita a ele na quinta-feira. Outros políticos, como o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também estiveram com o prefeito na semana passada, quando o tucano demonstrou disposição até para participar das costuras partidárias que proporcionaram a filiação do vice-governador, Rodrigo Garcia, ao PSDB. Ex-DEM, Garcia mostrou sua ficha de filiação a Covas em seu quarto de hospital, com direito a foto postada nas redes sociais.
“Esse ano completa 30 anos que eu conheço o Bruno. E tenho certeza de que ele ficaria muito bravo com a gente se a gente cancelasse essa agenda”, afirmou o secretário de Educação. O tom do chefe da Saúde foi o mesmo. “A melhor homenagem que a gente pode fazer para o Bruno é trabalhar, cuidar
• ‘População’ “Eu acho que a melhor homenagem que a gente pode fazer ao prefeito Bruno Covas é continuar cuidando da população, que é o que ele sempre nos orientou, o que ele sempre cobrou da gente.” Ricardo Nunes (MDB) PREFEITO EM EXERCÍCIO
da população da cidade, que reconheceu seu trabalho na pandemia. O Bruno enfrentou a pandemia, enfrentou a doença, enfrentou a campanha eleitoral de cabeça erguida.”
De acordo com a nota assinada pela equipe médica, Covas segue recebendo medicamentos analgésicos e sedativos. Está cercado por parentes e amigos, e de seu filho Tomás, de 15 anos. “O quadro clínico é considerado irreversível pela equipe”, informou o boletim divulgado na noite de anteontem.
‘Referência’. Ao longo do dia de ontem, a movimentação em frente ao hospital foi pequena. Na parte da manhã, amigos mais próximos apenas passaram pelo Sírio-Libanês para confortar a família. Presidente municipal do PSDB, Fernando Alfredo disse que Covas é uma “referência no PSDB” e um “ídolo para ele”. Segundo o dirigente, o prefeito estava “confortável” por causa dos sedativos.
Nunes, os secretários municipais Alê Youssef (Cultura) e Ricardo Tripoli (Casa Civil), além de Gustavo Pires (secretário executivo do prefeito), também estiveram com parentes de Covas, como o pai dele, Pedro Lopes. Eles não falaram com a imprensa.
O tucano está licenciado do cargo desde o dia 2, quando foi internado. Logo no dia seguinte, durante a realização de um exame para descobrir a causa de uma anemia, os médicos identificaram um sangramento e o levaram para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), intubado. Após melhora, o prefeito foi extubado e transferido para um quarto, onde foi liberado para voltar a tratar o câncer. Desta vez, no entanto, por causa do quadro debilitado, a opção se deu pela realização de sessões de radioterapia, consideradas menos agressivas.
Tratamento. Estratégias alternadas de tratamento foram comuns desde a descoberta do câncer, em outubro de 2019. Naquela época, exames que vinham sendo realizados para investigar o surgimento de uma trombose apontaram a existência de três tumores – um no fígado, um na cárdia (a transição entre o estômago e o esôfago) e outro nos gânglios linfáticos.
Os médicos atacaram a doença com imunoterapia e quimioterapia, e dois dos três tumores desapareceram.
Ao longo de 2020, com o sucesso do tratamento, Covas pôde tocar seu projeto de reeleição e, mesmo com a pandemia, fez campanha na rua e participar de debates e entrevistas presenciais ou online.
Em meados do ano passado, o tucano ainda contraiu a covid-19, mas não sofreu consequências graves da doença. Para não ter de deixar de trabalhar durante o período de isolamento social, chegou a morar de forma provisória na sede da Prefeitura.
Após a vitória em segundo turno e a posse, exames identificaram um novo tumor no fígado, e Covas retornou à quimioterapia em fevereiro. Entretanto, durante esta nova etapa do tratamento, a doença se mostrou mais agressiva, se espalhando para mais pontos do fígado e alcançando também os ossos.