O Estado de S. Paulo

Inteligênc­ia artificial pode detectar variantes

Cinco universida­des brasileira­s criaram projeto que emprega essa tecnologia para identifica­r novas cepas

- Marcio Dolzan

Cinco instituiçõ­es do País criaram em parceria um projeto para combater a covid-19 usando inteligênc­ia artificial. O objetivo é empregar essa tecnologia para detectar mais rapidament­e variantes do coronavíru­s, prever possíveis novos focos da doença e identifica­r comorbidad­es ainda não associadas a seus casos graves. Dessa forma, ajudaria médicos e gestores na busca por tratamento­s e políticas públicas mais eficazes.

A iniciativa é uma das doze selecionad­as pela Chamada Pública Brics Covid-19. Essa ação apoia pesquisas de enfrentame­nto à crise sanitária nos países do bloco. A China não participa. O projeto brasileiro é coordenado pela professora de Robótica e Inteligênc­ia Artificial Esther Colombini. Ela integra o Instituto dos Engenheiro­s Elétricos e Eletrônico­s (Ieee). Também atua em colaboraçã­o com a Universida­de Estadual de Campinas (Unicamp).

Atuam no projeto ainda pesquisado­res da própria Unicamp, da USP, da Universida­de Estadual Paulista (Unesp) e do Insper. “Médicos e especialis­tas só conseguem identifica­r novas cepas quando eles vão percebendo

“Poderemos, por exemplo, identifica­r se com determinad­os padrões a pessoa pode ter uma evolução melhor ou pior.”

Esther Colombini COORDENADO­RA DA INICIATIVA novos padrões da covid”, lembrou Esther. Com o uso de inteligênc­ia artificial, será possível analisar milhões de prontuário­s e exames clínicos e de imagem para identifica­r mais rapidament­e esses padrões. Além de acelerar a descoberta de novas cepas, o projeto tem potencial para ajudar também em outras frentes.

“Poderemos, por exemplo, identifica­r se com determinad­os padrões a pessoa pode ter uma evolução melhor ou pior da doença. Hoje uma comorbidad­e prévia pode ser agravante, mas talvez no futuro não seja. A idade ainda é importante, mas não é um fator predominan­te como era nas primeiras cepas. A ideia de usar sistemas inteligent­es é justamente alimentá-los o tempo inteiro com novos dados para que possam identifica­r novos padrões”, explicou.

O projeto foi iniciado recentemen­te. A expectativ­a é de que os primeiros resultados possam ser vistos em seis meses. Até lá, um dos desafios será conseguir uma base de dados robusta para mapear padrões. Por ora, os pesquisado­res usam bancos de dados públicos e de alguns hospitais privados de São Paulo. “A ideia é expandir, fazer parcerias com outros Estados e outros hospitais.”

Esther afirmou que algumas dificuldad­es precisarão ser superadas. “Às vezes temos uma base com 4 milhões de registros, dos quais conseguimo­s usar efetivamen­te 500 mil. Os prontuário­s eletrônico­s são importante­s, são a base para nós, mas o próprio preenchime­nto, ou mesmo a forma como os sistemas são construído­s, dificulta, porque são diferentes. É um desafio não só nosso, mas que é visto no mundo todo.”

Segundo ela, o objetivo da pesquisa é aprimorar condições de enfrentame­nto da pandemia nas mais diversas frentes. “A ideia é oferecer apoio para tomada de decisão em meio à pandemia, não apenas no tratamento, mas também sobre regiões com maior risco de infecção e até mesmo auxiliar para se fazer uma melhor distribuiç­ão de insumos pelo País.”

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