Remuneração associada a desempenho gera estresse
Processos que atrelam a remuneração ao desempenho dos funcionários – e que são adotados por diferentes setores da economia, do mercado financeiro às universidade – são alavancas para jornadas de trabalho exaustivas e burnouts, diz Fernando Gastal de Castro, professor de psicologia na UFRJ com doutorado sobre burnout.
Segundo Castro, esses métodos tornam o trabalhador “escravo” das metas e exacerbam o senso de urgência. “Tudo vira para ontem. É uma sobrecarga brutal e, se você não atinge a meta, é excluído do sistema.”
Castro destaca que tanto os casos de burnout como a adoção de sistemas de meta se intensificaram concomitantemente nos últimos 30 anos. “O burnout é símbolo da irracionalidade que o mundo tem se tornado e abala setores da sociedade cada vez maiores.”
Para o pesquisador, o trabalho remoto, amplamente adotado durante a pandemia, torna a situação dos funcionários ainda mais precária. “Temos um incremento do conflito entre vida pessoal e trabalho. Essa mistura torna o home office mais um elemento de sobrecarga.” Castro destaca ainda que, com o home office, a lógica social desaparece do trabalho. O tempo produtivo pode se tornar maior, mas o de vida é prejudicado.
Presidente da International Stress Management Association (associação internacional que combate o estresse) no Brasil, a psicóloga Ana Maria Rossi afirma que, especificamente no setor financeiro, o estresse pode ser maior do que em outras áreas por causa da falta de previsibilidade. “É um segmento que requer planejamento grande – as pessoas estão lidando com os recursos dos outros e vão ser cobradas por isso – em uma sociedade extremamente instável. Essa falta de previsibilidade cria um estresse adicional.”
Ana Maria, porém, diz que não necessariamente o número de horas trabalhadas por dia vai significar mais estresse. “Tem gente que ama o que faz e não se importa de passar horas no escritório. O problema é quando a pessoa é pressionada por gestores a trabalhar além do horário”, diz. “Muitos se veem forçados a trabalhar mais por medo de demissão ou de ser considerado aquele que não veste a camisa da empresa.”